Duas frentes contra Bolsonaro, por Ricardo Cappelli

É uma Frente eleitoral? Claro que não. Participar dela significa se submeter aos ditames de alguns de seus integrantes? Afirmar isso é uma grande bobagem. É fugir da disputa.

Duas frentes contra Bolsonaro

por Ricardo Cappelli

O Movimento Direitos Já! fez um histórico ato virtual suprapartidário no último dia 26 de junho. Apenas três dias depois, a OAB lançou uma campanha pela democracia, assinada por setenta entidades da sociedade civil.
É pouco provável que tantos atores importantes estejam se mobilizando em torno de uma causa fictícia. A democracia está ou não ameaçada?
A Frente Democrática já provou sua importância quando impediu a transferência de Lula para Tremembé. Está unida na defesa do jornalismo, vítima cotidiana de agressões. Impediu que o Planalto indicasse “Reitores biônicos” para as universidades federais durante a pandemia.
Foi ela que derrotou Guedes e impôs o auxilio emergencial de 600 reais por três meses. O caos econômico e social é o que desejam as milícias bolsonaristas.
É uma Frente eleitoral? Claro que não. Participar dela significa se submeter aos ditames de alguns de seus integrantes? Afirmar isso é uma grande bobagem. É fugir da disputa.
Muitos atores, descolados da lógica da disputa partidária, militam pela democracia. Vamos deixar que fiquem sob a influência exclusiva dos liberais? Seria um grande equívoco
As críticas mais ácidas à construção ampla partem dos que se agarram ao “congelamento da derrota” sofrida no impeachment de Dilma. Por essa visão míope, o Brasil estaria dividido entre golpistas neoliberais e “não golpistas portadores de uma moral superior”.
Votaram contra a saída de Dilma o PT, o PDT, o PCdoB e o PSOL.  Apenas 136 votos. Vamos ficar chamando todos os outros de traidores da pátria e vagabundos? Num eventual segundo turno em 2022, vamos pedir o apoio deles contra Bolsonaro?
Por este raciocínio, o PSB estaria excluído até da Frente de Esquerda. O PDT e o PT estão em guerra.  Considerando que o PSOL não participa nem da “Frente PT-PCdoB” Brasil Popular, quem sobraria?
Só pode conversar com os liberais se eles aderirem ao impeachment? Existem 19 pedidos no Congresso, por que não andam? É uma baita ilusão achar que a esquerda vai conseguir algo sozinha. A disputa real é dura, não é uma competição de bravura.
Além de inconsequente, este discurso não é razoável. Quem fez do banqueiro Henrique Meireles presidente do BC? Quem nomeou o “Chicago Boy” Joaquim Levy ministro da Fazenda? Dialogar com liberal agora é crime? É preciso ter um mínimo de respeito pela memória das pessoas.
Todos os partidos e ex-presidentes da República foram convidados para o ato virtual.  Não é possível usar o espantalho da “tentativa de isolamento”. Seria mais honesto assumir o isolamento como uma estratégia política. É legítima, apesar de equivocada.
É um grave erro comparar a conjuntura atual com a dos anos 80, defendendo a recusa do “novo colégio eleitoral”. Sem entrar no mérito da decisão, vivíamos naquela época um momento de abertura e ascensão da luta democrática. A Constituição Cidadã é produto disto.  É o mesmo ambiente e a mesma correlação de forças de hoje?
A condenação de Lula é um absurdo. Bolsonaro vai indicar dois ministros para o STF. A situação vai melhorar? A melhor forma de reverter este quadro é ganhando as próximas eleições.  Seria bom revisitar o conceito de hegemonia. Exigirá menos fígado e mais frieza.
Frente Ampla ou Frente de Esquerda? As duas, concomitantes. Uma para barrar o autoritarismo e ampliar nosso diálogo com a sociedade. A outra para garantir um programa que recoloque o país no rumo do desenvolvimento com justiça social.
Redação

5 Comentários

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  1. Achei ótimo ter saído esse manifesto. Mas acho também que o PT deve continuar propondo o impeachment e que Lula e Dilma, se é que foram mesmo convidados, não deveriam ter participado. Isso é parte da disputa que o articulista fala. Isso quer dizer que não se pode fazer alianças adiante ou mesmo agora? Claro que não. Quer dizer apenas que o PT quer a saída de Bolsonaro e que quer “puxar” uma saída mais democrática. E isso, de uma forma ou de outra, significa reverter o golpe de 2016. não para voltar ao passado, mas para n˜ão permitir que ele continue (Lula ainda condenado e o PT criminalizado).
    Querer, desde já, não demandar o impeachment de Bolsonaro ou a anulação das eleições de 2018, fazendo o paralelo com a luta pelo fim da ditadura, é como ir direto para o colégio eleitoral sem ter feito a campanha pelas Diretas Já!.

  2. Que maravilha as conquistas dessa frente.
    Conseguiu que o presidente Lula não fosse transferido para Tremembé.
    Quem conseguiu isso,meu caro,foi o direito do presidente Lula e,se houvesse frente,ele não teria sido preso. Simples assim.
    Assim,respondendo a sua pergunta, todos os votos dados ao impeachment fraudulento da presidenta Dilma foram sim de traidores da pátria e de vagabundos. Foram os responsáveis diretos pela situação atual.
    Podem mudar de lado? Podem. Mas antes precisam pedir desculpas ao presidente Lula, a presidenta Dilma e,sobretudo, ao povo brasileiro.
    A democracia pode não ser um valor absoluto mas,mesmo no sentido mais amplo que se possa dar,essa gente não se enquadra como democrata.

  3. O “histórico ato” ao qual Capelli se refere foi, na verdade, um grande desfile de vaidades, sem substância programática alguma. A única coisa em comum entre os oradores ali presentes era a defesa de uma abstrata “democracia”.

    Vamos nos lembrar aqui de um fato. Quando a democracia é defendida em abstrato, na verdade trata-se de um biombo para pretensões antidemocráticas. Dessa forma, o golpe de 64 foi dado “em nome da democracia”, o Afeganistão e o Iraque foram invadidos “em nome da democracia”, a Líbia foi destroçada “em nome da democracia” e, claro, não nos esqueçamos que Juan Guaidó é um exímio “democrata”.

    Posto isso, no que consiste toda essa pantomima? Sejamos sucintos: o que está em marcha é a operação política de estabilizar o regime golpista do golpe de 2016, excluindo Lula e o que importa do PT e fagocitando a esquerda para alavancar os políticos falidos da direita tradicional.

    Ricardo Capelli se presta à propaganda dessa operação política no seio da esquerda. Vergonha infinita desse quinta-coluna! Abaixo a “Frente Ampla” e seus propagandistas. A saída para o Brasil não é “por cima e pela direita”. Para ter significado positivo para nosso povo, deve ser “por baixo e pela esquerda”.

  4. Putz! Esse Ricardo Cappelli é PSDB roxo e golpista de carteirinha. Não tem vergonha na cara, como o FHC, Serra, Aécio, Aluísio, Tasso, Ciro… O podre do Brasil.

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