E se o próximo for você?, por Cristiane Alves

 
 
E se o próximo for você?, por Cristiane Alves
 
Vejo pessoas que se julgam tão próximas de Deus ironizando a luta de uma vida como se as vidas pudessem ser “seletivizadas”. Será tão incompreensível que o humano em cada um não possa ser quantificável?
 
Não temos o direito de lutar por apenas uns, só os que nos representam, os que nos alegram, os que achamos bonitos, só os nossos, os de Deus. Como pode alguém ser tão insensível a ponto de ir ali, no epicentro da tristeza de tantos (gente que sangra, chora, sente dor) e “rir”. 
 
Rir do extermínio. Era só um militante, só um socialista, só um preto, só uma mina, só um crente, só um louco, só um drogado, só um gay, só um branco, só um fascista, só um nordestino, só um lixo! Era só o diferente. 

 
Só que somos todos diferentes, o que nos iguala é nossa humanidade. E ainda tem os que lutam pela fração humana em cada um de nós. 
 
Um dia talvez seja eu, a negra, a feminista, a que fala demais. Amanhã poderá ser você, o branco, pobre, o calado, o isento. Poderá ser meu filho por olhar pra esse ou aquele, por um erro de interpretação, por um desinfetante, por ser estrábico. E poderá ser o seu, por tantos outros motivos. 
 
Direitos humanos não é para bandido, é para HUMANO. É exigir que a vida seja respeitada, que o trabalho seja humanamente possível, que a esperança não seja só para alguns. Que a lei seja o parâmetro, não a vontade. 
 
Que o pobre tenha voz e não preço. Que o rico tenha voz não o seu dinheiro. Que o humano tenha voz, não sua religião. Que o humano não tenha origem. 
 
Que o humano se veja no “e se por acaso fosse eu?”, “e se alguém me pegasse há alguns anos?”, “e se dissessem que foi meu filho?”, “e se eu não tivesse meus pais pra me sustentar até tal idade?”. E se o próximo for você?
 
Cristiane Alves

5 Comentários

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    1. Ou Zé. Que porra vosmecê

      Ou Zé. Que porra vosmecê costuma denominar como Elite Esquerdopata? Seria o pessoal oriundo do partidão, por suposto?

      Obrigado

      Orlando

  1. Não é e se o próximo for

    Não é e se o próximo for você? Já somos nós. A destruição das instituições que, por objetivos políticos e cobiça,  iniciou-se com o mensalão, aprofundou-se na Lava Jato e precipitou-se de vez no golpe matou Marielle e nos está matando aos poucos de angústia. O Brasil hoje é um país sem leis, é uma terra devastada onde pode-se executar uma representante política com a certeza da impunidade e da manipulação da Justiça que não mais segue um código de leis, mas objetivos pessoais de policiais, procuradores e juizes. 

    No mesmo dia em que Marielle foi morta por denunciar violência policial contra pobres e negros de favelas os juizes faziam greve por um salário base de 50 mil reais. Esses juizes nunca fiscalizaram as prisões de condenados por portarem 20, 30 gramas de maconha ou porque roubaram celulares e tênis e onde corpos são amontoados e quando em excesso lhes são cortadas as cabeças. Esses juizes nunca andaram nas ruas das periferias para sentir o abandono e a falta de perspectiva de um futuro de famílias que tem como salário 1 mil reais para sobreviverem..

    As estruturas básicas que mantém um Estado em funcionamento estão destruidas nesse país e nós, que temos família e sensibilidade, morremos um pouco a cada dia.

    Estamos morrendo junto com Marielle e só temos uma satisfação: os que causaram essa morte carregarão para sempre a cicatriz do que fizeram. Os lemans e setubals representando a elite financeira do país sempre serão vistos em paises civilizados como oriundos de um país brutal e selvagem. O mesmo ocorrerá com os vaidosos juizes e procuradores e com jornalistas e seus donos da mídia brasileira.

    As mulheres do Brasil estão hoje de cabeça baixa. Alcançamos altos cargos do poder com a presidenta do STF e a procuradora geral da república, mas que pela indiferença mostrada com a morte de Marielle não são mulheres, são ocupantes do poder alinhadas com a violência e o arbítrio. E a violência e o arbítrio não são características do feminino. Feminino é se identificar com a dor do outro, é ser solidário, é ter amor pela humanidade. Como Marielle tinha.

     

  2. Não é uma morte como outra qualquer!

    Mataram meu vizinho num assalto. Morreu um ser humano.

    Assassinam Martin Luther King. Morreu um ser humano. Mas, ao matá-lo, tentaram matar também os ideais da igualdade, liberdade e fraternidade que Martin Luther King vocalizava.

    Quem matou Luther King tentou matar não o indivíduo Luther King, mas valores imateriais que constituem o fundamento de uma civilização tolerável.

    Não era só um assassino. Era um inimigo do gênero humano.

    Meu vizinho, como ser humano, vale tanto quanto Martin Luther King – ou o sem-teto craqueiro que mora na minha rua.

    Mas o assassinato a serviço da escravidão, da servidão, da dominação, do racismo, é mais que a morte de um ser humano. É um crime contra a Humanidade, contra o fundamento simbólico do laço social.

    Faz toda a diferença!

     

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