Entregue seu destino a um ditador e você terá guerra, por Arnaldo Cardoso

Outros analistas, acreditam que Putin vai parar na Ucrânia e depois sentar-se à mesa de negociações.

Entregue seu destino a um ditador e você terá guerra

por Arnaldo Cardoso

Embora nas três últimas décadas, ou seja, no pós Guerra Fria, a Europa tenha assistido e/ou participado, direta ou indiretamente, de várias guerras em seu entorno (Oriente Médio, África e Ásia) a invasão e bombardeios de um território europeu por uma força militar estatal desafiante está produzindo uma sucessão de quebras de padrões de conduta política e exigido das lideranças políticas das nações que formam o continente a assertividade através de ações que superem históricas contradições entre a defesa de princípios e a realidade da política de poder.

O exercício retórico e dissimulado de Vladimir Putin falando de “desnazificação da Ucrânia” tem produzido o efeito contrário na maior parte da opinião pública ocidental, sendo demonstração disto a avalanche de imagens de um Hitler-Putin em cartazes empunhados por manifestantes nas ruas de cidades pelo mundo e nas infovias da internet.

O experiente especialista em geopolítica e estrategista Andrea Margelletti , presidente do Centro CeSI de Estudos Internacionais de Roma, rejeita dissimulações e diz que as coisas devem ser chamadas pelo seu nome “porque isso é invasão e é guerra, se alguém entra no território de outro armado e lança mísseis, não há  outra definição”. (Isso deve servir também retrospectivamente, acrescento eu).

Margelletti, que foi Conselheiro Estratégico do Ministro da Defesa italiano de março de 2012 a maio de 2018 e membro da Comissão Consultiva da Comissão Internacional de Não Proliferação e Desarmamento Nuclear, posto diante da hipótese de uma 3ª Guerra Mundial está entre os que consideram que uma guerra aberta entre a OTAN e a Rússia é possível porque o avanço de Putin não está destinado a parar na Ucrânia. O especialista italiano explica: “Putin disse querer “reconstruir uma área pós-Yalta”, dando uma desculpa histórica ao dizer que a Rússia sempre foi esses territórios”. Margelletti não descarta que os próximos alvos de Putin sejam os países bálticos que são membros da OTAN.

Outros analistas, acreditam que Putin vai parar na Ucrânia e depois sentar-se à mesa de negociações.

O cientista político canadense Thomas Homer-Dixon que é professor e diretor executivo do Cascade Institute da Royal Roads University e autor de livros como “Commanding Hope: The Power We Have to Renew a World in Peril” (2020), postou ontem em seu Twitter a seguinte mensagem:

Let’s be clear about what we’re doing here. We’re backing a paranoid man, who’s holding a gun to our chest and already thinks we’re out to kill him, into a corner. It’s possible to be morally right on every action and utterly stupid in the consequence.

Homer-Dixon no começo do ano desencadeou um vivo debate em mídias sociais após a publicação no “The Globe and Mail” do artigo “The American polity is cracked, and might collapse. Canada must prepare” onde analisa a situação crítica da democracia norte-americana (e perda de capacidade de liderança internacional) em função da expansão e radicalização da extrema-direita no país durante os anos do governo Trump. O analista ainda alertou sobre a possibilidade da volta de Trump à Casa Branca após um fracasso do governo Joe Biden. (No primeiro ano do governo Biden a desastrada retirada de tropas do Afeganistão foi um duro golpe à imagem da política externa do novo governo americano. Até o momento, a conduta dos EUA na guerra na Ucrânia não tem dado sinais de uma performance muito melhor  dos EUA).

Sobre os questionamentos acerca de uma 3ª Guerra Mundial, Homer-Dixon retoma a argumentação de que “não devemos descartar as possibilidades apenas porque parecem absurdas ou horríveis demais para imaginar. Em 2014, a sugestão de que Donald Trump se tornaria presidente também teria parecido a quase todos um absurdo. Mas hoje vivemos em um mundo onde o absurdo regularmente se torna real e o horrível lugar-comum”.

Em uma troca de mensagens ontem com o professor canadense, que me disse estar finalizando um artigo sobre a guerra na Ucrânia, ele acrescentou considerações a partir de outro post seu no Twitter, com um recado irônico aos trompistas e condenação aos populistas e extremistas de direita:

Putin is democracy’s best friend. After fawning over him for years, the authoritarian right is running for cover in France, Brazil, Germany, UK, Italy, and the US. Hand your fate to a dictator, and you get war. Take note, Trumpists.

Nesta manhã, com imagens de Kiev bombardeada, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky falou por videoconferência ao Parlamento Europeu e foi aplaudido de pé por longos minutos por todos os presentes, em explícito sinal de apoio.

Apesar da hipocrisia já ter sido apontada como traço caracterizador da política internacional, a acelerada e violenta evolução dos acontecimentos na Ucrânia parece ter a força de impor uma mudança de rumos.

A cada hora dessa guerra um rei parece posto em xeque, mas a partida só termina com o xeque-mate.

Arnaldo Cardoso, cientista político formado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), escritor e professor universitário.

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN

Redação

1 Comentário

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  1. Difícil encontrar alguém tão desinformado como o autor desse texto. Tanta citação para no fundo ser apenas non sense, falta de informação.

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