Armando Coelho Neto
Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.
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Facada na segurança de quem tenta se promover em nome dela, por Armando Coelho Neto

Facada na  segurança de quem tenta se promover em nome dela

por Armando Rodrigues Coelho Neto

O candidato Coiso foi esfaqueado em Juiz de Fora/MG, esbravejava o locutor de um programa de TV, dedicado à violência. O aparelho de televisão estava num saguão de espera de um estacionamento. Donos de carros e manobristas congelaram diante da telinha. Como não vi a faca, não vi sangue e os atores são suspeitos, minha conclusão foi tão açodada quanto a de muita gente: isso é uma farsa. De pronto lembrei da bolinha de papel atirada na cabeça de José Serra na eleição de 2006, rapidamente dramatizada e glamourizada pela TV Globo, fato que rendeu horinhas a mais de propaganda política para o tucano, do mesmo modo que se beneficiou com sua pretensa violação de sigilo fiscal “pelo PT”.

Como estava convicto da farsa, a paranóia entrou em ação. Lembrei que a dita grande imprensa negligenciou a morte de 154 passageiros num avião da Gol, para priorizar a divulgação de fotos de dinheiro vazadas por um delegado federal nas eleições de 2006. Assim, o que seria uma facada “fake”? Também em ano eleitoral, um avião caiu e matou Eduardo Campos e a candidata Blablarina Silva foi lá fazer selfie em Recife/PE. Um museu pegou fogo esse ano e abafou a contradição do ministro Fachim. O que tudo isso significaria diante de  uma facada de falsete? Então, imaginei que João Grilo logo iria tocar a flauta e o grande amigo Chicó o faria ressuscitar (Auto da Compadecida, Ariano Suassuna). Mas, parecia ser verdade, tão verdadeiro quanto o 7 x 1 da Alemanha contra o Brasil na Copa de 2014. Quem iria por em dúvida que o Brasil levou sete gols?

Quem assistiu ou leu O Assassino Econômico tem razões de sobra para acreditar em teorias da conspiração. Na obra há incontáveis relatos de mutretas contra povos e a falta de escrúpulos, ética ou apreço pela humanidade não tem limite. Portanto, me sinto à vontade para ligar meu desconfiômetro, até que João Grilo toque sua flautinha. Sei que uma grande farsa exigiria um grande número de pessoas, mas uma pequena farsa certamente exigiria um grupo menor. Nesse sentido, minha paranóia me endereça para uma pequena farsa que saiu do controle. Algo teria ocorrido fora do quadrado ou do combinado. O que seria apenas um susto midiático virou escorregão e um ferimento-quase-ferimento ou arranhão, acidentalmente virou um drama maior, tão fora de controle quanto um 7 x 1 da Alemanha contra o Brasil.

Como surgiram muitas teorias da conspiração, resolvi também contar a minha, ainda que eu mesmo relute em nela acreditar. Além disso, o discurso maior sobre a ameaça à democracia se tornou impositiva seja por parte da mídia bolsopata, seja por parte de candidatos, seja pelas mentes civilizadas em geral. Afinal de contas, com ou sem teoria de conspiração, o fato é que, apesar da ausência de sangue e outros detalhes, doutoralmente justificados (sem contestação), tudo leva a crer que o candidato Coiso acabou sendo ferido de verdade. Junto com ele, a democracia já violentada pelo golpe do supremo. Alerta  vermelho!

A versão oficial da facada no Coiso autoriza a concluir num atentado à democracia, e que Bispo tentou matar Messias, ainda que um bispo não tenha tentado matar um Messias em sentido bíblico. Na vida real, é como dizia vovó: quem com muitas pedras mexe uma lhe cai à cabeça. O Coiso desejou a morte de Dilma Rousseff, calou sobre o assassinato de Marielle Franco, ironizou o atentado à Caravana do Lula, a violência contra o acampamento Marisa Letícia e, dias atrás, no Acre, ele sugeriu metralhar petistas. A agressividade de muitos de seus apoiadores revela pouco apreço à democracia e o candidato parece mesmo aglutinar em torno de si gente muito raivosa, de forma que com algum acerto dizem que ele colheu o que plantou.

Mas… Houve a facada. Foi um louco? Qual a diferença entre uma facada dada por um louco, lobo solitário ou crime político, quando o tema é segurança? A Polícia Federal se estapeia pra fazer segurança de candidato, em especial dos melhores colocados nas pesquisas. Proteger políticos rende dividendos e mais cedo ou tarde, abre caminhos e eu conheço bem essas tramóias. Além disso, qualquer candidato, além da segurança oficial que compete à PF, tem sua própria segurança, apoiadores, etc.. No caso do candidato Coiso, o que não falta é policial sabujo de todas as esferas querendo estar ao seu lado.

Manuais primários de segurança sempre costumam alertar quanto ao amadorismo vigente nessa área, muitas vezes marcada pela improvisação. É comum o simples recrutamento de policiais da ativa ou aposentados, seja militares civis estaduais ou federais e até guardas municipais. São escolhidos como quem compra cavalos mediante simples observação dos dentes. Na base do olhômetro, o recrutador aceita voluntários e se encanta com os marombados, habilidades de tiro e defesa pessoal, mas sem conhecimento específico. Tudo muito elementar para uma tema que exige dedicação, planejamento, profissionalismo, especialização, dedicação, estudo e constante treinamento. Segurança, no caso específico, é, acima de tudo, prevenção, é trabalhar com cenários absurdos e improváveis. É preciso, inclusive, contar com o apoio do segurado (alvo). No caso, o apoio do Coiso.

Deixo de lado a questão elementar: a quem interessa o crime? O Coiso que dispunha de 8 segundos de propaganda, passou a ter horário gratuito extra. Segurança? Melancólico para um candidato, que tenta se promover em cima do medo e tenta vender segurança, mas não consegue proteger a si próprio e seus seguranças que deram prova de incompetência. Tão real quanto ao 7 x 1 e a facada. Junto com o fracasso da segurança do coiso, fracassa a idéia da sociedade armada. O louco da facada é tão doente quanto muitos dos seguidores do Coiso, que não hesitariam no exercício de suas próprias razões. Tão doente quanto a democracia que só é vista sob ameaça quando quem representa a ameaça a verdadeira ameaça é ameaçado. Isso não é um jogo de palavras.

A democracia está em coma, mas a faca passa bem obrigado e respira sem aparelhos. De outro giro, a segurança falhou feio, sobretudo para quem levanta a bandeira da proteção e da segurança. Típico de quem está há quase três décadas na política, vive num dos estados mais inseguros do país e até hoje não apresentou um projeto que justifique sua verborragia demagógica. Falha de segurança e vergonha. Muito simbólico para uma democracia absolutamente insegura. Enquanto um candidato à Presidência está hospitalizado, por conta de uma facada, o preferido do povo tem sido esfaqueado pelo Supremo Tribunal Federal seus direitos fundamentais.

Armando Rodrigues Coelho Neto – jornalista e advogado, delegado aposentado da Polícia Federal, e ex-representante da Interpol em São Paulo

 

Armando Coelho Neto

Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.

13 Comentários

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  1. Eu sou o chato de galocha que

    Eu sou o chato de galocha que procura dissonâncias, mesmo num post muito bem escrito e elucidativo como este. Então la vai: “Democracia em coma”, “atentado a Democracia”. Bobagens ! Como é que uma coisa (feminino, não confundir com coiso)  inexistente pode estar em coma ? Como pode haver atentado a algo hipotético ? Há não muito tempo o nome do atual regime era um tanto confuso por estar camuflado. Neste final de semana “Dona Solange”, na definição de Fernando Brito, e um representante do Gorilismo, segundo Gilberto Maringoni, se encarregaram do nos esclarecer. E nada mais digo nem que seja perguntado, em boca fechada não entra mosquito e dela não sai confissão.

  2. Mais do mesmo,

    Do país onde juizes condenam só pela suas convicções, onde o cala boca já morreu dos supremos é ressucitado pelo mesmo para calar a voz da esperança para desesperados, onde o guardião decreta suspeição da eleição antes da mesma ser realizada, onde se rasga leis maiores. Não vejo o Brasil voltar a sorrir. 

  3. Juiz de Fora… o nome
    Juiz de Fora… o nome da cidade onde ocorreu a fakeada combina muito com a atual situação do país de ditadura do judiciário (de fora?).

  4. Juiz de Fora… o nome
    Juiz de Fora… o nome da cidade onde ocorreu a fakeada combina muito com a atual situação do país de ditadura do judiciário (de fora?).

  5. O ódio cansa, o ódio esgota

    O candidato que condensa tudo o que ainda há de mal, toda barbárie que ainda subsiste na sociedade brasileira, é antes de tudo um fraco. Bem diferente do sertanejo preso em Curitiba.

    O frouxo bateu continência pra bandeira de outro país, evacua pela boca a cada vez que precisa falar em público, além de ter um medo doentio de mulheres.

    Pelo jeito, o general Moro Grande já ejetou o pé de bode da campanha e dá todas as pistas que, se eleito, irá governar no lugar do cabrito. Isso tudo cansa.

     

     

    1. A Máscara do Mal

      A Máscara Do Mal

      Em minha parede há uma escultura de madeira japonesa
      Máscara de um demônio mau, coberta de esmalte dourado.
      Compreensivo observo
      As veias dilatadas da fronte, indicando
      Como é cansativo ser mal

       

      Bertolt Brecht

  6. #mostraacicatrizbozoflato

    Já tem muita gente duvidando de que este atentado foi rela. Há quem creia que seja tudo uma enorme encenação.

    Outros creem que houve sim um atentado, mas depois foi profundamente exagerada a gravidade dele pra provocar comoção e poder coinidentemente livrar o bozoflato de ter que participar de debates.

    Sou a favor que se pressiona por todas as mídias este hashtag, pra perssioná-lo a mostra a dita cuja cicatriz da facada e da cirurgia complexa posterior. Do contrário,l passarei a té eu a duvidar que realmente houve atentado.

    #mostraacicatrizbozoflato

  7. Renato Almeida Freitas Jr.,

    Renato Almeida Freitas Jr., candidato do PT a deputado estadual no Paraná, jovem negro, foi baleado duas vezes no começo da noite desse domingo pela Guarda Muncipal de Curitiba durante panfletagem na Praça do Gaúcho – levou tiros de bala deborracha à queima-roupa em uma das mãos e nas costas. Mesmo ferido, foi preso.  Mesmo muito ferido, usou seu celular dentro do camburão em que era trasnportado pelos policiais, e postou, ao vivo, em sua página no Facebook, às 19p1 de ontem.

    Renato é advogado criminalista, e já foi candidato a vereador pelo PSOL. Foi internado no hospital de Cajuru pra depois ser encaminhado ao para o 1º Distrito, no Centro da Cidade. 

    Dr. Rosinha declarou-se contra esa truculência, porque não houve motivo para tal. O jvem-homem estava panfletando. Semelhante caso se deu no dia 07 p.p., quando por motivo idênco pessoas foram levadas à delegacia.

    É impressionante, e muito comovente, assistir ao vídeo de Renato, mostrando a mão, chorando, e dizendo que não fez nada. Sentindo muita dor, ele, sem poder mostrar, diz também que tem outra bala nas costas. Vê-se a mão dele sangrando com  um inchaço onde a bala foi retida.

    Pelo visto, nem precisa o STF cassar o PT. Os guardas, e policiais podem fazer esse serviço, impedindo qualquer tipo d emanifestação, fazendo vítimas Brasil afora, até não ter mais nenhum capaz de sair às ruas. 

  8. Detalhe intrigante

    Armando: Belo texto, mas você não abordou um DETALHE INTRIGANTE, talvez por desconhecimento. 

    Mas eu vi e ouvi. Na mesma noite do atentado ou agressão, um dos advogados do agressor, constituído em tempo recorde, não se sabe até agora por quem, disse na televisão, por volta das 8 da noite, que o agressor declarou que o golpe no Coiso não era para matar, era apenas para ferir, imagino eu, levemente.

    Isto corrobora a tese de que se tratava de uma farsa, semelhante à bolinha de papel em Serra. Só que era necessário dar maior credibilidade à farsa. Era necessário um ferimento leve com a extração de sangue. Alguma arranhão no braço do Coiso seria o suficiente para causar o estrago na intenção de votos dos opositores.

    Daí o provável afrouxamento da segurança. Não que o pessoal da segurança soubesse o que aconteceria. O agressor é que sabia do nível da qualidade da segurança como você mesmo apontou. 

    Pronto para a ação, no último instante para desfechar o golpe, alguém inadvertidamente o empurra e o braço do agressor vai fundo no corpo do Coiso.

    Merda total, não. Para o Coiso foi péssimo, considerando-se a suposta gravidade do ferimento. Para a campanha do Coiso foi ótimo.

    Eu acredito, pasme, que é possível que o Coiso não soubesse.

    Os estrategistas da tramóia, entretanto, não estão nem aí. Eles se beneficiarão  em qualquer hipótese, herdando o capital político do Coiso, caso ele não se recupere.

     

     

     

     

     

  9. considerações

    1) A PF aguarda o resultado do primeiro turno para dizer se o Adélio é eleitor de Lula ou de Ciro.

    2) Não será um juiz de fora quem expulsará são bernardo do campo.

    3) Em qualquer hipótese, a cobertura da Globo será tendenciosa. Tenderá para a direita.

  10. Impressionante a combinação de versões

    Neste texto destaco os seguintes trechos: 

    [ Mas… Houve a facada. Foi um louco? Qual a diferença entre uma facada dada por um louco, lobo solitário ou crime político, quando o tema é segurança?]

    [  Tão real quanto ao 7 x 1 e a facada. Junto com o fracasso da segurança do coiso, fracassa a idéia da sociedade armada. O louco da facada é tão doente quanto muitos dos seguidores do Coiso, que não hesitariam no exercício de suas próprias razões. Tão doente quanto a democracia que só é vista sob ameaça quando quem representa a ameaça a verdadeira ameaça é ameaçado.]

    Vejamos agora o que escreveu outro articulista deste GGN, Fernando Horta:

    [ Houve uma facada. O fato de não ter saído sangue no momento é bastante comum, já que o agressor apenas estocou a faca, não a mudou de direção. Provocou um pequeno corte e não uma laceração externa evidente. Os médicos e atendentes estavam sem luvas e com as máscaras fora do lugar porque a foto que circula do ex-capitão foi tomada no momento em que a equipe, tomada de surpresa, decidia o que fazer. Se não é o melhor procedimento médico, também não é suficiente para colocar em dúvida a gravidade da agressão.]

    Armando Coelho Neto é ex-delegado da PF e jornalista. Fernando Horta é historiador e candidato a deputado fedral pelo PF do DF.

    A pergunta que fica é: por que eles têm toda essa certeza de que houve uma facada no candidato nazifascista e não um “fakeada”? As manipulações, falsificações, farsas e fraudes, tanto nas imagens como nas narrativas construídas pelo PIG/PPV, pelos familiares e apoiadores do candidato nazifascista supostamente esfaqueado por um louco são primárias e grosseiras demais. Não é preciso ser policial ou perito para percebê-las. E por que a dita “blogosfera progesssista” insiste em emplacar a versão oficial dos golpistas? Há algo de muito podre nese reino d adinamarca.

     

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