Governo brasileiro: o chefe de família insensato, por Albertino Ribeiro

Esta semana, o PT e Rede Sustentabilidade protocolaram no STF uma ADIN (ação direta de inconstitucionalidade) contra o artigo 5 da PEC emergencial que permite ao governo retirar dinheiro dos fundos de desenvolvimento

Governo brasileiro: o chefe de família insensato

por Albertino Ribeiro

Sempre que os economistas do mercado ou simpatizantes do governo (o que dá no mesmo) explicam nos jornais televisivos o motivo pelo qual o governo não pode gastar mais do que arrecada, utilizam-se da metáfora comparando o orçamento público ao de uma família. “Um chefe de família responsável não gasta mais do que ele recebe; com o governo é a mesma coisa”. Com essa ladainha conseguem enganar aos incautos, mas passam o recibo de burrice ou de delinquência intelectual às pessoas mais bem informadas.

Eles seriam menos desonestos se comparassem as contas do governo, pelo menos, com as contas de uma empresa privada. Uma empresa, para realizar investimentos ou criar um novo produto, toma empréstimos. Se o investimento for de longo prazo, seu orçamento ficará deficitário até que consiga, com o tempo, recuperar o que investiu. Com o governo a situação é ainda mais complexa; e um assunto que não é tão simples e intuitivo, leitor.

São argumentos típicos de sofistas. Estes, na Grécia antiga, eram pagos para vencer uma guerra de retóricas mesmo que não acreditassem no que estavam falando; não tinham compromisso algum com a verdade. Depois de milênios, eles estão com outra roupagem (analistas) e agora são pagos pelo mercado.

Aproveitando essa linha de raciocínio, vamos utilizá-la contra os próprios autores. Se uma família tiver em dificuldade e o seu responsável for racional,  irá procurar seus credores e negociar os débitos em condições mais favoráveis, não é mesmo? Ademais, qual o chefe de família que em dificuldades abriria mão de receitas, como o governo acaba de fazer, perdoando uma dívida bilionária das Igrejas evangélicas?

Esta semana, o PT e Rede Sustentabilidade protocolaram no STF uma ADIN (ação direta de inconstitucionalidade) contra o artigo 5 da PEC emergencial que permite ao governo retirar dinheiro dos fundos de desenvolvimento (científico, segurança pública e cultura) para pagar dívidas. A soma dos valores dos fundos pode chegar a 200 bilhões de reais. Ou seja, quatro vezes e meia o valor que será gasto no auxílio emergencial (44 bi).

O governo é um credor magnânimo e ao mesmo tempo um devedor subserviente. Dito de outro modo, perdoa os seus grandes devedores, abrindo mão de receita, mas não negocia com seus credores para que estes façam o mesmo.

O interessante é que muitos dos devedores do governo federal também figuram na condição de credores da dívida pública. Como explicar essa esquizofrenia fiscal à população e ainda contar com o seu incondicional apoio?

Os filhos da “família” brasileira utilizada como metáfora para justificar a irracionalidade de um governo “Robin Hood às avessas” deveriam pedir a interdição desse pai de família insensato, que deixa de lado à saúde, a alimentação, a segurança e a educação para pagar dívidas e agradar os credores.

Albertino Ribeiro

Redação

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