Incel, o ataque terrorista em Toronto e o despreparo do homem hétero para lidar com o fracasso, por Mariana Nassif

FOTO: CARLO ALLEGRI/REUTERS

Incel, o ataque terrorista em Toronto e o despreparo do homem hétero para lidar com o fracasso

por Mariana Nassif

Quando recebi o link para a matéria, confesso, relutei em abrir pelo exclusivo motivo de estar cansada de ler pautas rasas sobre temas importantes e, mais ainda, porque acabo me frustrando com a quantidade de temas e assuntos que pipocam por aí e, mesmo sendo extremamente relevantes, acabam não “dando em nada”. De verdade, nem sequer virando assunto consistente na rotina – o que, aos meus olhos, é o que promove as clamadas mudanças, estas que a gente acaba insistindo que estão sob responsabilidade de terceiros.

O afastamento do Facebook, como que em treino para o período do longo preceito que está chegando (vem, Julho, vem!) também acaba distanciando um tanto sobre o que está acontecendo, mesmo que este “está acontecendo” seja virtual, efêmero e quase sempre surreal. A gente quase nunca checa a fonte antes de compartilhar, vai dizer que você faz diferente?

Não sei ao certo o porquê, abri. Logo nas primeiras palavras, me comprometi a escrever sobre, ainda surpresa muito mais com a forma que o artigo foi escrito do que com o conteúdo ali postado, este que, para sensíveis analíticos e diversos grupos feministas e humanistas, parece óbvio: a masculinidade branca hétero precisa ser urgentemente avaliada e obviamente transformada.

A matéria está aqui, e se trata de um universo que vai desde os atentados recentes em Toronto e a chegada de um termo até antes desconhecido pra mim, INCEL, mas que passa, em ampla observação, pela a rotina das mulheres no mundo de hoje (e de sempre, mas cada vez pior).

Meu viés terapêutico trouxe um primeiro pensamento que passou próximo à sensação de dó, de pena, uma sensação maternal que, claro, olha a armadilha e ainda não sei se estou sendo exagerada por aqui, devolve a responsabilidade pelo que está acontecendo à mulher, aqui na figura de mãe, aquela que é ampla, forte e diretamente relacionada aos princípios da educação dos filhos.

A mulher. Sempre ela: vítima, culpada, responsável. E não, não adianta falar que é mimimi, coisa de feminista ou feminazi – eu não vou perder meu português tentando me defender disso até porque acho que é parte da estratégia do machismo esse questionamento constante.

Só vou continuar escrevendo aqui porque estou chocada, inclusive no bom sentido, pela revista Nexo ter abordado estes temas congruentes em tão curto espaço de tempo, este tema que vem sendo amplamente ignorado pelo mundo e eu aqui, tentando de certa forma fazer a minha parte mesmo sabendo que tenho pouca voz, pouco alcance, pouco estudo e embasamento pra falar sobre o tema sob outro aspecto que não seja mais emocional e sensível mas, juro mesmo, não me importa. Coloco os links, informo o que acho válido sob meu prisma, meu compromisso é muito mais com as impressões e sensações do que com a notícia em si, acho que já ficou claro, não é mesmo?

Então venho aqui expor estes assuntos e pedir que multipliquem a investigação sobre estes contextos, sobre este movimento que é básico, natural e reincidente do machismo e que, pode perceber, desde sempre impactou a vida da mulher num âmbito mais íntimo, pessoal e velado (e eu quase vomito ao escrever isso, porque soa bizarro constatar que toda a violência que sofremos diariamente é considerada mimimi, feminismo ou feminzaismo) mas que, em pleno 2018, começa a pautar o terrorismo mundial.

Segundo a matéria relacionada ao ataque em Toronto, “O termo incel, referido por Minassian (suspeito de cometer o ataque), abrevia a expressão involuntariamente celibatário. Trata-se de uma comunidade virtual masculina que tem em comum a inabilidade de convencer mulheres a terem relações sexuais com eles, segundo define o site americano Vox.”

Se alguém considera que este único e simples fator não tenha relação com a abordagem de EricMadfis, na entrevista sobre o despreparo do homem heterossexual branco para lidar com as frustrações, olha, é melhor rever as cognições e correlações que andamos estabelecendo.

Finalizo (pelo menos por enquanto, acho que ainda terei mais o que compartilhar sobre isso, mesmo com palavras de terceiros…) com um aperto no peito e a certeza de que este texto aqui muito provavelmente não terá a relevância que eu gostaria que tivesse, quem sabe pela minha inabilidade jornalística e paixão pelo contar sensorial, quem sabe porque simplesmente o mundo está cheio de pessoas que elegem líderes e presidentes coerentes com o discurso de ódio, exclusão e miscigenação que, cada vez mais, estão claras e validadas, matando em público, em massa e debaixo de nossos desacreditados olhos.

Mariana A. Nassif

12 Comentários

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  1. (a traducao de “entitlement”

    (a traducao de “entitlement” eh “presuncao de merecimento” e nao “senso de merecimento”.  O item eh otmo!)

  2. Links demais a ler p/ a matéria fazer sentido…

    Vc podia, além de dar os links, dar um breve resumo de que eles tratam. O texto já está longo, e as pessoas dificilmente lerao isso tudo e mais os links. E sem eles a matéria fica incompreensível. 

    1. Infelizmente vou ter que concordar com a AnaLu!

      Li o texto e não compreendi nada, depois abri os links e pelo menos compreendi do que se tratava, porém continuo sem entender as críticas da autora, pois podem ser críticas aos textos ou críticas do que resultavam da compreensão destes textos. Precisaria ler mais uma vez tudo de novo, e depois se fosse fazer alguma crítica teria que ficar pipocando entre o texto acima escrito com as referências.

      Caberia um esclarecimento e um posicionamento mais claro.

       

  3. Eu, com bem mais idade e

    Eu, com bem mais idade e muito menos futuro pela frente, faço de suas palavras a seguir, as minhas:

    “e eu aqui, tentando de certa forma fazer a minha parte mesmo sabendo que tenho pouca voz, pouco alcance, pouco estudo e embasamento pra falar sobre o tema sob outro aspecto que não seja mais emocional e sensível mas, juro mesmo, não me importa.”,

    …e no momento, quase nenhum tempo para ler as matérias e outras leituras que gostaria.

  4. Olá, Mariana

    “Finalizo (…) com um aperto no peito e a certeza de que este texto aqui muito provavelmente não terá a relevância que eu gostaria que tivesse, quem sabe pela minha inabilidade jornalística e paixão pelo contar sensorial, quem sabe porque …”

    Seu texto está cada dia mais claro e expressando seus sentires. O exercício do pensar transformando-o em código escrito é que vai propiciar, cada vez mais, a sua clareza de discurso.

  5. Atentado em Toronto

    Eu estava em Toronto no dia do atentado.

    A verdade é que um fato importante não está sendo mencionado sobre o responsável pela tragédia: ele está diagnosticado dentro do espectro do Autismo.

    A razão da não divulgação desse fato me é desconhecida. Mas tenho fontes seguras de que essa informação procede.

  6. Atentado em Toronto

    Eu estava em Toronto no dia do atentado.

    A verdade é que um fato importante não está sendo mencionado sobre o responsável pela tragédia: ele está diagnosticado dentro do espectro do Autismo.

    A razão da não divulgação desse fato me é desconhecida. Mas tenho fontes seguras de que essa informação procede.

  7. Atentado em Toronto

    Eu estava em Toronto no dia do atentado.

    A verdade é que um fato importante não está sendo mencionado sobre o responsável pela tragédia: ele está diagnosticado dentro do espectro do Autismo.

    A razão da não divulgação desse fato me é desconhecida. Mas tenho fontes seguras de que essa informação procede.

    1. A não divulgação do autismo parece que tem motivos claros.

      Ou seja, para não estigmatizar pessoas com altismo que tem comportamentos bem variados para uma mesma denominação, não foi divulgado a doença, mas poderiam pelo menos divulgarem que o mesmo tinha problemas de forma genérica.

    2. Nada a ver

          Caso ele ja tivesse, há anos, diagnosticado em uma das variadas classificações do espectro autista de personalidade, em tese poderia ser a base desta conduta, mas a analise atual somaria outros aspectos mais relevantes, e sempre quando relativo a “autistas”, individualizar tanto a patologia como as ações, é fundamental : autistas não reagem ou atuam em grupos, ainda mais estruturados. 

  8. Quando é uma das corriqueiras

    Quando é uma das corriqueiras notícias de muçulmanos matando de forma organizada em nome da religião, esses jornais esquerdistas são os primeiros a atribuir o ato a um “extremismo isolado” e negar qualquer causalidade entre a religião e o ato. Aí um doente mental sai atirando sozinho, e de repente é um problema com “os homens héteros”.

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