Lincoln Project Brazilian Style, por Gunter Zibell

Alternância não é inexorável, mas muitas vezes desejável. Até nos países onde o governo é muito eficaz, muito eficiente e também popular. Como vimos mês passado na Alemanha. Tudo o que é bom pode melhorar. (Mas o que haveria de bom no Brasil atual?)

Lincoln Project Brazilian Style

por Gunter Zibell

Numa simplificação o Brasil se divide em duas grandes tribos: A ) os que são mais ou menos independentes do estado e B ) os que precisam (e muito) de melhores serviços públicos de saúde, educação e justiça.

O primeiro grupo é em torno de 20% da população brasileira e vive  geralmente em famílias com renda estável a partir de 5 SM. Em estados do Centro-Sul pode chegar a 30-40% da população.

O segundo grupo pode envolver diferentes graus de vulnerabilidade social, mas frequentemente algum se apresenta.

É claro que há todo um gradiente de intersecções, mas trata-se de uma simplificação. E isso influencia na política.

É compreensível que A ) prefira projetos políticos que garantam menos impostos ou alguma reconcentração de renda. A pouca proporção que defende projetos mais sociais é por consciência social, viés profissional e/ou interesse identitário. E a questão aqui é se o caminho para isso será democrático ou autocrático (o chamado i-liberalismo de direita).

Já B ), apesar de composto majoritariamente por pessoas em alguma situação de vulnerabilidade, é subdividido de um modo mais polarizado. Entre aqueles que acreditam que projetos políticos de centro-esquerda (trabalhistas ou social-democratas) poderão ser um caminho. E entre os (conservadores de baixa renda) que acreditam na narrativa de que precisa esperar o bolo crescer (ou outras mitologias como meritocracia, “defesa da família”, nacionalismo, lavajatismo, etc.)

Como não há modelo inequivocamente eficaz e eficiente, os dois lados são bombardeados por narrativas, tanto de promessas como de demonização. Se a população é desinformada ou não é controverso. Talvez no geral não seja, com uns 40% de cada lado sabendo o que esperar. No entanto há 20% de oscilantes e mais uns 10% que ora votam ora não.

A conclusão é que não dá certo mais um discurso de “para o bem do país”. Porque já não há mais 2 Brasis. Há pelo menos 6 ou 7 grandes grupos de pressão, com 7 a 30% dos votos cada. E com interesses frequentemente antagônicos.

Existem a) conservadores (que no limite podem defender reacionários se lhes convier); b) liberal-sociais; c) progressistas; d) alienados ou desinformados. Com as respectivas combinações com A ) e B ). ( +/- como tipos sanguíneos.)

No grupo A ) é incomum pessoas mudarem de opinião. Esse grupo frequentemente teve acesso a educação superior e tende a considerar que o que aprendeu já é o suficiente para se definir.

Já no grupo B ) há bastante transição entre Ba e Bb e entre Bb, Bc e Bd. É aqui que eleições são definidas e é onde partidos devem direcionar suas propostas.

Um exemplo: hoje vemos pessoas de classe média e afluentes +/- inconformadas com a possibilidade de volta do PT ao Executivo Federal.

Eu acredito que, no grau em que as questões sociais se agravaram no Brasil nos últimos 5 anos, um retorno ao passado (nominalmente mais progressista) se torna quase inevitável. E é algo que vimos em quase todo lugar (EUA 2008, Canadá 2015, México 2018, Perú 2021, etc)

Alternância não é inexorável, mas muitas vezes desejável. Até nos países onde o governo é muito eficaz, muito eficiente e também popular. Como vimos mês passado na Alemanha. Tudo o que é bom pode melhorar. (Mas o que haveria de bom no Brasil atual?)

Desse modo… Penso que está na hora do pessoal de 3ª via (Ab e Bb, principalmente) melhorarem seu projeto. Mesmo que haja razões para questionar partidos de centro-esquerda, poderá ser mais útil sair um pouco da zona de desconforto desse coro de descontentes e fazer algumas proposições construtivas.

Ou seja, além da crítica fácil ao PT, o que se pode oferecer para identitários, professores, artistas, ambientalistas, famílias de periferia, idosos que precisam de saúde, desempregados (ou precarizados) e jovens que precisam de educação? Por que, em resumo, alguém com renda familiar até 5 SM deveria votar na 3ª via?

Não acredito que haja tempo (e nem necessidade, diga-se) de mudar o desfecho provável na eleição federal para Presidente.

Mas dá para melhorar muita coisa em como será a oposição. Os anos 2003-2015 foram de uma oposição pela direita com muito ressentimento, muita narrativa de medo e muita desinformação.

Vamos fazer que 2023 em diante seja bem melhor!

Este texto não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN

Redação

1 Comentário

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  1. Os “liberais” não param de ameaçar a volta da guerra cultural e da campanha de desestabilização caso o Lula e o PT, PT, PT retornem ao poder. Nao sabem fazer outra coisa.

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