Lula está eleito, e daí?, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Tudo indica que a eleição de 2022 não será decidida pelo antipetismo e sim pelo antibolsonarismo.

Lula está eleito, e daí?

por Fábio de Oliveira Ribeiro

O resultado da eleição de 2018 foi, em grande medida, produzido pela onda de antipetismo criada pela Lava Jato e insuflada pela mídia com apoio dos especuladores financeiros. O Brasil foi politicamente desestabilizado até o mercado conseguir interromper injustamente o mandato de Dilma Rousseff. O vácuo político criado artificialmente sugou para o centro do palco uma erva daninha que crescia no esgoto do Congresso Nacional, um deputado agressivo que até então conhecido apenas por vocalizar crenças desumanas e valores antidemocráticos.

Durante 4 anos, Bolsonaro foi protegido pelo mercado financeiro e pelos jagunços dos Bancos no parlamento. A lucratividade dos Bancos aumentou, mas a economia real brasileira encolheu. As trapalhadas diplomáticas da familícia isolaram mais e mais nosso país. O apoio presidencial ao genocídio dos indígenas e ao ecocídio no Mato Grosso e na Amazônia comprometeu decisivamente a imagem externa do Brasil afetando negativamente as exportações.

Bolsonaro quer ficar no poder, mas ele não consegue se desgrudar do legado sócio-econômico maldito que ele mesmo criou. O preço dos combustíveis disparou, a inflação também. Vítima de um programa econômico elitista, excludente e concentrador de renda, uma imensa parcela da população brasileira empobreceu e se tornou vítima da fome. Lula está em condições de conquistar essa fatia do eleitorado e já conseguiu dividir os evangélicos.

Tudo indica que a eleição de 2022 não será decidida pelo antipetismo e sim pelo antibolsonarismo. Desesperado, o Führer bananeiro ameaça dar um golpe de estado. Mas ele não tem força suficiente para se impor e, pelo menos até a presente data, está com medo de provocar uma guerra civil cujo resultado será imprevisível.

Jornal GGN produzirá documentário sobre esquemas da ultradireita mundial e ameaça eleitoral. Saiba aqui como apoiar

Esse quadro tragicômico só fica completo quando pensamos nas Forças Armadas. Bolsonaro discursa como se fosse líder incontestável de todos militares da ativa, mas todos sabem que isso não é necessariamente verdade. O contexto interno e externo não é muito propício para uma quartelada. Assim, suponho que seria temerário tentar dar um golpe de estado com apoio de apenas policiais, milicianos e alguns militares terroristas.

No auge de sua popularidade, o Führer bananeiro preferiu não correr o risco de provocar uma ruptura violenta. Agora que está eleitoralmente derrotado, politicamente isolado e desesperado, Bolsonaro não tem condições de fazer muita coisa para ficar na presidência sem apoio da maioria da população. A vitória eleitoral dele é improvável.

Após eliminar qualquer possibilidade de terceira via ao se aproximar de Geraldo Alckmin, Lula está rapidamente devorando uma parcela da base eleitoral dos Bolsonaro. Na Câmara e no Senado a noite das longas facas já começou a ser encenada. A familícia já começou a ser traída por membros de sua instável base parlamentar. Centenas de deputados e senadores de centro e até de direita já estão deixando claro que preferem sobreviver politicamente com Lula do que se enterrar inutilmente com um líder em declínio sem chance de ser reeleito.

À medida que a eleição se aproxima, a visibilidade e a credibilidade do TSE tendem a aumentar. Os ataques contra o Judiciário perderam sua capacidade de mobilizar e de radicalizar a base eleitoral bolsonarista. As prisões de militantes e líderes políticos de extrema direita que desafiaram a autoridade do STF dissuadiram novas investidas contra o Judiciário. Não há nada que Bolsonaro possa fazer para garantir a impunidade dele e dos filhos dele depois das eleições.

O jogo político sofreu uma transformação significativa a partir de 2015. Outra transformação importante está ocorrendo nesse momento. Todavia, o estrago causado pelo pesadelo bolsonarista será duradouro. 

Quando tomar posse, Lula receberá um país estraçalhado com sua credibilidade externa fragilizada. Ele terá que lidar com militares imprestáveis que se tornaram membros de uma organização política autoritária e criminosa. O poder político dos Bancos e dos financistas aumentou demais, o da imprensa corporativa neoliberal não vai declinar. No Judiciário e no MP, o PT encontrará mais inimigos do que servidores públicos comprometidos com a preservação do sistema constitucional democrático criado em 1988.

Fábio de Oliveira Ribeiro, 22/11/1964, advogado desde 1990. Inimigo do fascismo e do fundamentalismo religioso. Defensor das causas perdidas. Estudioso incansável de tudo aquilo que nos transforma em seres realmente humanos.

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected].

Leia também:

Reflexões rousseaunianas sobre o lawfare, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Ilusão e ingenuidade, por Fábio de Oliveira Ribeiro

A nova condição humana, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Fábio de Oliveira Ribeiro

1 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Eu iria comentar que era Desonestidade Intelectual mas sei que é apenas auto-preservação da Cleptocracia. É preciso dar os parabéns. Este discurso, esta mediocridade somado ao Revisionismo Histórico e Paus de Arara, Cemitérios Clandestinos, Prisões Políticas, Assassinatos, Atentados Terroristas como de um Militante contra o Candidato Vencedor das últimas Eleições, desde Filinto Muller, produziu este Brasil destes 92 anos. Parabéns Cleptocracia Esquerdopata-Fascista. Parabéns pela vitória. Não podemos dizer que o Projeto de Poder algum dia não foi próspero em quase 1 século.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador