Lula que não muda, não muda a maré, por Ricardo Cappelli

No tal #Somos70%, pelo menos 30% é de lulistas. Nos 40% restantes, quem é a segunda força? Existe alguma unidade?

Lula que não muda, não muda a maré

por Ricardo Cappelli

Por que Lula está criticando os manifestos amplos contra o fascismo? Qual o motivo de insistir na demarcação de um campo, pagando o preço do isolamento? Ele não sabe o que faz?

Lula é candidato a presidente. É um direito seu. Legítimo. Desde a redemocratização, abriu mão apenas em 2014 para Dilma. Em 2022, livre e com o país em frangalhos, vai repetir a estratégia de 2018 emparedando o TSE.

Este projeto orienta as posições do PT.

No episódio do vazamento da “reunião dos palavrões”, o partido desmoralizou a narrativa de Moro. Bateu na tecla de que o ex-juiz não sabe o que são provas. Por que fez isso?

A forma de viabilizar o projeto é conseguir a absolvição de Lula no STF. Abalar a credibilidade de Moro é peça chave na estratégia. Taticamente, “Bolsonaro pode esperar”.

Outro elemento que aparece de forma subliminar é a visão de que existe uma superestimação da ameaça de autogolpe. A radicalização na frente do tablado nem sempre corresponde ao jogo que está sendo jogado atrás das cortinas. Uma máxima que vale para os dois lados.

A recusa à Frente Democrática faz parte do mesmo cálculo político. Qual a maior força do país? Torcidas à parte, existem Bolsonaro, Lula e os outros. No tal #Somos70%, pelo menos 30% é de lulistas. Nos 40% restantes, quem é a segunda força? Existe alguma unidade?

Dependendo do objetivo, não faz sentido o Barcelona jogar o Brasileirão. Não lhe acrescenta nada e ainda pode acabar arranhando sua imagem ao desagradar alguns torcedores.

As eleições municipais irão medir as forças novamente. A situação não é nada boa para os companheiros. Em SP e no Rio, com Jilmar Tatto e Benedita, o partido deverá ter o pior resultado desde a sua fundação.  Irrelevante diante da força pessoal do ex-presidente?

O PT é o maior partido do Brasil. Chegou ao poder vencendo quatro eleições nacionais consecutivas.  Uma verdadeira epopeia.  Mas ventos são ventos. E é justamente a mudança deles que torna a história tão interessante.

Se Nicolau II, o último Czar, tivesse aceitado perder poderes e instaurado uma verdadeira monarquia constitucional no Império Russo, teria perpetuado os 300 anos dos Romanov? Talvez. Quando se deu conta que os tempos haviam mudado e resolveu renunciar, já era tarde. Acabou fuzilado com sua família.

Cercado por Maomé II durante 53 dias, Constantino XI, o imperador Bizantino, tinha consciência de que a derrota era o desfecho mais provável. Recuar ou honrar o último suspiro da “Roma do Leste”? O emergente Império Otomano destroçou Constantinopla.

Impérios caem pela impossibilidade de parar o relógio dos acontecimentos, e pela incapacidade – mesmo tendo consciência da necessidade – dos líderes de fazerem manobras drásticas.

Na história, “cair de pé” costuma ser a escolha mais comum.

Redação

15 Comentários

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  1. Parece-me que o Capelli, umbilicalmente ligado ao Flávio Dino, está prestando um daqueles serviços que a história costuma definir como sujo. Seria importante que ele explicitasse suas razões escamoteadas, se é simplesmente uma adesão subalterna aos que se arvoram em senhores da política nacional (e que há pouco contribuíram´decisivamente para a vitória do JMB) ou se foram mais além e fecharam acordo com o Hulk.

  2. Livro: As duas mortes de PC Farias, por Luís Costa Pinto, Editora Best Seller, 1996.
    Página 71
    (…)
    A Comissão Parlamentar de Inquérito criada no Congresso para desmontar a rede de negociatas estendida por Paulo César Farias sob os olhos coniventes do amigo presidente, Fernando Collor, levou o nome de CPI do PC. Foi a mais EFICIENTE, COORDENADA E OBJETIVA comissão de inquérito já montada pelo Legislativo brasileiro. Formalmente os parlamentares não tinham poder para investigar o presidente da República, não se podia, a partir das denúncias de Pedro, estabelecer um elo direto entre Collor e PC. As formalidades jurídicas, entretanto, foram postas de lado em nome de uma BOA CAUSA – derrubar um presidente corrupto – e, pela primeira vez na história política do país, as oposições estavam unidas em torno de um objetivo comum: EJETAR da presidência o homem arrogante, inexperiente e faroleiro que se elegera presidente do Brasil em 1989, com 35 milhões de votos. (…)

  3. Acho que Lula tem razão, ninguém destes 70% fala nada sobre o golpe, se o PT como partido e Lula como maior liderança política do Brasil aderirem sem condições, verão no futuro estes espertalhões que colocaram o bozo no governo se darem de democratas e fortalecerem o tal de Centro, que é de direita.

    1. Não é só sobre o golpe que não se fala, Juarez. Esses manifestos e movimentos também não falam de dois assuntos essenciais, indispensáveis mesmo. Os trabalhadores e o patrimônio público. As raposas que estão em todos (siga o dinheiro que financia cada um, siga alguns nomes “escondidos” neles) querem tirar Bolsonaro. Mas preservando Paulo Guedes e a abominável política econômica de destruição do Estado e do que ainda resta de direitos trabalhistas. Como Lula e o PT iriam entrar nessa canoa? Nunca. E estou de pleno acordo.

  4. Engraçado com todos querem avaliar o presidente Lula,querem seu apoio etc e tal.Agora,quando o presidente Lula foi pisoteado pelos golpistas e seus lacaios do judiciário onde estavam?
    Verdade seja dita,alguns,após a prisão,até o visitaram en seu cárcere curitibano mas,antes,quando era importante,quem fez algum manifesto contra o fascismo? Ou mesmo a favor da democracia? do respeito aos direitos do presidente Lula?
    Agora querem que ele venha como um cordeirinho emprestar seu prestígio? O presidente Lula não cairá nunca. O presidente Lula é imortal,isso que essa gente não entendeu e,se sabem que ele pode influenciar pelo menos 30% do eleitorado,deviam,minimamente,ter mais respeito por ele.

  5. Acredito que existam duas estratégias: Reaver os diretiros políticos de Lula com o desgaste de Moro e deslegitimar toda destruição que tem sido feito no campo econômico e social.
    Lembrando que é possível combater Bolsonaro sem estar necessariamente ao lado dos antigos inimigos. O Nazismo foi derrotado por duas frentes. A Frente Oriental e a Ocidental.

  6. Esta análise é incorreta. A questão não é Lula, mas os trabalhadores. A onde se fala em trabalhador nesses manifestos? E nossos direitos perdidos? Lula deixa claro que a questão é o trabalhador. Já disse que não será candidato. Os mesmos que financiaram o golpe a Dilma que deu em Bolsonaro, agora querem todos juntos. Todos pela democracia sim, mas queremos nossos direitos de volta. Essa tática no Brasil é antiga, vamos mudar para permanecermos do mesmo jeito.

  7. “Impérios caem pela impossibilidade de parar o relógio dos acontecimentos, e pela incapacidade – mesmo tendo consciência da necessidade – dos líderes de fazerem manobras drásticas.”
    Eu entendi este artigo como um alerta. Capelli diz em alto e bom som que Lula tem uma estratégia suicida e que com o tempo colherá uma derrota fragorosa se não mudar de rumo. Em 2018, já foi traumático mas ainda sim conseguiu chegar ao segundo turno, o que adiou um pouco a derrota final porém deixou grandes cicatrizes. E que tudo leva a crer que em 2022 (será que vai ter mesmo eleição?) a derrota deve ser pior ainda.

  8. É muito “se”..…..o motivo não é simplesmente o que Lula disse? Se recusar a participar de mais um manifesto frankstein, infestado de golpistas e financiado por abutres do rentismo???

  9. Esta análise é incorreta. A questão não é Lula, mas os trabalhadores. A onde se fala em trabalhador nesses manifestos? E nossos direitos perdidos? Lula deixa claro que a questão é o trabalhador. Já disse que não será candidato. Os mesmos que financiaram o golpe a Dilma que deu em Bolsonaro, agora querem todos juntos. Todos pela democracia sim, mas queremos nossos direitos de volta. Essa tática no Brasil é antiga, vamos mudar para permanecermos do mesmo jeito.

  10. “Por que Lula está criticando os manifestos amplos contra o fascismo?” – Os manifestos em momento algum utilizam a palavra “fascismo”. De fato, são manifestos organizados pela turma do Jorge Lehmann e dos Setúbal. A burguesia financeira brasileira. Que o PC do B entre acriticamente nesse balaio com os artífices do bolsonarismo não me surpreende, uma vez que a UNE dirigida pelo articulista levou adiante uma política direitista e desmobilizadora em maio de 2019, recusando-se terminantemente a levantar o “Fora Bolsonaro”.

    O cérebro dessas pessoas é tão limitado que acham que o Lula faz uma consideração de cunho eleitoral, e não político. “Narciso acha feio o que não é espelho”. Ricardo Capelli, Flávio Dino, Fernando Haddad, Marcelo Freixo, todos eles não moveram um dedo sequer contra o fascismo. Quem vai enfrentar o fascismo é quem está indo às ruas, contra todas as adversidades (covid, repressão). Então, francamente, me poupem das chorumelas.

  11. Nassif: essa “provocação” do Ricardo pra cima do SapoBarbudo (pela óptica do José Giacomo) só vem comprovar que “as esquerdas só se reúnem na cadeia”. Tudo bem o Dino é um candidato de fibra, tanto pelo Partido como por seu histórico político. Mas sabe não tem peso pra suportar o baque do cargo que pleiteia. Coadjuvante de altíssimo quilate. Talvez até melhor que coronel Ciro (a metralhadora ambulante). Mas Pindorama não é a projeção do Maranhão (nem do Ceará). É muito maior que o próprio Nordeste. E aí é que o bicho pega. Desconheço os objetivos últimos do MelianteOperárioNordestino, que sabe política como poucos nesse (quase) País. Pode até está errado. Mas se não está endossando tais alianças é porque tem caroço no angú. Nem é burro, nem bobo, de arriscar o futuro político de seu Partido na aventura das “Alianças” com o grupo sionista do tal Hulk, ou as hordas esbravejantes de CaifásDoBras (e coligados). Ou mesmo com os sujos e safados do bando do PríncipeParisiense. As “útopias” do Dino podem ser românticas e comovedoras. Porém, pequenas demais, frente o ódio dos VerdeSauvas, a sanha inescrupulosa de grande parte dos empresários do sul e do sudeste, ao descaso das Elites (contra a povalha) e, sobretudo, a ganância dos banqueiros, do Mercado e das sandices (bem elaboradas) de GuéGué. Não fosse tentar desmerecer a imagem do expresidente, esse artigo do Ricardo seria uma beleza…

  12. Cansado de ouvir falar do Lula. Por um momento, pensei que Lula não fosse mais candidato para 2022.
    Deve ser pelo fato de, infelizmente, não se vote em um projeto, em um partido, mas em uma pessoa.
    Nesta forma, bolsonarismo e lulismo são uma mesma estrutura, cada uma expressando uma espécie de “síntese em uma pessoa só”.
    Talvez tenha sido este o erro colossal do Partido dos Trabalhadores.
    Não entrar neste “70%” pra valorizar o passe pode ser ótimo. Mas também é esperar levar pelos votos que podem ser que não virão. Mano Brown deu a dica mil vezes, ao falar da periferia.
    O Partido manteve-se na estratégia de coalizão que quebrou com o golpe contra o governo da Dilma.
    Mas vamos lá, 30% de bolsonaristas, 30% de petistas/ lulistas. Lula fora, o capital político do petismo será derrotado fragorosamente. E está claro que, numa eventual saída de Bolsonaro, o cenário é de rearranjo à direita.
    Bom, uma parte à esquerda, mais à extrema, ainda terá seu comportamento de quem espera o petismo definhar pra conseguir uns votos que não terão. Boulos é ótimo como militante, por exemplo, mas é ruim de voto.

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