Lulismo em xeque: sequestro ou resistência?, por Ricardo Cappelli

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Lulismo em xeque: sequestro ou resistência?
 
por Ricardo Cappelli 
 
A promessa de décimo terceiro salário para o Bolsa Família foi apenas jogada eleitoral? 
 
Na obra “Os Sentidos do Lulismo – Reforma Gradual e Pacto Conservador”, André Singer busca caracterizar e/ou problematizar a alteração ocorrida no espectro eleitoral brasileiro a partir de 2006, com o surgimento de um novo fenômeno: o “Lulismo”.
 
Segundo o autor, o Bolsa Família, a valorização do salário mínimo, a expansão e fortalecimento do crédito consignado e o Luz para Todos, dentre outras políticas, promoveram um deslocamento do subproletariado.
 
Luiz Inácio, alvejado pelo “Mensalão”, perdeu apoio na classe média urbana e foi reeleito tendo como fortaleza o voto deste fragmento de classe. Mas quem seria o subproletariado?

 
Na definição de Paul Singer, “são aqueles que oferecem sua força de trabalho no mercado sem encontrar quem esteja disposto a adquiri-la por um preço que assegure sua reprodução em condições normais.” “Trabalhadores destituídos de condições mínimas de participação na luta de classes”, desenvolve André.
 
Estão na base da pirâmide social, com baixa escolaridade e um grande nível de dependência do Estado ou de um “protetor”. Situam-se na resiliente faixa de até um salário mínimo que esteve com Haddad na maior parte da corrida eleitoral.
 
Com muita força no nordeste, foi historicamente base de sustentação do coronelismo. Votou em Collor e em FHC. Conservador, identificava na esquerda a desordem. “Necessitado” da ordem, do estado forte e da mão protetora, projetava no coronel sua possibilidade de redenção.
 
Lula rompe este círculo, reconfigura o eleitorado brasileiro e vai, aos poucos, redesenhando o PT e a esquerda brasileira. O Nordeste é transformado em bunker “vermelho”
 
O ex-presidente viu nesta movimentação de tropas um sentido estratégico. O governo eleito ficará apenas observando?
 
A crise fiscal, a grande renovação no Congresso, o custo-tempo da reorganização radical da máquina pública, a inexperiência do futuro núcleo do governo e a provável confusão entre neoliberais “pauloguedianos” e militares nacionalistas impossibilitarão a retomada do crescimento no curto prazo. Diante disto, o que fazer para manter a popularidade?
 
A classe média será alimentada com o lançamento de carne fresca: redução da maioridade penal, liberação do porte de armas, redução drástica de ministérios, Estatuto da Família, combate à corrupção e outras pirotecnias. “Moro Neles!”
 
A redução indiscriminada de alíquotas de importação e o fim das desonerações e subsídios devem quebrar o que restou de nossas indústrias. É cedo ainda para dizer até onde vai a sinceridade-compromisso do “Czar da economia” com a redução dos juros e a depreciação do real. Vai peitar os bancos derrubando o tripé macroeconômico mantido por FHC e Lula?
 
A farra dos importados fará a tradicional classe média vibrar. Poderá comprar a camisa com o jacaré-status pelo mesmo preço pago nas patéticas excursões aos outlets de Miami. Vão demorar um pouco mais para descobrir que seus filhos continuarão desempregados. 
 
Neste cenário – mantendo a lógica militar de marcha permanente – é provável que a batalha continue sendo travada no nordeste. É preciso destruir definitivamente o lulismo como possibilidade de futuro e capacidade de resistência.
 
O ataque já foi realizado no campo moral utilizando o veneno do multiculturalismo identitário que a esquerda abraçou. Resta agora solapar a base material. Para legitimar o programa bolsonarista é possível que estendam a mão do estado ao subproletariado. O mercado pode aceitar como custo colateral da operação.
 
Se André Singer estiver certo, a tática pode funcionar. Ao consagrar a possibilidade de “revolução pacífica”, de ascensão pelo consumo sem ruptura, Lula pode ter construído condições propícias ao seqüestro de sua base social.
 
O lulismo resistirá? A cor dos pobres continuará a ser vermelha?
 
Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

16 Comentários

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    1. Isso é assustador. Quer dizer

      Isso é assustador. Quer dizer que 41% das mulheres não apoiaram Haddad? O que são elas? Loucas, suicidas, imbecis?

    2. Há mais mulheres que homens

      Há mais mulheres que homens no Brasil. Em torno de 52 a 48 porcento.Outro instituto diz que são 51 a 49.

                  É só um dado.

                     Nada a ver com eleição.

      1. Comparaçao de percentagens nao depende dos números absolutos

        Vc é ignorante assim mesmo, ou é só a sua má fé habitual? Uma comparaçao de percentagens nao depende do número absoluto de homens ou de mulheres, sejam quais for esses números se entre as mulheres Haddad teve 51% dos votos e entre os homens teve só 40, é claro que percentualmente ele teve mais votos nas mulheres, e isso seria verdadeiro mesmo que só houvesse 20 mulheres no país contra 1000 homens… Percentagem é percentagem, seu ignorante desonesto (ou desonesto ignorante, mais provável). . 

  1. reflexão!!!

    O PT é um partido ideologico. De maneira geral todos os seus membros seguem essa ideologia. 

    Em 2018 foi derratado, por um movimento de extremadireita. Isso é fato. Houve uma acordo entre a elite e as status quo do Estado e da midia Hegemônica pela vitoria de Bolso. Fato.

    Bolso, recebeu voto dos subempregados e a classe C. Foram determinante para a sua vitória.

    “Vão demorar um pouco mais para descobrir que seus filhos continuarão desempregados”. Perfeito, mas parece ser insignificante, pois a culpa será do PT.  

    1. A culpa pelos problemas da pirâmide social sem o 1% do alto.

      As estatíscas estão aí para mostrar com o povo é despolitizado, como é descomprometido com quase tudo na vida, como sonha com um salvador da pátria, quando quem pode salva a Pátria somos nós próprios. Enquanto o PT não deixar de ser xiita, pedir perdão aos brasileiros por ter adotado os usos e costumes dos PATRÕES, ela não vai ter voz nem vez. Vai HADDAD junta os jóvens de ampla visão que lhes cercam e vai com Manu abrir os olhos de milhões de cegos que não querem ver, ou estão com vendas ou viseiras.

       

  2. Parolli, parolli, parolli

    “A promessa de décimo terceiro salário para o Bolsa Família foi apenas jogada eleitoral?”

    Claro, estamos acostumados. Políticos vendem a mãe. E o gás a R$ 49,00 foi o quê?

    1. O Paulo Pedreira seria um excelente rábula

      Se alguém acusado de pedofilia o contratasse Paulo Pedreira como advogado e se o Juiz da causa fosse acusado de pedofilia, o Paulo Pedreira defenderia o seu cliente com o seguinte argumento:

      “O meu cliente é pedófilo, mas você também é. Além disso, o meu cliente não foi o primeiro a abusar sexualmente da vítima”.

      Com essa “defesa”, estaria garantida a absolvição do pedófilo. Cabra bom.

      A confissão desse Coxinha remete à absolvição de um pedófilo pelo $TJ em 2012, sob o argumento de que não havia presunção de que o pedófilo usou de de violência para molestar 3 crianças de 12, “já elas se dedicavam à prática de atividades sexuais desde longa data”.

      1. Rui Ribeiro

        Apenas fiz uma ironia e não um apoio à promessa demagógica e eleitoreira de Bolsonaro. Usei como contraponto uma promessa ridícula e estúpida do Haddad para mostrar que todos fazem o mesmo. Só isso. E lembro que a tática de se apoiar nos erros alheios para justificar os próprios é patrimônio do PT desde a afirmação de Lula de que o “partido fez o que outras agremiações políticas sistematicamente fizeram neste país”. Isso foi lá em 2005, tempos do mensalão. Sua réplica revela leitura apressada, interpretação equivocada…ou simples desonestidade intelectual.

         

        1. Em sendo assim, eu retiro o que eu afirmei sobre você

          Você não seria um excelente rábula, você seria um adevogado fraquinho.

          No caso do pedófilo que lhe constituisse como seu advogado de defesa, e na hipótese do Juiz da causa ser também acusado depedofilia, você não faria um contraponto para mostrar que o Juiz também fez ou faz o mesmo que o seu cliente?

          Há uma coisa pior do que do que se apoiar nos erros alheios para justificar os próprios erros, é acusar os outros dos crimes que se comete.

          Tipo o Bolsonaro: quer castrar quimicamente os estupradores mas afirmou não estuprar uma Deputada porque ela não merecia.

          No caso de castração química de estupradores, o Bolsonaro iria provar do seu próprio veneno.

  3. O futuro da esquerda

    O sequestro da base eleitoral lulista (Nordeste) já foi anunciado pelo próprio Coiso. São milhares de pessoas desamparadas que necessitam do Estado para viver, ou seja, serão presas fáceis.

    A nossa “classe média” não resiste à um dólar barato. Ainda que o filho (exemplo) se gradue em Medicina Veterinária pela USP e vá trabalhar num “salão pet”, num shopping, dando banho em cachorrinhos. Por R$ 2500,00 por mês, que mal tem?

    O PT não é um partido de combate. É um partido de massas e não está preparado (com uma teoria revolucionária) para lutar contra o que vem por aí. Pior: a direção do PT santificou Lula e ele é intocável. O dilúvio de votos anti-lulistas (não necessáriamente fascistas) dão a mensagem clara de que a depuração do PT é incontornável. Se a auto-crítica e a depuração é impossível por causa de Luis Inácio, o PT terá se transformado num cacicado de esquerda e a história o jogará na lata do lixo. No além, Leonel Brizola deve estar se esculhambando de rir.

    A esquerda brasileira terá que “voltar ao passado”. Está visto que o bom mocismo democrático burguês, naõ fornece as armas da luta ideológica. Tempo de se lembrar que o motor da história é a velha luta de classes, que não tem a ver com o “politicamente correto” e com a atuação partidária exclusivamente paraamentar.

    Nesses tempos sobram girondinos e faltam jacobinos.

    O Coiso está apostando alto com fichas eleitorais emprestadas. SE ganhar, poderá até durar mais tempo. Seu cacife pode acabar se a máquina estatal começar a emperrar, o dólar subir e a inflação atacar os mais pobres.

    Será que a esquerda estará pronta para o próximo round? 

     

    1. Teoria revolucionária? Comeu cogumenlo estragado?

      Esse papo já deu, serviu de justificativa para a ditadura de 64 e ainda serve. Caríssimo, mesmo as pretensas revoluçoes socialistas que houve acabaram derrapando para capitalismos de estado. Deixa de sonhar. Aliás, a Era de Aquarius tb nao chegou. De volta ao real, tá?

      1. Arf
        Minha filha sua estultice é de doer.

        Desde quando teoria revolucionária se confunde com ação revolucionária?

        É certo que uma antecede a outra, e são reciptocamente imprescindíveis… mas pensar de forma revolucionária não quer dizer correr para pegar em armas… mas é estar pronto para isso…

        Por existirem pessoas como você é que os golpes dão certo…

        Quando pensamos em reação já está tudo fudido.

        Se Lenin pensasse como você os russos estariam se fudendo com o paizinho Nicolau e seus descendentes até hoje.

        Se não houver um pensamento revolucionário é bom tentar o suicídio.

        Então é isso?

        Esperar o fim da história ou que o capital os
        O pereça por si mesmo?

        Ahhhh… venceremos com eleições… Ok… ufa ainda bem!

        A tese de que foi a teoria revolucionária que motivou golpes não é só burrice e desconhecimento da lógica capitalista…É desonestidade mesmo… um desrespeito a quem ousou enfrentar o estamento e o comodismo intelectual e ideológico de fraudes como você…

        1. Caríssimo, vivi aquela época, e sei q foi 1 dos motivos

          E claro que teoria revolucionária nao se confunde com açao revolucionário, mas se nao a pretende, para que serve? Concordo com pensar de forma revolucionária, mas o problema reside no fato de que as ditas teorias revolucionárias já fracassaram onde foram aplicadas, inclusive na exURSS, que degenerou em capitalismo de estado, e especialmente ditatorial. Donde serem necessárias novas teorias e novas formas de luta. E para começar ter uma populaçao que realmente queira uma mudança revolucionária. O primeiro passo para qualquer coisa é isso, e há um longo trabalho antes que qualquer coisa mais radical possa ser tentada, senao é suicídio. E desrespeitoso é você, mas isso eu nem preciso falar, está óbvio para qualquer um que leia o seu comentário.

          1. ARF!

            Mme Z., seu desconhecimento é tão ou maior que sua desonestidade intelectual:

            – O fato das experiências revolucionárias não terem dado “certo” não quer dizer que o pensamento revolucionário tenha morrido(e dependendo do jeito que se olhe, porque muita gente defende que se não fosse o processo histórico da ex-URSS o povo de lá estaria comendo bosta do cavalo do czar, e não teria se trasnformado em “apenas” 70 anos na única força capaz de antagonizar os EUA).

            Quem lê a sua réplica imagina que eu tenha escrito que devemos usar aquilo que aconteceu antes (não, a história só se repete como farsa), e não foi isso que escrevi.

            Deixa de ser desonesta, MMe. Z.

            Eu disse que gente como você (que diz ter vivido aquele época, embora hoje viva como classe média na Zona Sul carioca) argumenta (criminosamente) que somos nós da esquerda sejamos os culpados pelos ciclos autoritários do capital, seja lá por qualquer forma de pensarmos (sejamos reformistas, revolucionários, proudohonianos, leninistas ou trotskystas, ludista ou o catzo que o valha).

            Vá fazer suas remissões de culpa pela sua época em outro lugar.

            Seu desconhecimento sobre mudanças revolucionárias é triste! Agora sabemos porque aquilo que você participou tinha que dar errado (risos). Os processos de ruptura revolucionária anticapitalista NUNCA, eu REPITO, NUNCA conseguirão “esperar” ou “construir” um “pensamento de massas revolucionário de mesmo caráter anticapitalista”.

            Qualquer exame superficial nos movimentos revolucionários, seja em 1917, em Cuba, nas lutas de libertação da África, etc, vão demonstrar que foram vanguardas revolucionárias partidárias que apreenderam esses momentos históricos e dirigiram tais movimentos.

            Por isso a importância de partidos de esquerda acumularem a teoria revolucionária para colocar ações revolucionárias em prática quando do momento histórico pertinente.

            Caso contrário, quem delibera são eles, os coisos!

            Se houvesse um pensar revolucionário nas esquerdas desde sempre, talvez o resultado desse desastre que vivemos fosse outro.

             

            Ahhhhh, mas covardes como você morrem de medo!

            Então faça como a miriam leitoa, amiga, vá para a segurança do outro lado!

             

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