Marçal e a crise de abstinência.
po Frederico Firmo
Marçal não é novo em nada, no que se refere ao bolsonarismo; MBL, Hatten, Kataguri , Nikolas Ferreira, Carluxo, Dudu, Alan dos Santos, Steve Bannon têm a mesma virulência, o mesmo nível de agressão, violência, mentiras e papo de boteco. Todos usaram os mesmos métodos e, na verdade, tiveram à disposição um número bem maior de especialistas em mídia digital, marqueteiros, pseudo ideólogos, muito mais dinheiro e um gabinete no planalto. Eles formaram um grupo muito mais preparado e com muito mais poder. Como predecessores de Marçal, pavimentaram o caminho e criaram e alimentaram a bolha que hoje o sustenta. O método de ataques, xingamentos, fake-news, apelo aos templos, conservadorismo, misoginia formam o mesmo combo.
Os revezes políticos com a tentativa de golpe, roubo de joias e inquérito das fake-news rondam todos os membros deste staff maléfico. Temendo a figura de Xandão, se contiveram com medo de visitar a Papuda. O gabinete do mal e associados resolveram se conter. Criaram até a figura de bolsonarista moderado. Isto criou um vazio e a resposta cada vez mais temerosa e tímida gerou no público-bolha uma crise de abstinência. Precisavam de algo direto na veia. Aí surge Marçal para suprir esta demanda. Embora me pareça mais jogo de cena, resolveu até peitar o mito ativando muitos na bolha que o acharam fraco e covarde. Ousado, quer peitar também os herdeiros, Tarcisio e Nunes, moderados demais para Marçal.
Não acredito em coincidências, Marçal apareceu no auge do ataque contra Alexandre Moraes. Marçal se lança afrontando o TSE, as proibições nas redes e faz tudo o que os que temem a mão de Xandão não fazem. Como se sabe, a mídia digital não se cria sem o apoio da grande imprensa. Colunistas como Joel Fonseca, advogando em nome de Marçal, apregoam que ele não deve ser importunado pela justiça, ele deve sofrer o escrutínio das urnas. Para demonstrar mais uma vez que a mídia digital não sobrevive sem a grande imprensa, nas últimas semanas seu nome virou arroz de festa nos grandes jornais e programas jornalísticos de TV.
Parte da direita já vê nele a chance de fingir que não apoia Bolsonaro. Como se fosse um balão de ensaio e sem abandonar a eterna caça a seu próprio candidato, esta direita ora aposta em Nunes/Tarcisio, ora torce para que Tábata ganhe força enfrentando Marçal usando o mesmo veneno. Com uma ficha criminal comprovada, e um enorme telhado de vidro, muitos apostam que o balão vai murchar, mas querem mantê-lo por mais tempo possível. Contam com a leniência da grande imprensa, que faz tudo para normalizá-lo.
Sem raízes na política e fanfarrão, afirma que seu jogo não é a prefeitura, mas a presidência. O apoio quase clandestino da grande mídia e de uma trupe de políticos mostra que ainda não se decidiram, mas tudo indica que Marçal será descartado logo que cumprir seu papel. Por enquanto, querem manter Moraes sob ataque. A grande imprensa, por meio de artigos e colunas, reforça a narrativa dos abusos de Moraes. No congresso, ameaçam com a anistia para os vândalos de 8 de janeiro e colocam o inquérito contra os atos democráticos em dúvida. Juridicamente, isto não tem respaldo, mas mantém um grande contingente como reserva eleitoral. A PGR participa do jogo, adiando tudo para depois das eleições. A imprensa joga pesado na normalização da candidatura e arautos do mercado e do liberalismo, como Cintra, irresponsavelmente já hipotecaram o apoio. Com este apoio, a imprensa afirma que a candidatura agora ganha conteúdo. Marçal ganharia mais fôlego, se passasse a defender propostas econômicas de Milei. Marçal é um total ignorante em economia, mas se o ultraliberalismo entrar no centro de sua plataforma, receberá apoio da Faria Lima.
Usando o sucesso como influencer, a imprensa o transforma em um gênio da mídia digital, e alguns já o comparam, não sem ironia, a Elon Musk. A imprensa esquece que Luva de Pedreiro e Whindersson, cativaram um número muito maior de seguidores e jamais foram tachados de gênios da mídia digital. Não se sabe nada sobre a formação do candidato, mas também se desconhece a formação do faraó dos bitcoins.
A pergunta que permanece é: a quem interessa inflar tanto uma figura como Pablo Marçal?
Frederico Firmo – Possui graduação em Bacharelado Em Física pela Universidade de São Paulo (1976), mestrado em Pos Graduação Em Física pela Universidade de São Paulo (1979) e doutorado em Física pela Universidade de São Paulo (1987). Atualmente é professor Titular aposentado da Universidade Federal de Santa Catarina.
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