Matéria de Encomenda, por Jean Michel Chauvin

Matéria de Encomenda, por Jean Michel Chauvin

Em 1989, em visita aos familiares, estávamos numa praia badalada de Fortaleza. De súbito, um homem pulou do píer na água e lá ficou, tranquilo, a boiar. Meu tio advertiu: “Isso é coisa da tevê. Daqui a pouco vão fazer uma matéria”. 

Dito e feito. Minutos depois, chegou uma numerosa equipe – câmeras de tv, repórter, cabo man etc. De cima, um helicóptero (sim, um helicóptero!) filmava o “acidente”. Uma boia foi atirada ao mar e o sujeito foi “salvo” graças ao salva-vidas. De volta à casa dos meus avós, à noite, eis que a “notícia” do “resgate” ocupou boa parte do bloco do progama local.

Seria uma campanha educativa para evitar que pessoas se atirassem ao mar? Pedido do Estado para dar visibilidade ao trabalho dos salva-vidas? Expediente para completar a pauta do telejornal, antes de sua exibicação, à hora em que as famílias se reúnem em suas casas?

Quem arquitetou o pseudoafogamento do nadador? Ora, ora. Foi a TV Verdes Mares, sucursal da Rede Globo, em Fortaleza. Esse lamentável episódio, testemunhado por nós, talvez dê uma pequena medida do que os poderosos meios de comunicação são capazes de fazer, em nome de premissas escandalosas, meios abjetos e objetivos infames. Valerá tudo para melhorar a imagem da emissora ou do sujeito sob seus holofotes? 

Vivemos sob a lógica da recompensa. 

Portanto, não se esqueçam de que: 1. no Brasil, a televisão é concessão pública (ou seja, é o Estado que autoriza, ou não, o seu funcionamento, mediante o cumprimento de exigências); 2. nesses e em outros casos, a verdade importa muito menos que a audiência; 3. as “grandes” emissoras, a exemplo de famigerados jornais ditos “tradicionais”, têm patrões e eles pensam como a maioria de nossos empresários: liberdade para os negócios; aliança com o modelo dos States; miséria para os demais.

Costumo dizer, e olha que já faz muitos anos, que desligar a televisão é a melhor resposta à desfaçatez e hipocrisia em que se converteu a nossa política. Que tal boicotar as emissoras de rádio e televisão e incertos jornais quatrocentões, como parte de nossa reposta ao “grande acordo nacional, com o Supremo, com tudo?”  

Redação

1 Comentário

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  1. Jornais
    Os jornais irão se acabar quando morrer a geração do meu pai e é provável que a tv como conhecemos acabe com a minha

    Meus filhos mais novos se informam pelo google e redes sociais e nem assistem nem leem jornais pela tv ou impressos

    A velha midia nao fará nenhuma falta

    No entanto os algoritmos e a concentração de mercado das redes (facebook é dona do whatsapp, google do chrome) permitirao manipulações muito maiores que as atuais, com inexistente chance de descoberta – ou de responsabilizacao. Tai a fundação do vem pra rua e MBL pra confirmar

    Viveremos tempos ainda mais sombrios, infelizmente

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