Morte, morte, morte que talvez seja o segredo dessa vida, por Matê da Luz

Morte, morte, morte que talvez seja o segredo dessa vida

por Matê da Luz

As músicas são válvulas de escape para as dores rotineiras – e para aquelas as quais não há dimensão, tanto que latejam. Enquanto coração e mente não se alinham na mesma sintonia, mesmo que esteja há tanto exercitando ambos para este encontro necessário e de paz, musicalizar a dor é algo que fortalece o caminhar. 

Eu não sei lidar com a morte. Acho que talvez nem saiba lidar com a possibilidade da morte, veja só como eu escrevo: possibilidade, como se não fosse a única a soberana certeza que temos, todos nós, aqui nessa Terra. É, eu não sei e, durante este ano, tenho percebido que não apenas não sei mas também que desgosto. 

Sabe aquelas pessoas que conseguem lidar internamente com a perda, ou melhor, aquelas pessoas que nem chamam a morte de perda porque já trabalharam tanto o condicionamento mental que chegaram num nível de amor e desapego tão grande que entendem que não é por termos convivido com aquela pessoa que ela é nossa. Ninguém é nosso, de fato. Mesmo que o pronome possessivo diga absolutamente o contrário, meu ente querido que morreu não é de minha posse e, racionalmente é tão simples entender, então não perdi aquela pessoa. Também não perdi os momentos que compartilhamos, os sentimentos que promovemos, as histórias que escrevemos. O que, talvez e só talvez, dê pra afirmar é que quando alguém morre, morre com ela tudo o que não aconteceu. 

E, de repente, quando essa pessoa é jovem, pronto. Nossa certeza cultural de que devemos nascer, viver e morrer, sendo que viver compreende determinadas fases naturais (criança-adolescente-adulto-velho), pronto, nossa certeza entra em looping de questionamento. A sua não? A minha sim. 

Briguei com Deus há algum tempo. Briguei sim, e foi uma briga tão feia que desde lá nossa conexão tem encontrado maneiras potentes de se manifestar, porque olha, se tem algo que posso falar da minha vida individual é que, se existe mesmo esse Deus, olha, ele me adora. Talvez, e só talvez, por me adorar é que ele entenda que eu preciso e quero desenvolver minha cabeça pra que ela encontre espaço no coração pra que sigam juntos nessa de, de repente, e só de repente, sentir a morte como algo natural. 

Porque pra mim ainda não é, por mais bonitas que sejam as histórias espíritas, umbandistas, candoblecistas e até as católicas – nenhum contexto destes foi suficiente, ainda, pra acalmar meu coração que, mesmo muitos anos depois, ainda sente o corte frio da notícia que dá conta de, vez ou outra, o que é natural é uma mãe perder um filho porque ele morreu e ponto. E eu sei que isso é um problema meu, só meu, e que caminhar-hey. 

Mas se tiver, você aí que me lê, um conforto, uma lição ou uma palavra que possa servir como amparo nesse passo, por favor, você pode colocar aqui?

Obrigada. Mesmo e muito. 

[…]

E, enquanto isso, sigo escutando músicas, as que reúnem mente e coração em um só ecoar, que hoje é de saudade. 

 

Mariana A. Nassif

6 Comentários

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  1. Faz quase um ano…

    Matê

    Faz quase um ano que perdi minha filha. Ela foi embora aos 36 anos, irradiava luz, lutou como uma guerreira contra o monstro da doença. Servia ela de esteio ao pai, e não o contrário.

    Morreu silenciosa nos braços da gente. A cena se repete em meu coração toda noite, todo dia. E eu escuto conselhos bestas do tipo: Você deve lembrar dos bons momentos que viveram! Ou então: A vida continua! 

    Também briguei com Deus, se havia um fiapo de fé no meu coração ele se rompeu no dia em Maíra fechou os olhos para sempre. Restou um vazio imenso, a penosa carga de continuar vivendo, o personagem que tenho que encarnar todo dia para ir ao trabalho, conviver.

    Se há conforto são nas lágrimas que rapidamente evaporam no vazio que ela deixou. Nada o preencherá e este tem sido meu consolo: a certeza de que somos únicos e que ela jamais desaparecerá, pois o vazio de sua ausência a torna presente em meu coração por todos os dias que me restam.

    Sou o orgulhoso pai de uma heróina que nunca cedeu!

  2. Morte, morte, morte que talvez seja o segredo dessa vida

    YO NO SOY YO

    Soy este

    que va a mi lado sin yo verlo;

    que, a veces, voy a ver,

    y que, a veces, olvido.

    El que calla, sereno, cuando hablo,

    el que perdona, dulce, cuando odio,

    el que pasea por donde no estoy,

    el que quedará en pié cuando yo muera.

     

    CÉNIT

    Yo no seré yo, muerte,

    hasta que tú te unas con mi vida

    y me completes así todo;

    hasta que mi mitad de luz se cierre

    con mi mitad de sombra

    —y sea yo equilibrio eterno

    en la mente del mundo:

    unas veces, mi medio yo, radiante;

    otras, mi otro medio yo, en olvido—.

    Yo no seré yo, muerte,

    hasta que tú, en tu turno, vistas

    de huesos pálidos mi alma.

     

    ao chegar o momento,

    ele subirá o morro e dançará.

    sua dança contará os segredos e as maravilhas

    que armazenou durante toda a sua vida.

    e sua morte ficará ali, sentada,

    impassivelmente assistindo.

    o sol poente estará brilhando com suavidade, sem queimar,

    como está hoje.

    o vento será morno e delicado.

    e o topo do morro tremerá a cada movimento de seu corpo.

    quando terminar sua dança, olhará decidido para o Sol,

    pois sabe que nunca mais o verá.

    e então,

    sua morte apontará para a vastidão…

    .

  3. Meu filhinho tinha apenas 06

    Meu filhinho tinha apenas 06 aninhos de vida quando aconteceu. Dia 31/12/1999, enquanto todo mundo festejava entrada do novo milenio, eu e minha ex estavamos no hospital, esperando noticias da equipe medica. A morte é lei da vida, lei de Deus. Nossos entes querido sao antes de tudo filhos do Altissimo.

  4. Sinto muito, Mate.  Eu me

    Sinto muito, Mate.  Eu me pego pensando na minha irma  que morreu em abril de 2011 bem mais frequentemente do que gostaria.  Ninguem quer ver uma pessoa que a gente ama morrer com 30 quilos por impossibilidade de comer.  A dor fica com a gente, a magoa fica com a gente.

    Agradeca a Deus por uma “boa morte”, se eh que isso eh conforto, pois quando a morte eh ruim, a familia fica muito pior.  Na “ma morte” ou na “boa morte” a unica coisa que voce tem eh o resto da familia pelo menos…  e eu quase nao tenho familia nos EUA, entao…

    “Que a morte lhe tenha sido leve” eh o melhor que eu posso esperar pra todos os casos.

  5. “Sleep little darlyng, do not cry”

    Eu nem sei o que dizer, Matê. Nossos sentimentos em relação a morte são parecidos… Minha mãe diz que é imaturidade. Quem sabe… Rezo ou sei la o quê para não perder meu pequeno. A gente coloca mascaras e faz de conta que esta tudo bem, tudo indo, mas é dificil esquecer os fantasmas que convivem conosco. 

    [video:https://youtu.be/sAePVJVg0mU%5D 

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