Não somos fascistas, somos monarquistas retrôs, por Fabio de Oliveira Ribeiro

Não somos fascistas, somos monarquistas retrôs

por Fabio de Oliveira Ribeiro

O jornalista Jânio de Freitas usou toda sua eloquência para “sentar a caneta” no governo. A resposta do general Heleno foi grosseira e monossilábica.

A Folha obviamente joga pérolas aos porcos. Eles grunhem, raspam os cascos no chão, coçam a bunda no cercado e voltam a fazer aquilo que fazem melhor: chafurdar na merda.

O golpe “com o Supremo, com tudo” criou uma anomalia. À medida que ela cresce e aparece, o regime não endurece. Mas também não amolece, pois não o Sistema de Justiça fez sua escolha em 2016.

A esmagadora maioria dos procuradores e juízes federais, parece estar disposta a legitimar qualquer tipo de abuso governamental. Advocacia administrativa era crime. Não é mais. Doravante ela será uma missão institucional da ABIN.

Num regime político republicano, a presidente e seus filhos não são irresponsáveis pelos seus atos. E a missão do Estado não é proteger os interesses pessoais deles.

A república brasileira está claramente se transformando numa monarquia. Assim como o Judiciário ajudou a imprensa a golpear Dilma Rousseff, a família Bolsonaro está golpeando as pretensões imperiais dos descendentes de D. Pedro II.

Bolsonaro age como um obtuso monarca medieval. Os filhos dele são príncipes intocáveis cujo bem estar ocupa a maior parte do tempo dos ministros. O tráfico de verbas orçamentárias no parlamento funciona como uma versão pós-moderna da cerimônia do beija mão.

E ninguém mais se importa com a corrupção. Ela é um pressuposto do exercício do poder monárquico. Uma prerrogativa que não pode ser desafiada por ninguém dentro ou fora do Estado.

A ABIN está processando a revista que noticiou o escândalo. É elementar, meu caro Watson. Na história monárquica brasileira nenhum juiz jamais desafiou o poder absoluto do rei de Portugal ou dos rebentos dele que governaram o Brasil.

Bolsonaro não tem o charme sedutor de D. Pedro I, nem a sensibilidade intelectual de D. Pedro II. Mas a consciência é tão perturbada quanto a de Maria, a Louca. O general Mourão, por sua vez, não tem a mesma firmeza demonstrada por  D. João VI nos momentos de crise.

O príncipe regente de Portugal foi o único rei que escapou de Napoleão Bonaparte. Nenhum outro monarca europeu jamais foi coroado no Novo Mundo: D. João VI foi o único. Ele resistiu às ambições golpistas da esposa. E reafirmou seu poder ao voltar para Portugal. Ele somente deixou de governar como monarca escolhido por Deus quando morreu.

As pretensões monárquicas de Bolsonaro são evidentes. Ele abusa do poder como se também tivesse sido eleito por Deus. Sempre que usa a Bíblia como uma ferramenta de legitimação política ele deliberadamente enfraquece o sistema constitucional republicano (que de republicano somente tem o nome).

É interessante a proximidade entre os Bolsonaro e os herdeiros do trono brasileiro. Os descendentes de D. João VI ainda não perceberam que a família Bolsonaro tem dado mostras claras de que não pretende descer do pedestal em que foi colocada com ajuda da imprensa?

Assim que for coroado na cerimônia oficiada pelo pastor Malafaia, Bolsonaro I editará um decreto conferindo a si mesmo o poder para remover juízes e promotores de seus cargos. No texto haverá um artigo permitindo censurar a imprensa e outro autorizando a execução sumária de gayzistas, petistas, comunistas, anti-fascistas e outros istas. Ele chamará esse decreto de AI-5 2.0 e mandará pregar uma cópia dele nas costas de cada jornalista suspeito de ser dissidente ou detrator.

Vacinados contra a liberdade de imprensa, todos os profissionais de comunicação sobreviventes passarão a fazer o que muitos já fazem: adular sua majestade imperial e elogiar os príncipes da casa Bolsonaro.

Em troca da fidelidade total, os juízes brasileiros poderão voltar a usar perucas, calças curtas, meias de seda e sapatos ricamente adornados, tudo pago pelo erário público. Cada qual poderá exibir ao público sua Vara ao se deslocar pela cidade em liteiras. Seguindo o cortejo judiciário os soldados carregando fasces.

Mentalmente consigo ver a cena. Dois juízes federais conversando no corredor de um Fórum. Um deles diz. “Não, não. Meu caro. Nós não somos fascistas, e sim monarquistas retrôs.” E os negrinhos ricamente vestindo libres atrás carregando os livros, notebooks e togas de seda perfumadas à moda francesa.

A disputa entre Jânio de Freitas e o general Heleno já foi decidida. É evidente que um general a serviço do rei agindo em defesa da honra do príncipe herdeiro não pode estar errado. O golpe de 2016 abriu a porteira, a vara de porcos caititus das florestas eldoradenses não perderá a oportunidade de se firmar “ad aeternum et infinitum” em Brasília.

Esqueçam o Impeachment. Esse instituto republicano obviamente não se aplica ao regime monárquico tupiniquim.
Fábio de Oliveira Ribeiro

Fábio de Oliveira Ribeiro

View Comments

  • Um texto simplesmente cheio de preconceito. As monarquias evoluem, as repúblicas pelo jeito involuem, vide a brasileira, a cada dia pior. As monarquias parlamentares hoje estão no topo dos melhores índices de liberdade, respeito e zelo aos bens públicos, desenvolvimento, saúde e tecnologia, sem falar que lideram com folga os melhores índices quando o assunto é ausência de corrupção. Outra questão, os príncipes não são intocáveis, quem inventou esse negócio de foro privilegiado foi a mafiosa república nascida em 1889, com a destrambelhada constituição de 1891, a nascida sem o Parlamento. Falando em liberdade de imprensa, jamais houve na República mais liberdade de imprensa que outrora houve no Reinado de Pedro II. Com a República os militares passaram a quebrar dentes de jornalistas, como aliás ainda o fazem... Enfim, vamos ser de esquerda, mas sem essa visão limitada de que a República é o ápice da invenção humana, pois não é. A monarquia parlamentarista pode não ser perfeita, mas é mais barata, tem mais glamour, mais sentido e separa vivamente o Estado do Governo, ou do desgoverno, como tem sido esse da republiqueta brasilis.

  • Só o fato de uns dois ou três príncipes prestarem declaração nominal de apoio a um político na eleição presidencial de 2018 seria motivo suficiente para retirada desses príncipes da linha sucessória da hipotética restauração monárquica. Por abdicação ou destituição.

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