Nem cheguei perto de ser um “Lanceur d’alerte”, meu maior fracasso, por Rogério Maestri

Lanceur d'alerte é uma expressão recente francesa que impropriamente os dicionários on line traduzem pela infeliz e que todo o brasileiro pós Lava-Jato detestam, "denunciante", que seria um sinônimo de dedo-duro

Nem cheguei perto de ser um “Lanceur d’alerte”, o maior fracasso de toda a minha vida

por Rogério Maestri

Vou começar diferente dos meus textos, um “Lanceur d’alerte” é exatamente o que não consegui para minha tristeza e desilusão não consegui nem chegar perto disso.

Lanceur d’alerte é uma expressão recente francesa que impropriamente os dicionários on line traduzem pela infeliz e que todo o brasileiro pós Lava-Jato detestam, “denunciante”, que seria um sinônimo de dedo-duro ou cagueta, logo não é uma boa tradução para o português, uma expressão que poderia ser bem mais próxima da expressão francesa é aquele que olhando uma determinada situação dá o famoso grito “Cuidado, vai dar merda”.

Porém voltando a língua francesa podemos utilizar a longa e nunca resumidas definições francesas, ou seja:

Un lanceur d’alerte est toute personne, groupe ou institution qui, ayant connaissance d’un danger, un risque ou un scandale, adresse un signal d’alarme et, ce faisant, enclenche un processus de régulation, de controverse ou de mobilisation collective. La notion est apparue en français à propos d’alertes sanitaires et environnementales dans les travaux sociologiques publiés par Francis Chateauraynaud et Didier Torny en 1999 dans l’ouvrage intitulé Les sombres précurseurs.

Il s’agit généralement d’une personne ou d’un groupe qui estime avoir découvert des éléments qu’il considère comme menaçants pour l’homme, la société, l’économie ou l’environnement et qui, de manière désintéressée, décide de les porter à la connaissance d’instances officielles, d’associations ou de médias, parfois contre l’avis de sa hiérarchie.”

Ou traduzido para o português fica:

Um “lanceur d’alerte” é qualquer pessoa, grupo ou instituição que, sabendo de um perigo, risco ou escândalo, emite um sinal de alerta e, ao fazê-lo, desencadeia um processo de regulamentação, controvérsia ou mobilização coletiva. A noção apareceu em francês sobre alertas ambientais e de saúde. (As sombras percursoras de Francis Chateauraynaud e Didier Torny, 1999).

Geralmente, é uma pessoa ou grupo que acredita ter descoberto elementos que considera ameaçadores ao homem, à sociedade, à economia ou ao meio ambiente e que, sem lucro, decide trazê-los à atenção de órgãos oficiais, associações ou meios de comunicação, às vezes contra a opinião de sua hierarquia.”

Pois desde o na segunda quinzena do mês de janeiro desse ano comecei a observar atentamente o que ocorria na China com o na época chamado meramente de “Coronavírus”. Somente em 30 de janeiro que a OMS declarou o Covid-19 como “Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional”. Na época utilizando o tradutor do Google lia as informações e notícias em chinês do que ocorria na província de Huhan.

Fazendo uma coleta dos dados diários da evolução do Covid-19 verifiquei que tinha tudo para se tornar uma desgraça mundial, primeiro escrevi um artigo sobre a queda da bolsa, que terminou ficando somente no meu Blog, pois parecia aos outros como algo insignificante, para no dia 29 de janeiro escrevi um segundo artigo sobre esta atual pandemia em que dava uma espécie de alerta a todos, o artigo era intitulado Para nossa sorte os chineses estão contendo o coronavírus, mas imagine com este governo se ele chegasse aqui!, que se talvez tivesse modificado o título para: “Imaginem com esse governo o que deverá acontecer se o coronavírus chegar aqui.”  o Título teria sustentação no texto, pois lá escrevi:

Quando todos escutam as besteiras de um governo formado por idiotas, a maior parte das reações são de memes, lacrações ou no máximo tentativas de aberturas de processos contra ministros e demais abortos da natureza que ocupam os maiores escalões do governo. Porém, todos esquecem que vírus, destruição das forças produtivas, os resultados econômicos de inconsequentes políticas internas e externas beirando a imbecilidade e mais centenas de tipos de catástrofes naturais ou artificiais, criadas pelo próprio governo, podem fazer sobre o nosso povo.”

Por mais catastrófico que na época pareceria, poderia pagar um mico para alguns durante um mês e meio, mas talvez servisse de alerta a alguém responsável que levaria a sério esta previsão que na época pareceria catastrófica.

Começava durante este período a fase de negação de todos, não digo somente do governo, mas também da imensa maioria dos opositores desse, pois as fofocas eram mais importantes e quando se entrevistavam médicos e infectologistas todos esses negavam a realidade futura. Irritado com isso escrevi um artigo, que também ficou restrito ao meu Blog com o seguinte título. “A classe médica está fazendo o jogo da Poliana. Poderá custar milhares de mortes.” em que alertava sobre os milhares de mortos que poderia causar essa epidemia, nesse artigo escrevi:

“Este tal de Coronavírus se entrar em países subdesenvolvidos ou em países governados por IMBECIS, vai provocar um verdadeiro pandemônio (não pandemia, um pandemônio mesmo).”

Isso foi escrito em 31 de janeiro e como a editoria deve ter achado meio violento nem elevou para o site principal, afinal era época em que todos diziam que com o nosso SUS poderíamos confrontar a epidemia.

Daí por diante continuei a escrever uma série de artigos que eram algumas vezes retirados do meu Blog e elevados para o jornal, mas tudo estava tranquilo. Estamos agora na MERDA e parece que poucos se deram conta do risco que corríamos.

Já havia ativado um canal do YouTube (Engenheiro Maestri) que usava para falar sobre assuntos diversos e de engenharia e no dia 29 de janeiro já fiz um vídeo com o seguinte título: “Coronavírus e um Estado sendo desmontado pelo governo Bolsonaro. O que nos espera?”, na época teve poucas visualizações e um só comentário “Maestri, o volume está muito baixo.” (e pior que estava).

Escrevo isso não para me promover, mas para repartir com quem estiver lendo a minha FRUSTRAÇÃO e a minha RAIVA de mim mesmo, por não ter conseguido dar mais ênfase desde o meio de janeiro quando vi o risco e não consegui nada de efetivo para pelo menos salvar umas quinhentas ou mil pessoas da morte e só consegui nesse tempo todo me tornar mais amargo, mais irritado e brigar com toda a família.

A única vantagem que tive, foi que quando fui comprar as três caixas de máscaras cirúrgicas com cinquenta máscaras cada uma, comprei pelo preço habitual, mas não consegui ser um “Lanceur d’alerte”, que merda.

Redação

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