Neymar e, principalmente, a seleção brasileira para o mundo, por Roberto Bitencourt da Silva

Foto Chuteira FC

Neymar e, principalmente, a seleção brasileira para o mundo

por Roberto Bitencourt da Silva

Nos últimos dias, inúmeras críticas têm sido tecidas à seleção brasileira de futebol e, sobretudo, ao nosso craque Neymar, provenientes da Europa e dos Estados Unidos. Imprensa e celebridades, de fora ou da seara do futebol, à frente.

Confesso que não simpatizo com o Neymar. Me parece ter faltado alguém para dar aquela chamada restritiva em sua formação, de modo a lembrá-lo que existe o outro, que o futebol é um esporte coletivo. O técnico Renê Simões há muito havia alertado. Faltou um Jair Pereira, também antigo e consagrado treinador, que chegou a barrar Romário na seleção sub-20 de 1985 (não me recordo se para o Mundial ou o torneio Sul-americano). Isso por que o então jovem craque vascaíno não se enquadrou nas regras gerais.

Em que pese isso, cumpre observar que a atual fera da seleção canarinho é um dos maiores símbolos, no momento, da diferença técnica histórica do futebol sul-americano e principalmente brasileiro. A habilidade que desconcerta qualquer esquema e planejamento tático, sobretudo europeu. Isso se chama criatividade. Coisa que temos em abundância. No futebol e muito além desse grande esporte.

Desse modo, me parece que a gringalhada, em especial europeia, passou do ponto nas críticas aos “rolamentos” e às “manhas catimbeiras” de Neymar. Eles que vejam seus umbigos. Tende a prevalecer uma nota de prepotência, de quem gosta muito de medir comportamentos e características de povos e países como o nosso – subordinados e dependentes na divisão social internacional do trabalho – por suas réguas.

Julgamentos autocentrados e arrogantes, que nos depreciam, são muito comuns na subjetividade de povos cujos países revelam larga tradição colonialista e imperialista. Muitos veem-se como “donos do mundo”. Em tudo se metem. Acham que podem falar e intervir no modo de ser, no jeito e nos destinos dos demais.

Na contramão dessa postura irritante, são múltiplos os gestos de carinho, simpatia e torcida reservados à nossa seleção, nos países da periferia do sistema capitalista. Em nuestra América Latina, no Oriente Médio, na África e na Ásia. Isso se chama empatia.

A seleção brasileira de futebol é um símbolo poderoso da capacidade latente dos povos espoliados pelo capitalismo mundial. De expressão de engenho criativo, singularidade e riqueza cultural. Autoconfiança. Tudo aquilo que o sistema econômico, cultural e político internacional procura nos retirar e suprimir.

 A nossa seleção propicia um direcionamento episódico, mas sistemático, de (res)sentimentos contra o sistema global assimétrico, injusto e espoliativo, hegemonizado pelas potências imperialistas e coloniais. Um meme que anda a circular bastante nas redes sociais diz: “Copa, 20% futebol, 80% ressentimento colonial”. Não está longe da verdade.

Nesse sentido, a seleção brasileira de futebol é um poderoso símbolo. Negócios bilionários e escusos à parte, ela não é de ninguém. Não pertence a Nike, Globo, CBF, Temer, o escambau. Ninguém é dono da seleção. Ela é de todos. E não só dos brasileiros. Um símbolo demasiadamente elástico, apropriável e ressignificado por diversos povos, etnias, classes sociais, nacionalidades.

A seleção corresponde a um traço fundamental da nossa identidade cultural e projeção de imagem internacional. Haja o que houver, merece respeito e carinho. E os têm, mundo afora. É sempre um pouco de nós no mundo. Um pouco de nós com o mundo. Particularmente, o que em época remota chamava-se 3º mundo. Um veículo de desforra momentânea dos sem voz, deserdados e oprimidos da Terra, submetidos ao arbítrio e à prepotência de poucos, ínfimas frações de classes sociais e nações, que delineiam e impõem as regras iníquas do mundo.

Que a seleção nos traga nova vitória na Copa! Vai Brasil!

Roberto Bitencourt da Silva – historiador e cientista político.

 

Redação

9 Comentários

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  1. Pois é!

    Concordo muito o que diz, tem um pouco disso tudo mesmo.  Agora Neymar se joga no chão e rola e faz caras e bocas por qualquer coisa. Até cansa quem esta assistindo ao jogo. Na contramão desse tipo catimbeiro-chato-sem-noção, tem jogadores muito mais humildes e que conquistaram as torcidas que têm assistido ao mundial e Neymar vai ficando para tras na preferência da moçada. Alias, Neymar ja foi vaiado pela torcida do PSG por se mostrar arrogante e catimbeiro durante o jogo. 

    Tem um video por ai em que mostra uma cabra que quando jogam uma bola proxima a ela, ela cai no chão. O nome da cabra? Neymar 🙂

    1. Tudo que vc escreveu é

      Tudo que vc escreveu é verdade.

      Mas esqueceu um pequeno detalhe que vc não citou: É ,de longe, o melhor jogador do Brasil.

         E, quiiça do mundo ( se o Brasil ganhar a Copa)

      Mas ganhando ou não, Neymar é o cara.

          Não queria ser sogro dele.Mas isso é outra história.

      Vc que vive na frança, assistiu” Irma la douce ‘ com Shirley Maclaine e Jack Lemmon ?

       Lembra do bigodudo,dono de bar que falava sempre : ”Isso é outra história” ?

        Pô , o cara advogado, combatente,dono de bar e até ”parteiro”. 

         Au revoir,madame.

  2. O time da CBF (antiga CBD) já

    O time da CBF (antiga CBD) já teve sua importância para diminuir a baixa auto estima e complexo de vira latas do brazileiro a partir de 1958, bem como as atuações “heróicas” em outras modalidades e esportistas individuais. O esporte teve seu significado na época em que Joaquim Cruz ou Senna empunharam bandeiras do brazil após conquistar vitórias. Era o que tínhamos como motivo para nos orgulharmos de “sermos brazileiros, com muito orgulho, com muito amor”. A partir de 2003, no entanto, tivemos motivos mais importantes para melhorar nossa auto estima: a saída do mapa da fome, o fim da dependência do FMI, a descoberta do pré sal e, mesmo aos trancos e barrancos, tivemos a sensação de que o brazil estava encontrando o caminho do desenvolvimento, soberania e progresso, inclusive social. Voltar a depender de conquistas esportivas para melhorar o orgulho nacional é andar pra trás, como tudo mais tem andado neste país nascido com vocação plena para ser colônia. O sucesso da seleção da Globo/CBF nesta copa teria o sentido de nos dizer que temos que nos está reservado o direito de sermos os melhores no futebol e na batucada, só. Estas coisas de progresso e desenvolvimento econômico, social e tecnológico não são para o brazil. Portanto, que a Bélgica (ou o adversário numa eventual semifinal) façam um enorme favor a este nosso país: tire o time da Globo/CBF da copa. Tá dando nojo ver o nível de alienação a que este povo pobre e burro aqui da periferia chegou.

    Para este povo tapado e alienado, não importará perdermos direito ao uso dos rendimentos sobre nosso petróleo em educação e saúde, não incomodará se voltarmos ao mapa da fome, se não tivermos mais submarino nuclear, EMBRAER, se a teconologia de beneficiamento de urânio for entregue, se o aquífero Guarani for entregue, se a Amazônia for entregue, se os direitos trabalhistas forem pro saco, se a aposentadoria se tornar uma mera utopia, se saúde e educação se tornarem um luxo para quem tem posses, se a banca suga o PIB como um verdadeiro viciado em cocaína, etc. O importante é que ninguém mais é hexa e teremos duas copas de vantagem sobre os outros países! Ah, sim: e também prendemos o Lula!

  3. Não esqueçam, na última copa, Neymar foi retirado da ……

    Não esqueçam, na última copa, Neymar foi retirado da decisão com uma fratura na vértebra.

    Aquilo não foi um acaso ou um lance regular!

  4. O nível de análise que não faz sentido

    Não faz sentido, em termos de nível de análise, fazer uma defesa da seleção brasileira ao estabelecer uma clivagem de visões do tipo Norte vs Sul mundo, a partir da figura ostentatória de Neymar Jr.

    Neymar Jr. é um esportista alçado pela mídia internacional e, internamente, catapulado pela Globo, à categoria de celebridade, tal qual um ator ou um músico de renome internacional. A elevação dessa estatura ou mesmo o estabelecimento de uma nova categoria esportista, por sua vez, deveu-se, sobretudo, à drenagen de uma grande quantidade de recursos oriundos de novos ricos emergentes (russos, chineses, indianos, tailandeses) e de nações árabes ricas em petróleo e gás natural para o showbiz do futebol dos campeonatos europeus (quem banca o PSG – para desespero da classe alta tradicional parisiense – são as imensas reservas de gás natural do Catar da família Al-Thani). E os efeitos sobre figuras como Neymar, todos sabem o mal disso, tal qual diagnosticado certeiramente por Renê Simões: libertaram o sentimento “besta” do cativeiro. 

    Desse modo, as sátiras do “cai-cai” e das choradeiras performáticas de Neymar (que parecem mais uma coreografia que se poderia ver num show de Shakira, Pitbull, Rihanna, Ariana Grande) refletem, a bem da verdade, a uma insatistação da mídia internacional e das redes sociais sobre o fato de um atleta ter se tornado de forma artificialmente maior do que o próprio clube, país e, quiçá, até mesmo do futebol. “É preciso ter um limite a esse celebrismo dos futebolistas”. É essa a mensagem.

     

     

  5. O futebol é de todos mas tem quem só joga se for dono da bola

    Ontem eu sonhei com Jesus Cristo. No sonho Jesus Cristo mandou o seguinte recado para o Neymar:

    “Neymar, eu sou brasileiro mas também sou belga. Portanto, levanta-te e joga bola ao invés de jogar-te ao chão”.

     

    Arruma a mala aê, que a rural vai desabar

  6. Revoltado!

    Negócios escusos à parte, o cacete! 

    Essa leitura mequetrefe, que separa o que é conveniente para a defesa do seu ponto de vista, é o modo como ele trabalha, como historiador?

    Se sim, é de rir.

     

  7. Bem antes,esse jornal da esquerda-alternativa alemã dizia
    Bem antes, esse jornal da esquerda-alternativa alemã dizia que a Bélgica era a favorita (ver mais abaixo). A patriotada da empresa CBF que usa o nome de time Brasil, todos os comentaristas, é que “analisavam” diferente, super parcialmente. Pão e circo pro povo.(Um dos fatores é que abandonaram, na Europa, o arcaico modelo de concentração canina ainda adotado pra “cultura” brasileira.Pouco adianta jogadores brasileiros passarem anos nos times europeus, pois uma cultura não se muda nem fácil, nem em décadas. Nenhum dito especialista crítico em futebol toca neste aspecto, talvez, e, em parte, por concordarem com tal “cultura” de concentração, e/ou porque a população brasileira é autoritária e introjeta inconsciente ou conscientemente tais valores plenos de preconcepções de vários tipos).. http://www.taz.de/WM-Favorit-Belgien/!5519087/.”The greatest threat to freedom is the absence of criticism” – W. Soyinka.

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