No Brasil, “negar veementemente” denota confissão de culpa, por Frederico Rochaferreira

Invariavelmente, todos os delatados sempre “negam veementemente” a imputação do delator, até o momento de também fazerem alguma barganha com a Justiça.

No Brasil, “negar veementemente” denota confissão de culpa

por Frederico Rochaferreira

No Brasil, a expressão “negar veementemente” se tornou figurinha fácil entre indivíduos políticos, empresários e até membros do Judiciário, quando delatados por práticas criminosas. Mas, a unanimidade e rapidez em negar só por negar ”veementemente,” denota mais culpabilidade, que presunção de inocência daqueles que se utilizam da expressão.

Até a Rede Globo, acusada de receber propina do ex-executivo da empresa Torneos y Competencias, Alejandro Burzaco, que em depoimento no Tribunal Federal do Brooklyn, em Nova York, disse em acordo de delação, que pagou propina para diversos executivos de Confederação Sul-americana de Futebol e empresas de mídia, incluindo a TV Globo, do Brasil, em nota, o Grupo Globo não fugiu à regra e “afirmou veementemente” “que não pratica nem tolera quaisquer pagamentos de propina.”

Invariavelmente, todos os delatados sempre “negam veementemente” a imputação do delator, até o momento de também fazerem alguma barganha com a Justiça.

Renan Calheiros, (PMDB-AL) flagrado em conversa com o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, defendendo modificações na Lei das Delações, ao ser confrontado sobre suas manobras, “negou veementemente” que tivesse tal intenção.

Quando a empreiteira Delta; do Rio de Janeiro, começou a ser investigada em 2012 pela Operação Monte Carlo, seu proprietário Fernando Cavendish “negou veementemente” que sua empresa estivesse envolvida em irregularidades; disse que nunca pagou propina a políticos,3 mas em junho de 2016, negociando acordo de delação premiada, Cavendish confessou desvios praticados no Governo de Sérgio Cabral para obter contratos de obras, como a reforma do Estádio do Maracanã. A reação do ex-governador Cabral foi “negar veementemente” as acusações.

Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara dos Deputados também “negou veementemente” por meio de seus advogados, quando foi acusado pela Polícia Federal de fazer parte de uma organização criminosa do PMDB dentro da Câmara Em acertando um acordo de delação, ele não só deixará de negar, como acusará.

Da mesma forma, o ex-presidente Michel Temer “negou veementemente” que dera aval para a compra do silêncio de Eduardo Cunha, na histórica gravação de Joesley Batista e quando acusado pelo Ministério Público Federal de ter agido como líder de uma organização criminosa, no caso da segunda denúncia arquivada, novamente em nota, ”negou veementemente” todas as acusações.

Quando o doleiro Alberto Youssef disse que movimentou cerca de R$ 28 milhões da empreiteira OAS através de caixa 2, recebendo 3% por cada operação entre janeiro de 2013 e janeiro de 2014, a empreiteira através de seus diretores “negou veementemente” em nota, as acusações do doleiro, da mesma forma que, quando o delator Pedro Barusco, ex-gerente da Petrobras, disse ter recebido US$ 1 milhão em propina da Construtora, Norberto Odebrech, a empreiteira em nota “negou veementemente” as acusações. No entanto, ao fechar acordo de delação com o Ministério Público, o ex-diretor da Odebrecht Shinko Nakandakari, confirmou que repassou em diversas ocasiões, dinheiro em espécie ao ex-gerente da Petrobras, Pedro Barusco.

Esses exemplos retratam nada mais que a natureza covarde dos corruptos brasileiros, que, quanto mais “negam veementemente” seus crimes, mais assumem uma confissão de culpa.

Redação

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