O “discurso dos inocentes” foi mais ultrajante do que o silêncio deles, por Eduardo Ramos

O “discurso dos inocentes” foi mais ultrajante do que o silêncio deles

por Eduardo Ramos

Nas últimas 24 horas acabei escrevendo dois textos sobre as últimas notícias referentes ao suicídio do reitor da UFSC, Luiz Carlos Cancellier.

O primeiro, indignado com a notícia veiculada no post “Padres denunciam: PF impediu reitor de receber ajuda religiosa, por Raquel Wandelli” – quando tomei conhecimento do absurdo que foi mais essa violência GRATUITA contra o reitor, a negação do conforto que representa aos que creem, da assistência espiritual.

O nome desse primeiro artigo (que se tornou uma ironia pelo que logo se seguiu…) era “O silêncio dos inocentes”, onde eu criticava a omissão das autoridades sobre essa tragédia, suas causas óbvias, os abusos de autoridade do procurador, da delegada Érika, da juíza Janaína, da Polícia Federal na revista íntima desnecessária, a exposição do reitor na grande mídia confundindo a população (as manchetes davam a entender que ele estava diretamente envolvido no caso de corrupção em si, e não em uma acusação SEM PROVAS, de obstrução da justiça…), enfim, uma série de aberrações jurídicas, impensáveis em qualquer país onde a cidadania e os direitos fundamentais são levados a sério, por agentes públicos igualmente sérios e cientes de suas responsabilidades.

Cheguei a publicar o comentário-artigo e logo o apaguei às pressas, quando cinco minutos depois me deparei com o contundente e excelente post “O cadáver do Reitor explica o sentido da Operação Ouvidos Moucos, por Armando Coelho Neto”, e perplexo cheguei à mesmíssima conclusão do Kennedy Alencar: “Melhor que tivessem ficado caladas!” – as associações de juízes, procuradores, delegados, etc. etc. – Porque o “silêncio dos inocentes” era menos ultrajante, menos indigno e até patético, do que “o discurso dos inocentes”.

O fato grave, gravíssimo, entre os tantos erros e distorções cometidos nessa nota absurda, resume-se a UM que caracteriza esse tempo de violências à cidadania: todo o discurso nela inserido representa uma CHANCELA a esse Direito e práticas penais eminentemente “de exceção”, onde a espetacularização das ações, suas subjetividades – porque baseadas nas “convicções” dos agentes públicos, ou sua simples indiferença com as consequências sobre aquela vida afetada por suas ações, caso estejam cometendo uma leviandade.

Isso coloca todos nós DE JOELHOS diante de qualquer um, a qualquer momento, que por qualquer motivo, queira em conluio com outros servidores, cada um na sua área, prender, difamar, humilhar, expor a vida ao massacre da mídia, pior, com o ALÍVIO de se saberem ONIPOTENTES, já que seus superiores estão atentos a qualquer GRITO da sociedade, qualquer voz, que queira frear, interromper, ou mesmo apenas QUESTIONAR os métodos, e tudo aquilo que tenha a aparência óbvia do que chamamos de ABUSO DE PODER.

O parágrafo onde essa arrogância, esse cinismo, esse nonsense aparecem desnudos, nos diz com toda a clareza, na nota: “Ao contrário do que vem sendo afirmado por quem quer se aproveitar de uma tragédia para fins políticos, no Brasil os critérios usados para uma prisão processual, ou sua revogação, são controlados, restritos e rígidos. Uma tragédia pessoal não deveria ser utilizada para manipular a opinião pública, razão pela qual as autoridades públicas em questão, em respeito ao investigado e a sua família, recusam-se a participar de um debate nessas condições”.

Não somos cidadãos conscientes e indignados com essa tragédia e toda uma série de violências de delegados, juízes, procuradores… Somos seres apequenados, mesquinhos, que queremos “nos aproveitar de uma tragédia para fins políticos”…

A baixeza MORAL da nota, esta sim oportunista e sórdida, se permite USAR a tragédia, eles sim, para manipularem a opinião pública, querendo nos fazer crer que nosso Ministério Público e Judiciário são esse primor de legalidade, impessoalidade e “em respeito ao investigado e a sua família”, recusam-se os nobres signatários da nota, a participar de um debate “nessas condições”. – Um “cala boca” em toda a nação brasileira…

É provavelmente uma das “falas” mais infelizes de um conjunto de autoridades em nosso país, em todos os tempos. Caracteriza de modo ímpar esse período de arrogâncias, narcisismos, onde “eles” são “eles”, e nós, somos nós, “eles” fazem o que querem, “nós”, somos reféns deles, e a nota deixa claro: esqueçamos essa “coisa idiota” chamada cidadania.

 

Redação

2 Comentários

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  1. é preciso enquadrar as associações

    As associações só deveriam se manifestar para os seus associados. É um absurdo aceitar que órgãos corporativistas possam ter voz para querer falar para a sociedade toda. Eles representam parcialidades, nao tem qualificação para dialogar com os cidadãos, de quem se espera compreensão do todo. Abusam de uma autoridade que sequer adquiriram por qualquer meio. Nunca poderiam se manifestar antes de consultar os representados, para decidirem que mensagem uma categoria quer trasmitir à sociedade. Nunca poderiam defender associados sem antes investigar e apurar as acusações que foram lançadas contra membros. Se partem para a defesa da classe sem apurar, é porque tem certeza que a classe usurpa de seus direitos e sai em defesa corporativa da usurpação de classe.

    É a mesma coisa que empresários ou associações empresariais se manifestarem sobre questões política, inclusive na economia. Eles são suspeitos por natureza, desfrutam da liberdade de atuação e eis porque o povo tem que ter a contrapartidade de ficar livre também de seus palpites desqualificados e suspeitos.

    1. “Nunca poderiam defender
      “Nunca poderiam defender associados sem antes investigar e apurar as acusações que foram lançadas contra membros”

      Perfeito seu pensamento. Eles nem percebem que essa atitude os tornou tão precipitados, levianos e arrogantes como os associados que acobertaram com uma proteção descabida, indigna.

      Abraço!!!

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