O Galo e o Brasil: até quando exercitar o sentido trágico?, por Jean D. Soares

O Galo ganhou, saiu de seus piores dias, organizou-se para apaziguar o destino terrível. Deixou de ser trágico? A pergunta ficará no ar, como quando Édipo se dissuade de seu destino.

O Galo e o Brasil: até quando exercitar o sentido trágico?

por Jean D. Soares

A torcida do Atlético soltou um grito preso há muito tempo pelas injustiças, tanto humanas, quanto temporais. Ou por culpa de alguém ou por caprichos da história, um time que consecutivas vezes mostrava brilhante futebol amargava a dor do destino terrível. Para muitos amigos, eu costumava dizer que ser atleticano não era uma forma de torcer para um time, mas de entender o sentido trágico da existência. Muitos de nós se foram conscientes disso, de que a paixão pela camisa preto e branca mais amada das Minas Gerais implicava o risco de ter que enfrentar revezes, de torcer contra o vento. Os de agora, menos experimentados na arte do saber sofrer, já tiveram também as suas doses de sentido trágico: times brilhantes que não acabavam com o terrível jejum de ganhar o campeonato de futebol mais disputado do mundo. 

Atleticanos são artistas da fome, sabem que o brilho de sua torcida não vem das glórias, mas da longevidade adquirida pelos longos jejuns. Preferimos o brilho da amizade, a partilha de um time do povo, sofrido, ao narcisismo de torcer pelo campeão do momento. Parafraseando o Mário Marra, gritar “campeão” é coisa que se repete de ano em ano. Agora, gritar “Galo” ao invés de campeão é algo único, exclusivo e gutural. Sai de dentro, é incorporado.

É claro que o futebol é alienante, não podemos esquecê-lo. Essa paixão pela dor pode levar aos piores disparates: desde a procastinação motivada pelas notícias da sofrência até ao endividamento para dar conta do vício pela arquibancada, passando é claro pelos perigos envolvidos por um tipo especial de loucura (a Galoucura) e as ignorâncias noticiadas de mortos pela vaidade, vanidade ou vileza organizada. Porém, vacinados diante dessa pior parte do destino terrível, a maior parte dos atleticanos se dedica à especulação filosófica: e o Galo? Ganhará um dia ou amargará para sempre? Sairemos dessa?

O Galo ganhou, saiu de seus piores dias, organizou-se para apaziguar o destino terrível. Deixou de ser trágico? A pergunta ficará no ar, como quando Édipo se dissuade de seu destino. É hora de celebrar a organização, a felicidade resultante da justa-medida, da firmeza de espírito.

O que aconteceu com o Atlético pode servir de exemplo para o resto do Brasil. Esses dias terríveis podem passar quando decidirmos que todo jejum tem limite, que a fome é um espetáculo desnecessário, que a vileza pode ser abandonada em nome da justa-medida, que a firmeza de caráter é melhor do que a vanidade organizada. Porém, diferente do futebol, as mudanças de que o Brasil precisa não serão fruto de um campeonato, nem teremos alguns campeões. Ela será resultado de um processo em que, se fizermos as mudanças necessárias, substituindo nos mais diversos níveis, os fascistas por gente progressita de verdade, todos ganharemos ruas com paz, fartura e sossego.

Jean D. Soares é atleticano, pai de uma menina e professor universitário de Filosofia

Redação

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  1. Estes dias enfim chegaram. Com o fim de 91 anos de Estado Ditatorial Caudilhista Absolutista Assassino Esquerdopata Fascista. Com o fim do Monopólio Gângster do Futebol. Com o fim da RGT. Com o enterro do Cruzeiro junto com a Bandidolatria dos Perrella’s. A face destes 40 anos de farsante e corrupta Redemocracia. Com o fim dos Neves, que tem em Aécio, o epílogo da Cleptocracia Esquerdopata-Fascista. Com a chegaga de um Presidente que finalmente representa o Povo Brasileiro depois de quase 1 século de erros e crimes. Com o título do CAM, roubado, saqueado e agredido todo este tempo por esta Cleptocracia, assim como o Brasil. LIBERTAS QUAE SERA TAMEN.

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