O legado cruel das Olimpíadas, por Sergio da Motta e Albuquerque

O legado cruel das Olimpíadas

por Sergio da Motta e Albuquerque

Houve uma boa dose cinismo no  Jornal da Globo (4/8, 20:40), ao apresentar um patético arremedo de celebração do “legado” das Olimpíadas do Rio em 2016. Que legado?

A reforma urbana prometida para a Praça Mauá agora depende totalmente da iniciativa privada para pagar o obra cara (e ultra,super faturada). A crise do estado em seus três níveis ( federal, estadual e municipal) não permite o investimento, e o local não conta mais com policiamento à noite e outros serviços urbanos prometidos ao “Porto Maravilha”. O município do Rio de Janeiro “quebrou”, e os empresários hoje passam longe do esforço de Paes em moldar a cidade aos interesses dos empreendedores imobiliários.

O VLT, o novo “bondinho urbano carioca”, é lindo. De verdade. Contrasta com as construções antigas do centro. Os turistas adoram e o desenho urbano melhorou. Mas seu percurso não ajuda a locomoção urbana da população que mora na Zona Norte ou a baixada fluminense. As novas vias abertas na cidade expõem a insatisfação e a raiva da população diante de tantos recursos desperdiçados e da desigualdade que aumenta na cidade como o avanço do neoliberalismo tupiniquim.

A própria Praça Mauá foi mal redesenhada. Não há sombra artificial ou natural, e o amplo espaço, no verão, desafia os mais sensíveis ao calor tropical. O mau-gosto do Museu do Amanhã pode ser coisa minha. Não gostei. Passou por cima da preciosa e incômoda história daquela parte do centro do Rio, associado à escravidão de forma marcante nos meios de comunicação através da lembrança trazida pela descoberta do “maior cemitério de escravos das Américas” em 1996. Corpos massacrados de escravos foram despejados por ali entre 1791 e 1831 sem a menor cerimônia ou decência.

A famosa “Pedra do Sal”, berço histórico do samba carioca e herança preciosa da cidade, também não foi lembrada pelos organizadores dos jogos. O mundo inteiro saiu perdendo.

O legado Olímpico foi o colapso das contas públicas no Rio de Janeiro e o saque aos cofres do estado e município, que mergulharam em crises sem precedentes. Não me venham falar em “legado”. Nem que a “crise dos estados começou antes”. A farra de má-gestão e corrupção nas obras dos jogos serviram como combustível em um incêndio já iniciado.  

 
Redação

4 Comentários

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  1. Jogos olímpicos e copa do mundo.

    Acho que não dá para negar que a principal força motora por traz desses ditos “grandes eventos” foi gerar grandes obras que acabariam por trazer gigantescas. digamos, contribuições eleitorais desinteressadas, por parte das empreiteiras.

  2. Faltou encadeamento e sobrou conclusão obtusa

     

    Sergio Motta e Albuquerque,

    Eu estou ficando velho e minha capacidade de compreensão vai-se esvaindo com os anos que passam. Outro dia um, eu suponho economista, fez um comentário junto ao meu que eu fiquei sem entender se tratava de crítica ou elogio. Como meu comentário fora longo e o suposto economista parecera ter lido-o todo até referindo a trecho do comentário, eu considerei que deveria fazer um esforço para a compreensão do que o suposto economista quis dizer.

    Tudo isso pode ser visto no comentário que Luizpanerai enviou terça-feira, 01/08/2017 às 22:08, para junto do meu comentário enviado terça-feira, 01/08/2017 às 08:53, para Diogo Costa junto ao comentário dele de segunda-feira, 31/07/2017 às 12:45, lá no post “Xadrez do atraso do pensamento econômico brasileiro, por Luis Nassif” de segunda-feira, 31/07/2017 às 07:00, aqui no blog de Luis Nassif e de autoria dele, no seguinte endereço:

    https://jornalggn.com.br/noticia/xadrez-do-atraso-do-pensamento-economico-brasileiro-por-luis-nassif

    E a minha resposta a Luizpanerai foi enviada quarta-feira, 02/08/2017 às 18:34. Minha resposta não significa que após todo o esforço eu tenha entendido o que Luizpanerai dissera, mas não podia deixar de fazer esse esforço.

    Aqui eu não tinha nenhuma obrigação de tentar compreender o seu post principalmente após o primeiro parágrafo que me desencorajou a continuar na leitura. Diz você:

    “Houve uma boa dose cinismo no  Jornal da Globo (4/8, 20:40), ao apresentar um patético arremedo de celebração do “legado” das Olimpíadas do Rio em 2016. Que legado?”

    Imaginei que seria mais um artigo a falar mal da Globo. Algo que realmente não tem a menor relevância, tanto por se tratar da Globo como por se tratar de má reportagem da Vênus Platinada, ainda que esse julgamento da má qualidade da reportagem seja oriundo de sua descrição.

    Só que você muda de direção e passa a falar da reforma urbana na praça Mauá, mas você finda por dizer que União, Estado e Município não tem dinheiro para terminar a obra. O que não é novidade dada a grande recessão que aconteceu no Brasil.

    E volta a mudar de assunto para dizer que o VLT embora lindo cria dificuldade de transporte para a população que mora na Zona Norte ou [n]a baixada fluminense.

    Imaginei que você ia mostrar que esses problemas foram apontados na época que o VLT fora idealizados, mas os técnicos teriam refutado as críticas. Não foi esse esclarecimento que eu li, a frase que transcrevo a seguir ficou-me incompreensível. Diz você, ao parecer tratar dos efeitos do VLT:

    “As novas vias abertas na cidade expõem a insatisfação e a raiva da população diante de tantos recursos desperdiçados e da desigualdade que aumenta na cidade como o avanço do neoliberalismo tupiniquim.”

    E então na sequência você volta à remodelação da Praça Mauá dizendo que ela foi mal redesenhada. E acrescenta uma crítica pertinente e que me pareceu válida, mas eu me pergunto porque não ter feito a crítica quando o projeto estava sendo disputado?

    Ali onde eu chegar, eu já não podia mais dar-me por satisfeito e desistido do texto. Queria saber qual o objetivo do texto que eu destinava a minha leitura. De novo, há uma mudança de foco e você trata da famosa “Pedra do Sal” que teria sido esquecida pelos organizadores e que o esquecimento foi prejudicial ao mundo inteiro. Tudo bem, trata-se de informação relevante, principalmente para os que conhecem o local, mas muito mais relevante seria ter investigado ou apresentado as razões alegadas para esse esquecimento ou a razão por não se ter reclamado a época de tal esquecimento.

    O texto do post, no entanto, não se encerraria ali com um assunto de certo modo fora do contexto que fora a Pedra do Sol. Havia ainda um parágrafo final em que você diz:

    “O legado Olímpico foi o colapso das contas públicas no Rio de Janeiro e o saque aos cofres do estado e município, que mergulharam em crises sem precedentes. Não me venham falar em “legado”. Nem que a “crise dos estados começou antes”. A farra de má-gestão e corrupção nas obras dos jogos serviram como combustível em um incêndio já iniciado.”

    Eu considero infantil essas conclusões do tipo “o legado Olímpico foi o colapso das contas públicas no Rio de Janeiro” sem a apresentação de dados que fundamentem a afirmação. Falo em declaração infantil porque não vejo interesse nenhum em alguém dizer algo assim. Então parece mais argumento de criança que diz bem o que quiser e ninguém tem nada com isso.

    E parece que você também reconhece que se trata de declaração infantil, pois na sequência diz: “Não me venham falar em “legado””.

    Só que na sequência você acrescenta mais algum exemplo do que não se pode falar, ao dizer que não há que falar também que a “crise dos estados começou antes”. Começou antes do que? Do legado sobre o qual não se deve falar, dos jogos olímpicos, do colapso das contas públicas?

    E você complementa para finalizar seu texto: “A farra de má-gestão e corrupção nas obras dos jogos serviram como combustível em um incêndio já iniciado”. Má gestão realmente não é algo bom. Até considero que ela é quem inicia o incêndio e não quem a propaga. Agora juntar má-gestão com corrupção não me parece bem pensado.

    Eu avalio que na democracia não é muito fácil o aparecimento do mau gestor. Ele existe, mas ganhar eleição não é algo fácil e assim até chegar lá em cima, é preciso mostrar um mínimo de competência que restringe muito a possibilidade de um mau gestor assumir cargos proeminentes no comando da chefia do Executivo ainda mais do Estado do Rio de Janeiro.

    O que eu acho difícil é juntar má-gestão com corrupção. Difícil do ponto de vista da realidade. Na escrita ou na fala é o que de mais comum acontece o que me faz duvidar muito da inteligência de quem faz essa associação. Não tem ninguém mais procurado que o corrupto. Então o corrupto e o mau gestor, se juntos, são pegos antes de dobrarem a esquina. Coloquei no plural porque considero que são dois e não um só. Um só com as duas característica é impossível.

    Aliás, talvez seja por isso que os estados só conseguem crescer mais quando há muita corrupção. Pelo menos quando se considera a história da humanidade vai-se observar isso. O império romano administrados por soldados orgiásticos floresceu e depois que passou a formar padres éticos sucumbiu.

    Se voltarmos para a história recente vamos ver o mesmo proceder. O Japão era o país que mais crescia no mundo até estourar o escândalo da Lockheed. Depois que alguns envolvidos nos acontecimentos suicidaram o Japão nunca mais voltou a crescer com as mesmas taxa. A Itália na Europa era o pais que mais crescia até que veio a Operação Mãos Limpas e a Itália passou andar para trás. Leia a imprensa americana e você vai estar seguro que o país mais corrupto do mundo é a China e, no entanto, é um dos países que mais cresce no mundo.

    Poucas pessoas sabem, mas no final do ano passado, a Índia retirou de circulação as moedas de grande valor. Retirou para reduzir a sonegação que é uma forma de corrupção e também para reduzir a corrupção propriamente. E a Índia vem crescendo até mais que a China. É bom acompanhar os dados da Índia, pode ser que sem grandes moedas, reduzindo a sonegação e a corrupção, aquele país já não consiga apresentar as mesmas taxas de crescimento.

    Então atendo só a sua conclusão diria que pode ser que a má-gestão seja a causa do “colapso das contas públicas no Rio de Janeiro”. No entanto eu considero essa relação pouco provável. As pessoas que administração o Rio de Janeiro não me pareceram ser excelentes, mas não creio que tenham governando de tal modo ruim que a gestão delas tenha vindo a comprometer as finanças do Estado.

    O mais provável é que a economia do Estado estando muito assentada no setor petrolífero tenha sentido o baque mais imediato quando houve a queda do preço do Petróleo. A repercussão da parada da economia na receita do Estado foi tremenda e assumiu proporção ainda maior com a redução expressiva dos royalties do petróleo. Este me parece ser o caminho natural para entender a atual situação do Rio Janeiro tanto no que diz respeito à economia como no que diz respeito às finanças públicas.

    Essas outras justificativas que pululam na grande mídia e também nos blogs tanto de direita como de esquerda soam para mim como conversa bem infantil.

    Clever Mendes de Oliveira

    BH, 06/08/2017

  3. Nada como um dia após o outro

    Não foram poucos, a começar pelo próprio dono do blog, os que teciam loas à organização da Copa do Mundo e das Olimpíadas (que demonstravam a capacidade e competência do Brasil), e tachavam os críticos de acometidos do complexo de vira-lata ou pior. Quantas vezes não li que o legado para o país desses dois eventos seria excepcional?

    As festa foi bonita, o espetáculo no Rio foi maravilhoso, a alegria da população durante a Copa foi contagiante, mas o preço que estamos pagando é absurdamente alto. Quanto ao legado, melhor mudar de assunto…

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