O “Maio do Galãozinho”, por Walter Falceta

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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O “Maio do Galãozinho”

por Walter Falceta

Aferrada a conceitos mofados (aplicáveis às duas primeiras revoluções industriais) e a uma arrogância intelectual vetusta, a esquerda foi atropelada pelas “Jornadas de Junho”, em 2013.

Na época, não entendeu a idade dos insurretos originais, tampouco a natureza de suas demandas particulares.

Por fim, permitiu que esse imenso território de consciência fosse rapidamente roubado pela direita, que jogou War e atulhou de botões azuis a nossa Vladivostok.

O preço da lerdeza e da confusão foi o esfacelamento do governo Dilma e, na sequência, a instalação de um novo período ditatorial no Brasil.

Crente em antiquadas legalidades e no código malandro da toga, a esquerda seguiu o mesmo padrão de anomia, ingenuamente confiante de que a juizada tivesse algum apreço por Triboniano, Teófilo e Doroteu.

Esse equívoco tem imagem. É a corrida de Lula para o vizinho, convencido de que a SUV preta da PF é o melhor veículo na busca de sua redenção.

O povo vermelho está contra e tenta, pela força, deter o grande líder. O Cardozo, lá do alto do prédio do sindicato dos metalúrgicos, sorri satisfeito.

Agora, no Maio do Galãozinho, a esquerda organizada adota a mesma postura de distanciamento rancoroso e paranoico.

E ouvimos as mesmas pataquadas do paradigma preguiçoso e tolo: “não é greve, é locaute”; “tinha uma faixa do Bolsonaro no caminhão amarelo”; “não apoio porque eles pediram o impeachment da Dilma”.

No detalhe visto pela lupa, tudo isso é verdade e tudo isso aconteceu. E acontece!

No entanto, nenhum desses fatos e argumentos sustenta o abandono do território de luta, tampouco o desprezo pela causa laboral justa, seja do ignorante fascistizado, seja do inocente que tem como amigo confidente o Malafaia que lhe fala pelo rádio do Mercedão.

A revolta do galãozinho seria um prato cheio para a reflexão do velho camarada Carlos Marx. E ele certamente faria evoluir e aprimorar-se sua teoria dinâmica sobre o materialismo dialético.

Aqui, não! A ideia é instalar redomas sobre pilares de pensamento gerados no Século 19. E até o camarada Gramsci é desdenhado, como se fosse movido pela mocidade irresponsável.

Às portas da quarta revolução industrial, a esquerda brasileira raciocina como se estivesse diante dos rudimentares teares londrinos de 1818.

A realidade corre sobre as dez rodas do caminhão carrancudo. Seguimos rangendo, trêmulos, sobre o carro de boi.

 

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

13 Comentários

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  1. acho que essa questão é muito

    acho que essa questão é muito mais complexa do que sugere o texto, não é possível fazer parte de um movimento fascista, ainda que esse movimento esteja em defesa de direitos básicos, porque, entre outras coisas, essa defesa é provisória, é apenas uma etapa de um projeto que não atende o interesse da maioria..

    .. eu teci alguns comentários sobre isso neste link: https://jornalggn.com.br/blog/jruiz/irmao-caminhoneiro

      1. Esse cabra tem um nome

        Bobo alegre.

        Esse tanque onde ele está não tem combustível nem para ir até a esquina.

        É o discurso do burro que puxa a carroça porque não sabe a força que tem.

    1. A situação é complexa

      e o movimento não tem palavras de ordem e nem liderança unificada.

      Quem gritar mais alto toma a frente.

      A direita não tem planos e a esquerda não confia no movimento.

      Quem se habilitar primeiro a conquistar a unanimidade dos caminhoneiros vai liderar o movimento.

      É uma oportunidade buscando um oportunista.

      Um fato importante, que ouvi do negociador oficial do governo pela  TV Record de manhã.

      A categoria procurou o governo pra negociar por três vezes.

      Na primeira avisou, na segunda publicou nota pública anunciando a greve e antes de iniciar a greve,buscou negociação.

      O governo sequer respondeu.

      A opinião do negociador foi a de que o governo “avaliou mal” a possibilidade ou a força do movimento.

       

    1. não foi o Brasil que acabou…

      foi o povo brasileiro

      que já está sendo visto lá fora como o povo mais inútil do planeta por ter sido educado pela Globo para sempre perder e sempre pagar pelo que perde

    2. Comovente.

      Vanessa traz um depoimento que me comoveu. Mas lamentar que tanto eu como outros apoiadores do movimento não estejamos nas estradas ao lado dos caminhoneiros paralizados é um erro. Minha presença física não teria amplitude maior do que este post. Aos 78 anos de idade infelizmente conheci tantas frustrações como a que se desenha face as respostas deste governo golpista. Fica claro que estamos nesta enrrascada em virtude da aventura do impechment de Dilma . Orquestrado dos ¨states¨com conivência dos poderes constituidos . Fato recorrente, que explica por exemplo a tragédia do Irã, com a queda de Mossadeg, seguido do Xá da Persia, este do aiatolah Comeine e agora na mira deTrump. Coisas do petróleo, benção da natureza, que se torna castigo face a cobiça do império.

  2. Indolência e desídia

    Os ideólogos da esquerda, e seus seguidores, padecem dos mesmos males que atingem todos os brasileiros: Indolência intelectual e desídia mental. Conformam-se em ser repetidores acríticos de fórmulas e modos de ver a realidade. Talvez a origem desse deserto de novas ideias esteja em um sistema educacional baseado unicamente em uma passiva absorção de informações, sem nenhum espaço para a descoberta, a criatividade e a crítica. Esse deserto inicial é, ainda, continuamente salgado pelos meios de comunicação de massa, com a imposição de pseudo-verdades, sem qualquer abertura ao contraditório.

  3. Não é só a esquerda que

    O BRAZIL NÃO CONHECE O BRASIL

    Não é só a esquerda que perdeu a mão. A grande imprensa está sem discurso porque se acostumou sempre a jogar a culpa na esquerda e no PT e o movimento não se liga a esse espectro político. Mas o mais grave é a questão dos blogs progressisitas.  Nessa paralisação as noticias que lemos sobre o movimento nesses blogs são de intelectuais e  gilete press da grande imprensa. Não tem um blog de esquerda que se dignou a ir até uma barreira para ouvir o que os caminhoneiros tem a a dizer. Ou ouvir um caminhoneiro que seja.

    Mas nesses blogs se multiplicaram artigos de sociólogos comparando o movimento à queda de Allende sem fazer a conexão de que é o exército que esta sendo chamado para acabar com o movimento. O mesmo que o exército se calou perante a entrega do pré sal e da política entreguista do Temer. Quando não, leio aqui ou em outros blogs as declarações do Jungman e nenhuma matéria com dono de transportadora. Não tem uma matéria original sobre o ser humano que faz parte desse movimento de paralisação. E por que essa cobertura enviezada? Porque também os jornalistas dos blogs progressistas não entendem o Brasil real e teorizam sobre histórias passadas em outros paises, estatísticas e dados econômicos. Enquanto vivem como a classe média dos patos que tem horror a pobre e trabalhador classe baixa.

    E o que ocorre aqui em baixo:

    1 – como pequena empresária tenho uma série de fornecedores e clientes  no watsapp. Todos estão favoráveis ao movimento, até os dois deles que estão com o caminhão preso em barreira. Mensagens de solidariedade e manifestações de crises pessoais de caminhoneiros arroxados eu recebo várias vezes ao dia.

    2 – Moro numa cidade pequena conservadora do interior do estado de São Paulo em que Aécio teve 70% dos votos na última eleição. E o que acontece aqui? Na barreira do posto que fica em frente da Ambev Agudos tem 600 caminhoneiros parados. 150  deles estão sem dinheiro para comer. Numa atitude inédita, as mulheres de caminhoneiros de Agudos fizeram uma rede de ajuda, estão coletando doações, cozinhando e fornecendo refeições para esses motoristas. Como sei disso? Porque pediram minha ajuda e eu estou contribuindo na doação de alimentos.

    3 – A referencia constante a locaute de transportadoras deixa de considerar que não tem como a transportadora soltar caminhão se ele vai ficar preso na próxima barreira. Também sei disso por experiência pessoal quando pedi coleta e a mocinha que sempre me atende disse que eles não tem como coletar porque o depósito está cheio e se soltar caminhão vai ficar preso na próxima barreira.

    4 – Esse movimento tem que ser coberto mais a sério porque parece  ter sido o momento de inflexão perante a exploração e o desrespeito dos reis e rainhas da mídia, do judiciário e do mercado sobre nós, o povo brasileiro. E quem nos representa na luta agora não são políticos ou jornalistas progressistas:são os motoristas de caminhão que abastecem o Brasil. 

    PS. Essas informações que eu passei serão consideradas pelo blog? Não. Porque importante é o que sai na grande imprensa e as teorias de intelectuais que sabem tudo sobre o Brasil, mas que não andam nas ruas desse país. Nós, o povo,só servimos para compor noticias sensacionalistas, como componentes de estatísticas e objetos de estudos.

  4. Textão !  Bonito ! Só  que

    Textão !  Bonito ! Só  que não entendi a finalidade. Forte ataque à esquerda. Seria um militante da direita, tipo Reinaldo Azevedo, que escreve bem ?.  “Isentão” seguramente não é, seu posicionamento está a anos-luz da “filosofia” marineira platônica, aquela que governaria só com os bons. Da esquerda, fazendo mea culpa ?  Esperaria então algo mais, tipo, soluções, que não vi no textão. Marx redivivo faria evoluir e aprimorar sua teoria dinâmica sobre o materialismo dialético significa que ele mandaria apoiar os que apoiaram o impeachment de Dilma ? O apoio seria extensivo aos patrões “locauteiros”? Sobre Bolsonaro não questiono nada, julgo já saber o suficiente.

  5. A esquerda não tem que se

    A esquerda não tem que se meter no movimento porque:

    1 – a mídia está querendo encontrar um bode expiatório para jogar a culpa e seria uma maravilha jogar a culpa do desabastecimento no PT/Geni de sempre

    2 – o movimento paradista não é da esquerda: é dos trabalhadores arroxados. É um movimento autêntico, sem manipulação de cúpula. Tanto que o governo já faz três dias que declara ter resolvido a crise sem aceitação da base do movimento.  

    3 – a Globo/Globonews e seus miquinhos da grande imprensa quanto mais falarem mal do movimento mais estarão expondo de que lado estão e como o movimento é aprovado pela maioria da população, perderão ainda mais a credibilidade.

  6. “A” esquerda NAO EXISTE, existem esquerdaS

    Que, fora um pequeno conjunto de objetivos em comum, sao DIVERSAS, sobretudo em questoes de categorias de análises, e das próprias análises. E o contrário de esquerda é DIREITA, é com essa que o articulista se identifica? Tô de saco cheio de transformarem essa esquerda mítica em Geni.

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