o ódio no espelho
por Zê Carota
se alguém, um dia, lhe pedir pra ilustrar bem ilustradinho o que significa “talking head”, mostre-lhe o vídeo da miriam leitão naquela entrevista com o candidato nazista.
mas nada justifica uma reação, lamentavelmente, tornada comum por algumas parcelas da esquerda.
o dicionário Aurélio tem, por baixo, uma centena de vocábulos que podem – e devem – ser usados para definir o que miriam leitão representa de doentio e criminoso à democracia, ao país e seu Povo e ao jornalismo.
se para classificar e enfrentar o que e quem leitão representa, alguém que se diz de esquerda limita-se (amplo sentido) a questões físicas e estéticas, isso:
1) iguala a pessoa a miriam, que, muito justamente, foi criticada por, junto com a também golpista cora ronai, na posse de Dilma para seu primeiro mandato, destilar peçonha contra a silhueta e o figurino da primeira PresidentA mulher deste país;
2) iguala a pessoa, ainda, ao entrevistado nazista que, num dos momentos mais abjetos da história recente do país, também alegou questões estéticas como única razão (sic) para não estuprar a deputada Maria do Rosário, provocando contundente e necessário repúdio da esquerda; e
3) criticar-lhe a aparência jamais terá qualquer efeito prático para que ela perca, mesmo como boneco de ventríloquo, a influência que exerce sobre imenso contingente de pessoas que acham que pensar dói. por sua vez, colocar sua credibilidade em xeque terá maior probabilidade de êxito – vide caso do racista william waack.
sempre que a democracia torna-se refém do ódio (como no caso do último golpe, de novo apoiado e sustentando pela emissora que é dona de miriam leitão), um dos maiores desafios de quem se afirma de esquerda talvez seja o de não deixar-se tornar exatamente aquilo que execra.
do contrário, é como um espelho: embora reflita o inverso, a imagem é igual.
pé na reta, fé na curva, e ultrapasse somente pela esquerda.