Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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O populismo bem entendido, por Rui Daher

Ernesto Laclau

Há pouco mais de três anos, perdíamos o cientista político argentino Ernesto Laclau. A partir da leitura de “A razão populista” (2005 – Editora Três Estrelas, 2013), me enfurecia sempre que luminares do jornalismo político nacional tratavam o termo populista de forma pejorativa, na base do Pires, um mal em si.

No Brasil, contraposta à oligarquia rural, a condução populista foi benéfica ao desenvolvimento e, portanto, em certas circunstâncias, necessária a relação direta entre um líder carismático e as massas. Mesmo em períodos quando fora dos preceitos da democracia representativa. Foi entre 1950 e 1980, em meio a ditadores, caudilhos e militares populistas, que o Brasil mais avançou em modernização.

O que veio depois foi alucinação ignorante sobre o que acontecia no mundo da globalização e, em seguida, a polarização daqueles que atônitos tentavam segurar o acordo secular de elites e os que, também atônitos, cediam à governabilidade para poder soltar franjas de emprego, renda e assistência à inserção social. Com pitadas de populismo, ainda bem.

Hoje em dia, temos partidos políticos. Miríades deles. Pra quê, se esperamos que o “povo“, mesmo como categoria abstrata, se materialize nas ruas e, no centro da ação política, afaste a camarilha corrupta e golpista do poder?

Ernesto Laclau me fez retornar aos barracões da Cidade Universitária para revisitar o sociólogo Octavio Ianni (1926-2004) e folhar trechos há 40 assinalados de “O colapso do populismo no Brasil” (1968), a minha edição em frangalhos.

Uia, cara, depois de 50 anos, o professor mata no peito, cruza da esquerda e, lástima,quem anda matutando como refundar a esquerda chuta pra fora.

Há uma boa resenha do livro no link abaixo, para verem que só minto quando visito o Forte de Copacabana: http://www.webartigos.com/artigos/resenha-ianni-octavio-o-colapso-do-populismo-no-brasil/25957/

Sei que preciso aumentar confiança e paciência nos jovens que hoje digitalizam milhões de pensamentos políticos na internet, mas vejam o que acabei de encontrar em outro grande mestre do passado, o sociólogo José de Souza Martins. No parágrafo final de sua coluna para o suplemento do Valor (30/06/2017), assim escreve:

“O populismo que marcou o governo Vargas, que marcou, também, o governo Lula, é apresentado como prática política de direita. Mas no Brasil, de um povo capturado ideologicamente pela herança da escravidão, o populismo viabilizou o protagonismo político do povo, ainda que como base de uma outra versão da usurpação da representação política, a do reavivamento da mentalidade da senzala. Não é casual que a ideologia da legitimidade da rapina esteja associada entre nós ao populismo. O rouba, mas faz”.

Singelo, não?

https://www.youtube.com/watch?v=eVgOODBrCMc]

[video:https://www.youtube.com/watch?v=60NLF2cLr0U

Rui Daher

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