O que o prédio que desabou no centro de São Paulo tem a nos dizer, por Mariana Nassif

O que o prédio que desabou no centro de São Paulo tem a nos dizer

por Mariana Nassif

Sobre o prédio ocupado que desabou em São Paulo, muitas sensações e algumas constatações, além, claro, das coisas estupidamente percebidas, como o bando de classe média se marcando como “salvo” no status do Facebook. Estamos, de alguma forma, todos perdidos. 

Escutei humanistas, sociólogos, jornalistas mas, de longe, a melhor escrita com a qual tive contato veio de uma amiga da escola, a arquiteta e urbanista interessada em cidades e educação Ursula Troncoso e, então, replico aqui embaixo: 

“Ontem mesmo estava conversando com uma argentina, de Buenos Aires, ela disse como a impressionava que o centro de São Paulo pudesse estar tão abandonado na maioria de seu território. 
Ela disse que foi caminhar pela região da Sé num domingo, visitou o Solar da Marquesa, o Centro Cultural Banco do Brasil, lugares incríveis da nossa cidade, e ficou bastante triste com esse abandono.

Eu concordo com ela. Como é possível o abandono desse lugar histórico?

Como é possível que 2.000 prédios estejam abandonados no centro de São Paulo? 
Como é possível tanta gente precisando de lugar para morar e o centro com tantos prédios vazios? 
Como é possível esse desprezo da história em uma cidade tão rica?

O edifício Wilton Paes de Almeida, que desabou no incêndio dessa madrugada, era tombado. Como é possível um bem tombado nesse estágio de degradação?

Essa tragédia não pode se tornar outra coisa senão um marco na nossa cidade, na nossa maneira de fazer política. 
Isso não pode significar nada que não seja atenção das autoridades, da população, dos urbanistas, dos movimentos de moradia, em prol de solucionar essa calamidade. 
O que fez desabar esse prédio icônico de São Paulo não foi a ocupação. Não é culpa das famílias que em busca de moradia pagam até 400 reais de aluguel para viverem de forma precária. Esse prédio está abandonado há muito mais tempo.

O que fez desabar esse prédio é nossa falta de atitude e vontade política. É nossa falta de enfrentamento de um problema que ultrapassou todos os limites possíveis.”

Assumo, então, a opinião da Ursula e adiciono a observação de que vem crescendo desesperadamente o número de famílias vivendo pelas ruas dessa cidade, é absurdamente perceptível – e impossível que não tenhamos a sensibilidade de, nestas eleições que possivelmente vem aí, escolhermos melhor o que fazer com nossas pessoas, inclusive. 

 

 

Mariana A. Nassif

7 Comentários

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  1. Ed. Doriana

    Esse prédio representava a imagem do prefake da cidade. Deteriorado, sujo, carcomido, feio, frio e inseguro. Aqueles coitados que acreditaram que ele pudesse lhes dá um mínimo de guarida, morreram queimados ou soterrados.

  2. “Como é possível esse

    “Como é possível esse desprezo da história em uma cidade tão rica?”

    Isso é de muito fácil resposta: o Brasil não é um país com uma nação de cidadãos, é somente uma enorme área territorial com almas sebosas vivendo nela.

  3. Aluguel em ocupação
    Agora se paga aluguel em ocupação? Aluguel em moradia irregular! Quem estava cobrando? Quem são os fiscais municipais da referida área? E os bombeiros? Eles tinham luz, água e esgoto? Cadê o prefeito? Os impostos evidentemente não eram recolhidos. Quem indicou, facilitou, enganou, recebeu, fechou os olhos, esses é que são moral e criminalmente responsáveis.

  4. Tombado

    Prédio tombado, desabado na cabeça dos indesejados intocáveis desse imenso território cercado pelos proprietários de coisas e gentes.

  5. E o que não falta são operários querendo trabalhar

    Temos que por um fim nessa obsessão com economizar o dinheiro público, o Brasil está numa verdadeira depressão econômica, não é hora de economizar. Aliás, não é hora nem de economistas, é hora de engenheiros. Vamos colocar as “máquinas de imprimir dinheiro” pra rodar a mil por hore e por o povo para trabalhar. 

    Que tal começar reformando todos esses prédios abandonados e entregando para as pessoas que precisam ter onde morar?  E os “proprietários”? Que vão reclamar para o bispo ou se juntem aos cubanos de Miami, para chorarem juntos.

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