O vai e vem do preconceito de classe no Brasil, por Luis Felipe Miguel

O vai e vem do preconceito de classe no Brasil

por Luis Felipe Miguel

A origem popular sempre pesou contra Lula. O slogan “Um trabalhador igual a você” gerava reações contrárias em muitas pessoas, em muitos trabalhadores, que haviam introjetado a incompetência política a que são condenados e definitivamente não queriam alguém igual a eles no poder. Lembro do porteiro do prédio em que eu morava dizendo que não votava no Lula porque não ia votar em um “analfabeto” – ele, que não conseguia produzir um bilhete para avisar que o elevador estava quebrado. Certo ou errado, em Lula, ele via a si mesmo. E não gostava do que via.

Das primeiras campanhas até a vitória em 2002, muita coisa mudou em Lula e no PT, que se foram moderando, reduzindo os horizontes de transformação social, ampliando as parcerias ao centro e à direita, criando pontes com o capital, aderindo às formas tradicionais da política no Brasil. Lula foi deixando de ser o “trabalhador igual a você” para se tornar o líder mundial e o grande negociador. Duda Mendonça explicou como a chapa com José de Alencar seria vendida ao público: dois meninos pobres que subiram na vida, um na política, outro nos negócios. Uma guinada consistente com a mudança no valor central do discurso do partido, da igualdade social substantiva para a “igualdade de oportunidades” liberal.

Parece que com Bolsonaro é diferente. A “simplicidade” do ex-capitão é seu grande trunfo. Mesmo a evidente debilidade cognitiva dele (e de muito de sua equipe) produz uma identificação positiva com o eleitorado. É uma poderosa proteção que tem garantido que o desastroso início de governo não leve a uma queda brusca de popularidade.

Não é difícil decifrar a charada. Ela ilustra a penetração do preconceito de classe no Brasil.

Luis Felipe Miguel

5 Comentários

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  1. De onde vc tirou isso ? Não é

    De onde vc tirou isso ? Não é por causa da opinião de um ou outro analfabeto que devemos generalizar.Lula apesar do massacre na midia ainda é o politico mais popular do brasil.Ja o bozo com um mes,ja esta derretendo como manteiga na chapa.

    1. Se voce leu e não entendeu.

      Se voce leu e não entendeu. Não tem problema, leia de novo,

      de novo, de novo, até entender.

      E olha que é fácil entender o Luis Felipe, heim?

  2. Enxergar além das aparências

    Considero o prof. Miguel, junto com Fornazieri e Jânio, um dos grandes intérpretes da calamidade brasileira. Para ter isso mais claramente, basta invocar a recente polêmica causada pela interpretação do hiistoriador Carlos Guilherme Mota sobre o ‘preparo’ intelectual e profissional dos militares.

  3. É a classe média, não o povão

    O Maringoni já tinha produzido um artigo em que despejava a culpa do bolsonarismo nas classes populares. O PT perdeu por que ficou na “política de identidade”, que só funciona em “bolhas de classe média”. O povão não está interessado em viadagem, nem em parar de bater em mulher; resultado, Bolsonaro.

    Mas então por que “pequena cesta fixada no topo das antigas naus para vista dos marinheiros” o Haddad ganhou no Nordeste, e, no Nordeste, ganhou mais longe no sertão? Por que o Haddad perdeu no centro-sul, e, no centro-sul, perdeu de mais nos bairros de classe média?

    Quem gosta de analfabeto funcional é a classe média, talvez porque se identifique. Os eleitores do boçal não são os analfabetos, os semi-alfabetizados, os que não concluíram a quinta série. Não: os eleitores do Pennywise são os médicos, os advogados, os concurseiros, os funcionários públicos de alto escalão, procuradores, juízes, aqueles que dão carteiraços com seus diplomas de curso superior. Porteiros (e motoristas de táxi, claro) também votam na direita, mas por que convivem todo dia com “doutores” e “madames”, e tiram suas informações daí, não por que são pobres ou pouco educados.

    Mas a classe média “esclarecida” é classe média antes de tudo, e reconhecer que foi a sua classe que votou nisso que está aí, isso não, que a solidariedade de classe fala mais alto.

  4. Alguém me contou: O gerente

    Alguém me contou: O gerente de uma empresa dizia que fora chefe do peão Lula em outra empresa onde trabalhara, e que  era um mau funcionário, não gostava do trabalho, analfabeto. Falava isso quando Lula estava no segundo mandato. Dá pra entender ? O mau funcionário 2 vezes eleito e aclamado no mundo todo. E ele, depois de anos continuava um chefe de prováveis maus funcionários, analfabetos, que não gostam de trabalhar. Pra mim, não precisa haver nenhuma punição ao preconceituoso, ela  vem junto com o preconceito.

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