Os Brasis: fazer-se musgo, tornar-se Multidão, por Arkx

Os Brasis: fazer-se musgo, tornar-se Multidão, por Arkx

as briófitas são vegetais muito antigos, os primeiros a evoluírem no ambiente terrestre, há cerca de 420 milhões de anos. são minúsculas e vivem em colônias. além de indicadores de saúde ambiental, em eco-sistemas degradados são as espécies pioneiras no processo de sucessão ecológica para regeneração daquele meio ambiente.

líquens e musgos são exemplo de briófitas. reduzem a erosão, servem como reservatório de água e nutrientes, fornecem abrigo à micro-fauna e funcionam como viveiros para outros vegetais.

apesar de seu diminuto tamanho e de aparentemente terem irrelevante importância, exercem um papel capital no eco-sistema, o que só é possível por viverem em colônias. sua potência não reside em cada espécime isolada, mas em seu poder coletivo.

vivemos nos Brasis o momento perene do Capitalismo de Crise. incapaz de se auto regenerar e submetido a crises periódicas cada vez mais destrutivas, o Capitalismo incorporou a crise como um modo de governar. as medidas tomadas para superar a “crise” não servem para combatê-la. ao contrário, a “crise” é desencadeada como pretexto para aplicar tais medidas.

portanto, não há nenhuma saída para a crise do Golpeachment que não se fundamente sobre sua nulidade.

o eco-sistema social está degradado, os poderes constituídos perderam sua legitimidade, as instituições faliram e a representação morreu. a única saída para deste deserto é um portal de entrada: iniciar um processo de regeneração no qual a espécie pioneira há de ser Multidão.

numa economia terciária, onde tudo e todos são rede de fornecedores de serviços, com o tempo de vida convertido plenamente em tempo de trabalho não remunerado, um incessante trabalho imaterial e desvinculado do emprego e do salário, agrega valor ao produto através de sua associação com um modo de viver.

a mesma camiseta de malha, idêntica materialmente, tem valor absurdamente diferente caso esteja associada a uma grife. ao usá-la, se faz do corpo um comercial vivo. se está trabalhando gratuitamente para agregar valor a esta grife, mas se experimenta como de fato vivendo o modo de vida associado aquela grife. então nos tornamos apenas escravos felizes com a própria escravidão. mas tanta “felicidade” ilusória só pode redundar em depressão, o distúrbio psico-somático de nossa época.

ao colonizar o tempo de vida, o biopoder expropria nossa energia vital. aos poucos, nos tornamos zumbis num ambiente de anomia. ao biopoder devemos afirmar a biopotência: uma indomável vontade de viver. o cuidado de si, para neutralizar o processo de zumbificação. mas isto só pode ser feito coletivamente, numa sucessão de regeneração do eco-sistema social.

com o Golpeachment todas as máscaras caíram. em situações limites, tudo e todos se revelam como são.

uma cleptocracia colonial e escravagista jamais deixará de ser atavicamente golpista. não é sustentável nenhuma estratégia de conciliação de classes. todo pacto é apenas uma traição adiada.

nenhum neo-desenvolvimentismo terá êxito, a não ser abandonando a própria noção de “desenvolvimento”.

os recursos naturais limitados impõe limites definitivos a uma expansão ilimitada das forças produtivas. do mesmo modo, um meio-ambiente ecologicamente equilibrado só se sustenta numa sociedade onde haja justiça social. nenhuma inclusão social é autêntica quando baseada no consumo. qualquer projeto econômico deve se erguer além da dicotomia natureza/cultura.

o processo de reconstrução da Democracia e da refundação da República, não se dará sob a luz dos velhos modelos. tudo terá que ser reconstruído de baixo para cima, de dentro para fora, sob o paradigma da transversalidade: uma verticalidade profundamente enraizada num ampla e capilarizada horizontalidade.

para a sobrevivência dos Brasis, tudo deverá ser reinventado, a partir de nos mesmos, de nosso modo de viver. a regeneração de nosso eco-sistema social, econômico e político começa com nosso poder de fazer-se musgo e tornar-se Multidão.

p.s.: profa. Cláudia me faz uma correção e pede mais atenção minha nas aulas dela, porque líquens não são briófitas não. 

vídeo: Fazer-se musgo

https://www.youtube.com/watch?v=7k_5aTtlnvk]

vídeo: A Guerra da Água – Audiência Pública BH – 13/06/2017

 [video: https://www.youtube.com/watch?v=dRvVJPTpXU0

 

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Redação

37 Comentários

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  1. Caro arkx, penso que o

    Caro arkx, penso que o caminho proposto pode tornar-se realidade na hipótese de dissolução completa da estrutura social. A plutocracia apelará para a força bruta antes que se chegue ao caos total. Não faz muito tempo vivenciamos sistemas totalitários aceitos pela maioria. O que impediria esse recuo histórico?  

    1. Os Brasis: fazer-se musgo, tornar-se Multidão

      ->O que impediria esse recuo histórico?

      práticas como a registrada no vídeo. a disseminação e enraizamento delas. fazer-se mugo e tornar-se Multidão. grande abraço.

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  2. E Por aí Segue o VLT, dando Voltas Pelo Centro da Cidade Utópica

    Íncrivel, verdadeiro e inesperado milagre, em todo o texto nenhuma vez grafada “lulismo”, além da repetição mais que óbvia, a utopia permanente como sonho meio de vida, descartada liminarmente “a evolução das espécies”, naturais, nacionais, políticas, e por aí segue o VLT, com possibilidades de chegar-se, amanhã, às benesses da revolução que “amamos” tanto, hoje, desde sempre e que seja já, pouco importando “as condições ambientais” disponíveis.

    Enquanto o VLT surgindo detrás do arco-iris não chega, continuamos a trafegar do atraso à desigualdade, determinados e estabelecidos pela pragmática Casa Grande.

    Tupi or not Tupi?

    1. Xará, Você não morre tão cedo

      Xará, Você não morre tão cedo

      Explico. Em todos os artigos do Senhor Arkx, a primeira coisa que faço, antes de ler qualquer coisa, é procurar o termo “LUL” na página. (“LUL” de LULa, LULismo, LULarápio, LULalá, LULopetismo etc), para ver de cara o que nos diz, a respeito, o Senhor Argh. (Sei não, nem quero dar idéia pra ninguém, mas acho que tem mais gente que faz a mesma coisa, além dos Franciscos). Desta vez, a minha busca passou incólume (ufa) pelo artigo inteiro, e pegou primeiro o seu “lulismo”. Como Você diz, não é pouca coisa para o articulista em questão, pelo que ele deve ser saudado, pois parece estar se tratando da estranha fixação.

      Abraço e um ótimo domingo pra Você.

      1. Lulinha Paz e Amor

        Lulismo, Lulismo, Lulismo, Lulismo, Lulismo, Lulismo, Lulismo, Lulismo,

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    2. Os Brasis: fazer-se musgo, tornar-se Multidão

      vcs deviam se envergonhar. vejam os vídeos. não se trata de “militância” de redes socias. e sim de lutas concretas, de pessoas concretas por pautas concretas. é por isto que o Lulismo continua perdido no tempo e nos espaço…

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      1. Pautas concretas?

        Para mim, exemplos de pautas concretas sao coisas como o Mais Médicos, Luz para Todos, Minha Casa MInha Vida, Bolsa Família, etc.

        1. Os Brasis: fazer-se musgo, tornar-se Multidão

          nenhuma pauta pode ser mais concreta e urgente do que a luta pela água. se vc, e todos, soubessem de fato a situação alarmante da água (com a degradação das nascentes) estariam quase em pânico.

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          1. Ok, é uma pauta importante, mas e daí? Vc quer que seja única?

            O fato dela ser essencial nao desmerece em nada as outras pautas citadas.

          2. os Brasis: fazer-se musgo, tornar-se Multidão 04/07/2017 http:/

            ->Ok, é uma pauta importante, mas e daí? Vc quer que seja única?

            não desejo que pauta alguma seja única. e mais: as pautas devem ser definidas pelos envolvidos em lutas concretas por melhores condições de vida em seus locais concretos de moradia, trabalho e convivência.

            o que ocorre é ao contrário: o Lulismo tem apenas uma única pauta -> defender Lula.

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          3. Isso nao é verdade

            Como aliás mostram todas as medidas que listei. E “lulismo” é invençao de sociólogos desocupados, isso simplesmente nao existe. O que existe sao pessoas de esquerda que apóiam medidas concretas em benefício da populaçao, em vez de ficar sonhando com coisas utópicas. E que reconhecem que Lula pode nao ser perfeito, ninguém é, pode ter errado, só nao erra quem nao faz, mas foi e é um grande líder, que fez um governo seguindo essas diretivas, e que defendê-lo é importante para se contrapor às tentativas da direita de justificar o golpe. Que ficar fazendo acusaçoes a ele, e ainda por cima desvirtuadas, só ajuda a direita.

  3. os….

    Perguntar não ofende; então para que 40 anos de Redemocratização pós Anistia de 1978? Qual o resultado de Constituição Cidadã? O neto do “Honesto” é este, que o tio Desembargador e toda a Família Parasita agora condena? Ou condena por ter sido pego? O outro neto do “Honesto” morre no jatinho Caixa 2? Honesto, antes de tudo anticapitalista e socialista, fortuna como herança, familia em cargos públicos abastados, bisneto, Secretário de Estado aos 20 anos. Elite são os outros. O outro neto do também “Honesto”, vice prefeito da maior cidade agora é. “500 paus” por semana num contratinho de gás?! Café pequeno.  Quanto não serão as malas pelas rodovias paulistas? Dizem ser o “Dono”. Não o é. Não precisa. Adminstrador apenas é o suficiente.Toda Familia conjuntamente. Afinal Nepotismo e personalismo combateríamos. Politica não era profissão e alterância no Poder, nosso dogma. Para que termos Empresas e este vil capitalismo, gerando riqueza, conhecimento e empregos, quando temos o Estado para dispor e vender ao nosso bel prazer? Pelo nosso Socialismo AntiCapitalista, é claro !! E eu continuo sem entender como o Brasil chegou a isto em pleno 2017, cercado de tanta gente honesta e desprovida de interesses pessoais? Como foi possível?!   

    1. Os Brasis: fazer-se musgo, tornar-se Multidão

      ->Como foi possível?!   

      pela crise da representação. os representantes, parlamentares ou não, fazem o contrário daquilo para o qual foram eleitos, ou indicados. já não há a menor compatibilidade entre os poderes contituídos e o poder constituinte.

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      1. os….

        Caro sr., como escrevi, isto deveria ter sido resolvido por (re)democratas e hoenstos que vocês tanto admiram. Era assunto para a década de 78/88. Não agora depois de 40 anos. Tentar justificar estes criminosos de agora, porque haviam criminosos naquela época é desprezível, para dizer o mínimo. 

  4. Cidadania

    Que maravilha! Belo exemplo de Ciência Cidadã, de bioetica, de mais uma demonstração de que para além de UM salvador da pátria precisamos de milhões de pessoas de consciência crítica, mobilizadas em favor de BEM COMUM, cidadãos no pleno sentido da palavra, Parabéns Caxambu! Obrigado, mais uma vez, ARKX.

    1. Os Brasis: fazer-se musgo, tornar-se Multidão

      veja os vídeos. depois a gente volta a conversar. não tem varinha de condão alguma. tem gente querendo lutar por melhores condições de vida.

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      1. Arkx, longo prazo é diferente de curto prazo

        Nao duvido que haja algumas, e mesmo muitas, pessoas querendo lutar contra o que está acontecendo. Mas a sociedade em geral está MUITO longe disso. E há retrocessos enormes (leis trabalhistas, previdência) programados para acontecer AGORA. Entao é preciso realismo, se centrar no essencial. Conscientizar para o futuro é importante, eu sei, mas nao pode ser feito como vc faz, “denunciando” como negativas as coisas que sao possíveis agora. É importante defender um governo popular, que nao foi socialista, claro, mas que trouxe inúmeras melhorias na vida da populaçao, sobretudo num momento em que a direita tenta demonizar esse governo e defender o golpe aplicado contra aquele governo. O mais importante agora é evitar, e até mesmo só minorar, o retrocesso dos direitos populares que está em jogo. E a memória das melhoras obtidas durante aquele governo é um elemento importante para motivar a luta contra o golpe e o governo do impostor.

        1. Os Brasis: fazer-se musgo, tornar-se Multidão

          ->mas nao pode ser feito como vc faz, “denunciando” como negativas as coisas que sao possíveis agora.

          nada pode ser mais possível e necessário agora do que Lula, Dilma, Haddad, PT e CUT nas ruas lutando contra o golpe e as contra-reformas. mas é isto o que estão fazendo? óbvio que não! estão, como sempre, conchavando nos bastidores. qual foi a declação deles sobre a vergonha nacional de Aécio reconduzido como senador? apenas um retumbante silêncio. pro quê? faz parte do acordão para salvar Lula?

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          1. Vc só ver o que quer…

            Pessoalmente, preferiria que Lula se candidatasse ao congresso, nao à presidência. e tentasse aumentar o número de deputados contra os sacos de maldades da direita. Mas ele tem direito de optar, nao? E dizer que está conchavando nos bastidores em interesse próprio, sem uma vírgula de prova sobre isso, é calúnioso.

  5. É tempo de saprófitas

    Sabe, aqueles organismos(plantas, fungos e outros seres) que se alimentam de matéria orgânica em decomposição.

    Achei legal o seu artigo.

     

    1. Os Brasis: fazer-se musgo, tornar-se Multidão

      só os antropófagos atravessarão o vale das sombras. o que nos une é a Antropofagia. abraços.

  6. ARKX, você é interessante.

    ARKX, você é interessante. Você fala em em “reconstrução da Democracia” e, ao mesmo tempo, afirma que “não é sustentável nenhuma estratégia de conciliação de classes…”

    Você não percebe mesmo a contradição nesse discurso? Se não há conciliação possível, o que você está propondo afinal? Paredão para as elites? Isso já foi feito algumas vezes na história e deixa eu te falar… quase sempre deu no que não presta. Quase nunca melhorou a vida de ninguém. Exceção para os movimentos trabalhistas (mais de resistência do que “revolucionários”) do século XIX/XX, fundamentais para garantir o mínimo civilizatório em que, por exemplo, os europeus vivem hoje (e que, bem ou MAL, permitiram ao Capitalismo sua sobrevida, etc. etc).

    A elite brasileira é essa coisa que vemos aí. Toda elite sempre vê o povo como contínua ameaça (sobretudo a partir da Revolução Francesa), mas a nossa não só não gosta do povo, como tem nojo do povo, nojo racial mesmo. Enfim, é uma elite que, em boa parte, odeia o próprio país. Como você mesmo cansou de afirmar, nossa elite nunca elaborou um projeto de nação para o Brasil. Foram bem raras e trágicas as exceções.

    Mas sendo advogada do diabo aqui, ou seja, sendo advogada da Democracia moderna (ou seja, estou fingindo que acredito nela): a Democria moderna, teoricamente, não é um negócio bonitinho e cheiroso. Pressupõe tolerância, convivência de opostos. Então, no fim das contas, você adota o mesmo discurso dos raivosos de ‘direita’, de aniquilamento do outro. Ou qual seria outra conclusão possível desse seu discurso? É o mesmo discurso de aniquilamento que ouvimos “deles”.

    Concordo contigo que precisava haver mais educação no Brasil, mais educação de baixo pra cima. Algo que sensibilizasse as elites. Mas o século XIX já passou e as elites simplesmente não ligam mais para discursos humanistas, nem para manifestações. Nem boa parte dos pobres liga mais, a inocência já morreu há décadas… Então, no fim das contas, talvez nem seja mais cabível falar em “Democracia”. Então teu texto, na verdade, é sintomático.

    De todo modo, nada disso tem mais importância.
    Há mais de dois séculos que a produção industrial nos meteu nesta encrenca em que estamos. E tudo indica que ainda vai haver essa reestruturação ‘capilar’ da qual você fala e que tanto deseja. Um novo mundo nascerá! Mas não vai ser pra todo mundo. Não vai ser para todos os países. Países sem elites minimamente nacionalistas simplesmente não vão participar do mundo cada vez mais global que se anuncia. Não é interessante essa contradição?

    Pode ser um pouco infantil de minha parte, uma fantasia arrivista tola, mas acho que parte da nossa ‘elite’ ainda vai se arrepender do que está fazendo com o próprio país. Pois parte dela, ao contrário do que acredita, não tem muito mais do que este país aqui. Está, sem saber, no mesmo barco em que o resto de nós.

    1. Democracia não é a submissão da minoria à vontade da maioria?

      No caso da democracia burguesa, não é a minoria parasitária que impõe sua vontade sobre a maioria trabalhadora?

      Então a classe trabalhadora deveria submeter a burguesia à vontade da maioria dos trabalhadores.

      1. Os Brasis: fazer-se musgo, tornar-se Multidão

        ->Então a classe trabalhadora deveria submeter a burguesia à vontade da maioria dos trabalhadores.

        é óbvio que esta cleptocracia brasileira não tem a menor intenção de conviver com quem quer que seja, nem mesmo entre seus pares. estão se devorando, num canibalismo explícito e insuperável. mas neste processo, consomem com o que restou de legimidade institucional.

        abraços

        p.s.: apreciaria  se vc notasse no no vídeo sobre a audiência pública em BH, o ponto que a crise de representação chegou no Brasil. o presidente da Câmara Municipal, vereador pelo PSDB, defende a criação de uma empresa pública contra a proposta de privatização da água, vinmda de um governador do PT!

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      2. Eu não discordo disso. O

        Eu não discordo disso. O ideal democrático é bonito.

        mas você sabe que a Democracia está na UTI, a política morreu, o Estado não está a serviço do “povo”, grande parte da imprensa há muito não cumpre seu papel democrático, etc. etc. Como modificar essas tendências, ainda mais se elas piorarem, sem repetir os erros do passado é a grande questão.

    2. Os Brasis: fazer-se musgo, tornar-se Multidão

      como vai?

      antes de tudo, o texto se acopla aos videos, que por sua vez registram e impulsionam uma luta concreta de uma comunidade concreta. tudo isto se interconectando e se retroalimentando. este é o aspecto principal que deve ser captado e compreendido.

      seu comentário, como sempre, abre muitos pontos para se conversar. vou me ater no momento num deles:

      ->Então, no fim das contas, você adota o mesmo discurso dos raivosos de ‘direita’, de aniquilamento do outro.

      a psicanálise a teoria Freudiana (e suas variantes) sempre foi um formidável instrumento de controle. não compactuo com isto. ao contrário, defendo que precisamos nos libertar de uma teoria do desejo, e da terapia que dela deriva, que transforma as pessoas em criaturas submissas, conformadas e castradas.

      e nisto os vídeos também são um bom exemplo. estamos pulsando quando exercemos nossa vitalidade. e isto implica em se levantar contra as condições deprimentes da vida que querem nos impor.

      quanto ao ” outro” , vejamos o exemplo do senhor/escravo. o escravo é o outro do senhor? ou é o senhor que para existir precisa aniquilar o escravo enquanto sujeito?

      mais: entre senhor e escravo não há qualquer síntese possível. a afirmação do escravo enquanto emancipado passa necessariamente pelo aniquilamento do senhor enquanto senhor.

      outro exemplo: veja no vídeo sobre a audiência pública em BH, o ponto que a crise de representação chegou no Brasil. o presidente da Câmara Municipal, vereador pelo PSDB, defende a criação de uma empresa pública contra a proposta de privatização da água, vinmda de um governador do PT!

      retruca aí, que a gente continua. muito atarefado no momento.

      abraços

      grande amigo, nosso veterinário, perde o filho numa situação estúpida.

      Estudante de medicina morre em acidente na BR-459, em Itajubá, MG

      Segundo a Polícia Militar, rapaz, que era primo da atriz Nívea Stelmann, capotou ao desobedecer uma ordem de parada e tentar fugir

      http://g1.globo.com/mg/sul-de-minas/noticia/estudante-de-medicina-morre-em-acidente-na-br-459-em-itajuba-mg.ghtml

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      1. Oi, ARKX (se bem que não sei

        Oi, ARKX (se bem que não sei exatamente se sua resposta aí em cima foi dirigida a mim. E, sim, eu voltei aqui pra ver se tinha resposta).

        “o exemplo do senhor/escravo. o escravo é o outro do senhor? ou é o senhor que para existir precisa aniquilar o escravo enquanto sujeito?”

        Há vários tipos de escravidão, mas, limitando-nos à que aniquila totalmente e não tem enfeites, eu diria que o escravo não é “o outro do senhor”. Só autores como Gilberto Freyre diriam algo assim. Sabe aquela noção de uma relação ‘simbiótica’? Pode ser tentadora para alguns, mas eu nunca gostei dela. De qualquer forma, gosto do Gilberto Freyre (grande historiador). Só que usei a palavra “outro” sem essa conotação, esse peso aí…

        O senhor também não precisa aniquilar o escravo, o escravo é o homem aniquilado. E o senhor precisa muito mais do escravo do que o contrário. O ponto realmente sem retorno vai ser justamente quando as máquinas tomarem o lugar do escravo. O que as Revoluções Industriais causaram à humanidade vai ser fichinha perto disso…

        De todo modo, “o exemplo do senhor/escravo” é “O” mistério histórico.

        Está acima das minhas capacidades falar muito sobre isso..

        O que posso dizer é que, ao fazer aquela crítica, não estava advogando a passividade, nem o conformismo. Apenas acho que devemos aprender com a história. Melhor não repetir os erros ‘revolucionários’ já cometidos no passado. Sou simplória assim.

        A revolta, a resistência, é necessária e, realmente, é um exercício de vitalidade. Mas, francamente, a injustiça e o sofrimento nunca deixarão de existir neste mundo. Como escreveu o Albert Camus: “O ‘por quê?’ de Dimitri Karamazov continuará a ecoar…” 

        Claro, temos o dever de tentar minorar o sofrimento humano ao máximo. Temos esse dever. Mas a perfeição não é característica da condição humana. Então não existe nenhum Eldorado a ser encontrado. Em nome do “paraíso na terra”, muita tragédia aconteceu e o 1% só ficou mais poderoso.

        Mas você parece advogar coisas mais simples que o paraíso terrestre, por isso mesmo mais eficazes. Nem foi quanto a isso que eu te critiquei. Enfim..

        Eu confesso que não fui ler a notícia triste. Eu sinto muito pela perda de seu amigo. Neste momento, eu não quero nem imaginar o que é uma perda dessas.

        Estou deprimida e totalmente sem vitalidade. Estou uma vergonha só. Vai ver é por isso que gosto de ler seus textos, dentre outras coisas, quando sinto algum ânimo. é bom saber de gente que ainda está viva neste mundo.

        Abraços.

        1. os Brasis: fazer-se musgo, tornar-se Multidão

          vamos iniciar pelo final, Julia BigBrother (1984 – é uma brincadeira, não depreciativa ou desrespeitosa)

          -> Estou deprimida e totalmente sem vitalidade. Estou uma vergonha só. 

          é óbvio para quem lê o que vc escreve, nem precisa explicitar… se soubéssemos de fato a qtde. de informações que umas poucas linhas podem fornecer (inclusive as minhas, né), todos seríamos muito mais cuidadosos e conscientes no que postamos na web. imagine-se então aqueles terabytes de postagens no FaceBook… tem um filme recente muito legal sobre isto: “O Círculo”.

          grande parte da depressão atual no Brasil vem de se ter sinceramente acreditado nos mitos do Lulismo – em maior ou menor grau, não importa.

          compreendo o que as pessoas estão passando. embora jamais tivesse me iludido com Lula desde quando ele era apenas um burocrata sindical oportunista, em 1978, até seu completo desmascaramento, no segundo turno das primeira eleição presidencial pós ditadura, em 1989.

          mas entre 1979, quando Lula carregado nos ombros das massas se torna um autêntico líder sindical, e 1989 havia alguma perspectivo quanto ao PT, CUT e ao próprio Lula.

          tudo isto acabou definitivamente em 1989. então, apesar de já considerar o PT num grave processo de burocratização, ficou clara para mim a triste constatação que se era inevitável que um dia Lula e o PT chegariam ao governo, já não faria muita diferença. foi o que acabou acontecendo.

          o pior é ainda se insistir num apoio ao Lulismo que só vai gerar mais fracassos e depressão. foi por isto que a partir de 1989 me afastei definitivamente do PT.

          além de tudo, o que o biopoder faz é exatamente isto: capturar a biopotência, produzir a depressão. por isto estar envolvido com  uma luta concreta é também estar envolvido com a vida, ela mesma. é a  única maneira de não ser zumbificado.

          -> Melhor não repetir os erros ‘revolucionários’ já cometidos no passado. 

          -> Em nome do “paraíso na terra”, muita tragédia aconteceu e o 1% só ficou mais poderoso.

          melhor mesmo é analisar duramente os erros do passado (sociais ou pessoais) para não tornar a repeti-los.

          a chamadas “revoluções socialistas” do séc. XX, de socialistas nada tiveram. desvirtuaram-se logo após seu nascedouro.

          por exemplo: Kronstadt é o momento em que a Revolução Russa perde seu rumo e começa a se canibalizar. a contra-revolução vinda de dentro da própria revolução. através do autoritarismo, do sectarismo, do dogmatismo, do centralismo. o maior inimigo da Esquerda é sempre ela própria.

          coletivizações forçadas. ainda hoje, a industrialização forçada na China. e setores da Esquerda ainda defendem o airpocalipse chinês como modelo. como se houvesse bastado a Grande Fome de Mao e a “Revolução Cultural”. são todos Stalinistas.

          e o mesmo pode ser dito dos “governos progressistas” da AL, não apenas Lula. todos caudilhos (machistas) e, em maior ou menor grau, aplicando políticas neoliberais. todos tem horror a autonomia popular.

          -> Mas você parece advogar coisas mais simples que o paraíso terrestre, por isso mesmo mais eficazes.

          o que proponho, e pratico, é lutar para viver plenamente. seja onde se estiver. seja fazendo o que se fizer. construir o poder da Comunidade. é juntos que conseguimos nos constituir como sujeitos de nossas própria História.

          pensar global, agir local. o poder do pequeno: fazer-se musgo para tornar-se Multidão.

          abraços

          p.s.: o Paraíso terrestre só pode ser experimentado como a Utopia do kairós, o tempo intenso do acontecimento.

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  7. Arkxinho, meu caro… vê o meu artigo?? (No. 329 rs)

    Folha confirmou – com off 3 dias depois! – tudo isto aqui que antecipamos na quinta passada (!):

    ATENÇÃO: NÃO SEJA ENGANADO! MORO E DALLAGNOL – E A GLOBO! – FORAM DERROTADOS NO STF

    Ou:

    (título alternativo)

    “Tempos estranhíssimos: foi necessária a boca ~suja~ de Gilmar Mendes para lavar a alma do Estado democrático de Direito no STF”

    Por Romulus

    – Além da decisão do STF ser um NADA (“conteúdo”?)…

    – Esse NADA não se aplica a…

    – … NINGUÉM!

    – Sensacional, não?

    – Em resumo, o acórdão é uma…

    – … declaração de intenções (!)

    – Perfeitamente inócuo juridicamente, mas com uma mensagem “política” clara:

    (1) “Os Ministros do STF são um bando de frouxos”;

    (como bem disse Lula, grampeado por… Moro!)

    Que…

    (2) decidem… ~não~ decidir (!);

    E que…

    (3) enfrentarão o pepino das delações caso a caso (opa!), à la carte, sem definir uma regra geral ~clara~.

    Sabe qual a hashtag que isso tudo aí chama??

    #Acordão!!

     

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    http://www.romulusbr.com/2017/06/atencao-nao-seja-enganado-moro-e.html

     

    1. Os Brasis: fazer-se musgo, tornar-se Multidão

      sempre leio, meu Nobre. em muitos pontos concordo. minha maior discordância é quanto a priorizar a via parlamentar. já ponderei quanto a isto. mais do que os votos dos setores de Esquerda, é quanto ao voto bulo/branco a abstenções que se deve procurar compreender e redirecionar. abraços.

      p.s.: tôu bem ocupado no momento.

      .

        1. Os Brasis: fazer-se musgo, tornar-se Multidão

          não se trata de não atuar na via parlamentar, mase apenas não priorizá-la, colocando-a a serviço dos movimentos sociais de base. aliás, foi assim que o PT nasceu.

          .

          1. Como? Atuar na via parlamentar sem tentar eleger congressistas?

            Nao dá p/ entender sua lógica.

            Com nao priorizar a via parlamentar, eu até poderia concordar, mas a questao é que estamos com pouca força para muito mais. Manifestaçoes OK, até temos feito, conseguimos até algum sucesso na greve geral, mas o governo e o congresso estao se fazendo de surdos quanto a tudo isso. E nao temos uma populaçao conscientizada e mobilizada para mais. O mais importante agora, para mim, é tentar barrar as reformas trabalhista e previdenciária, ou ao menos limitar os danos. Para isso precisamos dos poucos congressistas que temos.

          2. os Brasis: fazer-se musgo, tornar-se Multidão

            -> Manifestaçoes OK, até temos feito, conseguimos até algum sucesso na greve geral, mas o governo e o congresso estao se fazendo de surdos quanto a tudo isso.

            -> E nao temos uma populaçao conscientizada e mobilizada para mais. O mais importante agora, para mim, é tentar barrar as reformas trabalhista e previdenciária, ou ao menos limitar os danos. Para isso precisamos dos poucos congressistas que temos.

            mas por que o Governo e o Congresso não se fariam de surdos? compreendam: teve um golpe! e o golpe foi dados justamente para aplicar imediatamente e em toda sua profundidade as contra reformas neoliberais!

            não se vai barrar este golpe pela via Parlamentar ou Jurídica. só por um amplo movimento de massas nas ruas e nas redes. com ocupações e bloqueios.

            só que então o Lulismo, avesso a qualquer movimento autônimo de massas por definição, entra em colapso.

            e ainda mais importante: é um desrespeito tratar a população como desinformada. a população está majoritariamente contra Temer e as reformas neoliberais. o que falta é liderança disposta a incendiar o país – algo que Lulinha Paz e Amor disse que não faria nem mesmo se assassinassem  sua esposa.

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          3. Q a via parlamentar nao basta, OK

            Mas é necessário canais de transmissao no Congresso, ou as manifestaçoes, ocupaçoes e bloqueios caem no vazio. E Lulismo é bobagem, invençao de sociólogo desocupado querendo holofotes.

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