Os Professores estão doentes o quanto está a educação no Brasil, por Luiz Claudio Tonchis

Os Professores estão doentes o quanto está a educação no Brasil

por Luiz Claudio Tonchis

A escola pública no Brasil passou a ser um ambiente tenso e potencialmente perigoso. Os professores estão doentes tanto quanto está a Educação no Brasil dos mais humildes. Somente quem vive no cotidiano escolar e acompanha a realidade dos profissionais da educação percebe a nuvem cinzenta que ronda o universo da escola. As dificuldades no dia-a-dia da sala de aula corroem boa parte dos sonhos que os levaram a se tornarem educadores. Só quem é professor sabe o quanto é difícil sê-lo diante do caos em que nos encontramos, o quanto lhe custa vencer os monstros encontrados nos desertos das instituições. Isto significa que o humano está em extinção e a crise na profissão é seu reflexo. O resultado é um professor deprimido, ansioso, tenso e com fobias que se manifestam nas mais variadas formas.

A indisciplina, a falta de interesse, o vandalismo, a recusa ao conhecimento, as agressões, o descaso, o deboche e as ameaças são situações muito comuns deparadas pelo professor em cada sala de aula que adentra. Há sempre o risco eminente de um professor ser agredido. Para esse tipo de aluno, que não são poucos, não existem nenhuma autoridade constituída a quem eles devem o mínimo de obediência e respeito. Evidentemente, existem bons alunos, mas são prejudicados por aqueles que não tem o mínimo compromisso com as normas de convivência da escola.  Evidentemente, esses alunos indisciplinados e rebeldes são vítimas do descaso, do caos social e cultural em que o nosso país se arrasta há tempos.

O paradoxo é que o professor e, somente o professor, é responsabilizado pelo caos que se encontra a escola pública atualmente. Mas, ele já não consegue exercer a autoridade dentro da sala de aula e quando tenta fazê-lo pode ser xingado, humilhado, ameaçado e até agredido. Muito pouco se aproveita dos cinquenta minutos de uma aula, boa parte dela se perde na tentativa de colocar a sala em ordem. É muito frustrante ser professor hoje em dia.

Atualmente, muito se fala em escola democrática, a participação das famílias na escola, uma escola aberta às novas demandas contemporâneas, capacitação docente etc. O que é muito positivo, mas muito se fala e pouco se faz. Por outro lado, muitas famílias não possuem as condições intelectuais e afetivas para assumirem esse compromisso.

Essas famílias são vítimas de um modelo histórico de exclusão social, que produziu a desigualdade em todos os sentidos, incentivando a pobreza material, moral e intelectual, além daqueles que são submetidos à violência e à dominação vigente e que jamais podem entrar em justas relações que façam reconstruir o sentido bom do poder. Essas crianças estão sendo criadas à revelia, sem o mínimo exemplo familiar e excluídos de uma educação humanística. Todas essas mazelas refletem diretamente na escola e afetam os profissionais da educação. É muito difícil orientar um aluno que não traz consigo o pré-requisito mínimo para a convivência social e o respeito ao outro e aos educadores.

Tornou-se muito comum que esses genitores, ou pelo menos grande parte deles, quando são chamados à escola em razão de algum problema com o seu filho, se posicionem veementemente a favor do filho e contra os educadores, ou seja, sempre o filho tem razão e o culpado é sempre a escola.

O professor pede socorro, ele está só, doente e solitário. Falo aqui da solidão da sala de aula em que ele, somente ele, tem que dar conta de todos os problemas e de todas as mazelas sociais que refletem na escola. Além disso, é mal remunerado, as condições de trabalho são péssimas e sofre drasticamente com o desprestígio social da profissão.

Pelas peculiaridades do ofício, a carga de trabalho é bastante excessiva e, muitas vezes, são praticamente obrigados a acumular cargos para dar conta da própria subsistência e de sua família.

A quantidade de afastamento de professores para consultas e licenças médicas é absurda. Faltam professores para substitui-los e, por isso, um professor de Matemática, por exemplo, tem que substitui os professores licenciados de outras disciplinas: Biologia, Língua Portuguesa, História etc. O prejudicado é sempre aquele aluno que ainda tem interesse em aprender.

Segundo uma reportagem na Folha de São Paulo por meio do acesso a informação, no Estado de São Paulo, o mais rico da Federação, cada professor da rede pública registra, em média, trinta dias de ausência no ano. Isso significa que dos 200 dias letivos obrigatórios, 30 dias está sem professor ou com um professor eventual que, nem sempre, está apto e preparado para assumir às aulas. O principal motivo é o volume de licenças médicas, que representam, na média, 60% dos dias de ausência na rede estadual e na rede municipal da capital paulista.

Diante dessa realidade cruel, cabe ao Estado assumir a sua responsabilidade com a educação e com a escola e, sobretudo, valorizar o professor, equipar a escola com uma série de ingredientes materiais e humanos indispensáveis à manutenção da ordem e de uma convivência possível para que aprendizagem, em todos os sentidos, possam fluir rumo a uma sociedade decente, através do estímulo e a potencialização da criatividade dos educandos.

Ser professor se tornou uma escolha de poucos. Os baixos salários, a excessiva carga horária de trabalho, a desvalorização social, as condições de trabalho e a falta de plano de carreira afastam as novas gerações da profissão.

Peço aos leitores que perdoe a crueza com que uso as palavras, mas é por necessidade de atenção para estes eventos comuns, mas ignorados e banalizados, para que, pela forma, provoquem reflexões.

Aqueles que ensinam crianças e adolescentes que passam necessidades materiais, que foram ou são violentadas ou estupradas por um Estado ineficiente merecem toda a nossa atenção. Aquele que ensina o outro que não tem perspectivas de futuro numa sociedade cínica, corrupta e cruel mas, mesmo assim, não deixam de acreditar num mundo melhor e possível.  A lição mais importante de um educador é fomentar que é possível a humanidade chegar a um nível de consciência e respeito ao outro e ao meio ambiente que até então são utópicas para todos nós.

 

Luiz Claudio Tonchis é autor do livro A Arte de ser Feliz: na visão da ética aristotélica, é Educador e Gestor Escolar, bacharel e licenciado em Filosofia, com pós-graduação em Ética pela UNESP e em Gestão Escolar pela UNIARARAS e em Gestão Escolar Empreendedora (MBA) pela Universidade Federal Fluminense. Escreve regularmente para blogs, jornais e revistas, contribuindo com artigos em que discute questões ligadas à Política, Educação e Filosofia.

Contato:  [email protected]

 

Redação

7 Comentários

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  1. Sou professora

    Sou professora  readaptada da rede pública do Estado de São Paulo. Concordo absolutamente em tudo que é colocado por você e seu artigo , mas posso acrescentar duas coisas , que no minha opinião , colaboram para essa falência da educação. Não estou falando só das poucas condições que o Estado da para a escola é professor, mas também no engessamento do conteúdo com as apostilas obrigatórias e cobradas no uso pela equipe gestora. Sem nenhuma lógica , sequência ou didática. Depois , a chantagem financeira do ” bônus ”  agregado ao número de alunos não reprovados e ao desempenho pelo Saresp. A maioria das equipes gestoras ajudam na pressão sobre a não reprovação do aluno.     Ainda não se pode esquecer essa política de inclusão . Esqueceram que a inclusão social da criança ciom defasagem ou problemas não necessariamente signifca inclusão intelectual.Oprofessor que fez uma faculdade de matemática tenha competência e tempo para trabalhar separadamente com o aluno ao mesmo tempo que chama atenção de 25 e explica a matéria para mais dez.

  2. Endosso o que foi escrito. 
    A

    Endosso o que foi escrito. 

    A muito vivemos uma situação caótica no ensino. A escola é um microcosmo da sociedade brasileira, com todos seus problemas e mazelas onde, não sei como, também ainda é possível encontrar bons alunos. E eles existem aos montes.

    Mas não adianta ficar chorando. Temos que admitir a realidade: nosso sistema de ensino faliu a muito tempo e ninguém parece se importar.

    Todo sistema de ensino deve ser reformulado de alto a baixo. E a começar pela visão da educação, que deve passar a ser considerada altamente estratégica para o país.

  3. Governo sem autoridade, professores idem

    O grande erro do PT, foi criar um ” governo sem autoridade ” uma jabuticaba que não existe em lugar nenhum do planeta. Achou que poderia ” simplesmente dialogar ” com adversários, e no final criou um sistema de governo anárquico, onde o próprio Lula está para ser preso.

    Tudo isto combinado com o pendor masoquista petista de gostar de virar ” mártir ” , e apanhar da mídia, do ministério público. etc.

    Conheço vários casos de alunos que ” impõe” faltas coletivas nas escolas, desafiando a direção escolar e ainda ameaçam os alunos que não aderirem.

    Nada mais natural que este modo de pensar petista se refletisse nas salas de aula, com professores sem autoridade nenhuma, apanhando de alunos. E no meio de tamanho caos, o Brasil, com o “ex- MiINIstro da educação ” Mercadante ficou em penúltimo lugar no ranking de qualidade mundial de educação.

    Naturalmente Temer nada fez para mudar este cenário, o negócio dele é o poder e o dinheiro, não está muito preocupado com a educação.

    ———-

  4. Escolas milarizadas

    Uma iniciativa que vem sendo um tremendo sucesso, é a escola administrada por Polícia Militar e Bombeiros. Ensinam ordem Unida aos alunos, alunos tem de se levantar para cumprimentar o professor quando este entra na aula, cantam hino nacional, cabelos cortados no estilo militar, disciplina impecável dentro e fora das salas de aula. E as notas naturalmente acabam sendo bem superiores aos colégios tradicionais.

    Aqui alguns  vídeos sobre o assunto:

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=nNWN_G2NN6w align:center]

    Nenhum país consegue ter escolas com rendimento, sem disciplina. Respeito à hierarquia e disciplina proporcionam um ambiente tranquilo para professores e alunos, pois elimina por completo  o bulling.

    Quando apresentei esta notícia, alguns esquerdistas fanáticos, criticaram fortemente, mas sem demonstrar argumento consistente nenhum.

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=nyFe5nZ-GCw align:center]

  5. Falta gestão , estrura e preparo melhor
    Sou morador de Petropolis / RJ e Membro do Conselho de uma Escola no meu bairro.
    Convivo intimamente há 29 anos com o ambiente educacional onde fizarios amigos e pessoas que admiro .
    O que tenho observado na minha vivência com o meio , é que a Educação Brasileira está extremamente doente e falida .
    Faltam profissionais especializados que dêem apoio aos pedagogos, como Psicologos , Assistentes Sociais , Fonoaudiologos e também Auxiliares de Ensino para acompanhar os professores com alunos possuidores de necessidades especiais ou variados deficits cognitivos em sala de aula !
    Falta autonomia na gestão administrativa, financeira e educacional!
    A tutela do Poder Politico e Secretarias de Educação é incoveniente e nefasta para o desenvolvimento de uma Educação eficiente e saudavel !
    A Equipe Gestora tem um verdadeiro temor e até pavor de tomar decisões pontuais , mesmo costrutivas e beneficas , mas que possam contrariar os vícios desses poderes que estão distantes da realidade e do cotidiano de cada Instituição!
    Por fim , algo não menos importante ,e que controbui para esse caos : a falta de preparo adequado , no sentido intelectual e cultural , por parte da imensa maioria do corpo docente , e que se mostra mais danoso ainda no periodo do Fundamental 1 , base de toda a Educação !
    É claro que existem outros varios oitros pontos falhos no Sistema Educacional Brasileiro e que tomariam aqui um imenso espaço para considerações , mas , para mim , o cerne da questão é o que exponho acima !
    Triste , lamentável !
    Um crime de lesa-patria , é como se trata a Educação Pública no nosso Querido Brasil , de tantos potenciais e riquezas humanas , além de naturais , mal aproveitados !

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