Opinião

Pandemia, privatizações e oportunismo: o perverso tripé a prejudicar os mais pobres, por Mário Maurici

Pandemia, privatizações e oportunismo: o perverso tripé a prejudicar os mais pobres

por Mário Maurici

São Paulo (SP) – A próxima conta de energia elétrica deve espremer o orçamento cada vez mais apertado do brasileiro. Com a chamada bandeira vermelha (patamar 2), a estimativa é a de um aumento de 5,5% para famílias de médio consumo. A mesma estiagem que compromete a produção de energia ameaça levar algumas regiões ao racionamento de água. Há poucos dias, um homem faleceu em Goiânia (GO) após um acidente com o álcool que substituía pelo gás de cozinha. O impacto da inflação dos alimentos e serviços no dia a dia é evidente. O índice de desemprego e desalento, em torno de 15% da força de trabalho, é um dos mais altos da história. 

Soma-se a isso tudo a pandemia de covid e um governo federal incompetente e, portanto, incapaz de enfrentar adequadamente a crise sanitária, o cenário que se avizinha ao povo brasileiro mais vulnerável não é nem um pouco animador. O Instituto de Pesquisa Aplicada (IPEA) revelou que nas localidades mais pobres do país morrem três vezes mais brasileiros por covid-19. A inabilidade de gestão e os números do IPEA têm correlação direta de causa e efeito.

A crise, que é sanitária, mas também econômica e principalmente social, é potencializada a cada dia pelas escolhas erradas do governo federal no enfrentamento da pandemia. Hoje vemos o resultado escabroso da opção criminosa pelo descaso aos ensinamentos da ciência, num quadro agora somado pela suspeita de corrupção na compra de vacinas. Daí entra um aspecto que permeia o panorama numa perspectiva mais ampla: o da perversidade.

O lado perverso da maneira como governa Jair Bolsonaro está em não prover adequadamente os mais pobres de instrumentos econômicos, e outros, para o enfrentamento destes dias tão difíceis. Se o Brasil é o campeão em mortes por covid-19 no mundo e a pandemia, como mostra o IPEA, vitimiza os moradores das regiões mais pobres, não é difícil imaginar o quadro nas áreas de grandes aglomerações periféricas das regiões metropolitanas do país. Pois são também os grandes adensamentos populacionais periféricos os que concentram, em sua ampla maioria, as classes sociais mais desfavorecidas.

 O que se faz para as populações mais vulneráveis e assim mais sujeitas ao contágio? Diminuiu o auxílio emergencial, não promove campanhas de distribuição de máscaras e álcool em gel, sequer ações de comunicação de esclarecimento sobre as formas de contágio foram feitas. Em quase nada ajudou os micros e pequenos comerciantes, ao que assistimos uma infinidade de estabelecimentos comerciais com portas fechadas.

E como o incompetente governo Bolsonaro acena para resolver a crise? Para a conta de luz, privatização da Eletrobrás. Para o preço dos combustíveis, venda e desmantelamento da Petrobrás. Já para o desemprego nada de concreto, exceto a expectativa de que com a retomada da atividade econômica volte-se a gerar postos de trabalho.  Apenas a ladainha neoliberal de Paulo Guedes, a qual nem mesmo o “mercado” dá ouvidos a sério.

A perversidade, difusa e opaca, não é perceptível às claras. Esconde-se numa pretensa busca de soluções mas que, sabemos, apenas piora a situação de quem já encontra-se em dificuldades. Porque o receituário do neoliberalismo radical de Guedes tem resultados previsíveis: aumento no fosso da desigualdade, com ausência de empatia pelos mais pobres e suas dificuldades e uma “comovente” benevolência com os do andar de cima e suas “necessidades”. Lembremos, afinal, que a primeiríssima medida do ministro da Economia foi conceder R$ 1,216 trilhão aos bancos para “combater os efeitos negativos da epidemia de coronavírus sobre o sistema financeiro”.

Como pouco pode-se esperar do governo federal é ao nível do Estado – e por meio do Parlamento – que pretendemos contribuir de alguma maneira para minorar a difícil e triste realidade de tantos brasileiros em São Paulo. Foi assim que apresentamos, eu e os colegas Leci Brandão (PC do B) e dr. Jorge do Carmo (PT) o projeto de lei 413, que propõe a suspensão do pagamento e cobrança das tarifas de energia elétrica, água e gás encanado para os mais pobres.

Trata-se de uma iniciativa bastante direta, cujo benefício é sentido imediatamente no dia a dia das famílias e pode fazer a diferença entre uma refeição ou não. Lembremos que o país voltou ao mapa da fome, da ONU. Nunca os índices de desemprego e desalento foram tão altos, sem contar com a recente precarização do mercado de trabalho.

A medida, que aguarda aprovação na Assembleia Legislativa, significa um esforço e um contraponto ao que faz o governo de Bolsonaro. Ou seja, é um exemplo de que em um momento excepcional como o atual é imperiosa a tomada de iniciativas diretas dentro do alcance do Estado. Afinal, como diz o slogan, “quem tem fome, tem pressa”. 

Mário Maurici é deputado estadual pelo PT-SP, foi vice-presidente da EBC, vereador, prefeito de Franco da Rocha, presidente da Ceagesp, vice-presidente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) e secretário de governo e de comunicação de Santo André.

Este artigo não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN

Redação

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