Para ficar em casa é necessário primeiro ter a casa, por Rogério Maestri

O certo nesta pandemia é chamarmos a atenção que depois do governo Dilma, lentamente, porém de forma constante, os programas minha casa, minha vida foram sendo cortados, assim como programas de saneamento básico.

Foto: Divulgação

Para ficar em casa é necessário primeiro ter a casa, por Rogério Maestri

Muito tenho lido e tenho escutado nos meios de comunicação e de jovens e brilhantes cientistas as palavras:

“Fiquem em casa”.

Para mim é simples e o faço porque estou no grupo de risco (67 anos + um pequeno problema cardíaco), porém para mim que já estava aposentado por tempo de serviço (mais de 35 anos) e já havia moldado o meu comportamento como alguém que passava grande parte do dia em casa, tirava uma ou duas horas por dia para fazer pequenas incursões na rua, porém a perda dessas horinhas não foram dolorosas, saio agora no máximo essa mesma quantidade de tempo por semana.

Comecei meu texto com descrição da minha vida doméstica por um motivo muito simples, o isolamento social ou melhor, o distanciamento físico, o famoso “fiquem em casa” cabe para mim, porém como já estava me informando desde janeiro desse ano não precisei de ninguém para me dizer isso, já sabia.

Porém há um jogo que o atual ocupante da cadeira da presidência da república está fazendo que é totalmente falso pois diz para se fazer algo ainda mais absurdo, uma hipotética quarentena vertical (???).

Uma discussão se a quarentena deve ser vertical, horizontal ou perpendicular, tudo isso é uma mentira para parte imensa da população, pois estão esquecendo que:

– Epidemias não são problemas médicos, são problemas sociais e sanitários.

Vejo na Internet jovens cientistas que falam como as coisas não estão saindo como eles determinam em sua sapiência, falam o Brasil não está fazendo respeitando a quarentena, o brasileiro não está fazendo isso ou aquilo, ou seja, como se todos pudessem fazer exatamente o que eles dizem, como a culpa das mortes são dos brasileiros.

Talvez eles devessem ir até a Suécia, lá naquele país as pessoas jovens não estão fazendo isolamento social e poucos dos jovens ricos e suecos, não os imigrantes, estão morrendo, porém as gerações mais velhas por pequenos erros do “eficiente” serviço de saúde sueco esvaziaram definitivamente um terço das casas de repouso das velhas gerações, mas foi um pequeno erro!

Pois bem, não estamos na Suécia, onde mais da metade da população vive sozinha, algo que em outros países desenvolvidos não ocorre, mas um país em que se dão o luxo da maioria da população morar sozinha, talvez fosse o lugar ideal para fazer a propaganda do “fiquem em casa”, porém no Brasil mais da metade da população vive em casas precárias em que habitam várias pessoas e muitas vezes sem água e qualquer outro serviço básico de saneamento e de saúde da população.

O certo nesta pandemia é chamarmos a atenção que depois do governo Dilma, lentamente, porém de forma constante, os programas minha casa, minha vida foram sendo cortados, assim como programas de saneamento básico.

Se no Brasil cada brasileiro tivesse uma casa com “luxos” tais como água corrente e vaso sanitário e tivessem no mínimo dois quartos poder-se-ia dizer “Fiquem em casa”, porém para ficar em casa primeiro tem que ter uma casa, e se cada família brasileira tivesse o que se pode chamar de casa e ao mesmo tempo não se tivesse nem um respirador, ventilador ou qualquer equipamento médico, ou mesmo UTIs, o número de mortos e doentes seria uma fração mínima dos que vão morrer mesmo que se compre um milhão de aparelhos.

Epidemia não é um problema médico, é um problema social, o que mata não é a ausência de médicos ou ventiladores, mas sim quartos com janelas e banheiros com água, no fim de toda essa epidemia se for feito um levantamento de mortos em função do nível de vida, se verá claramente que após um nível mínimo o número de mortos por milhares de pessoas acima dessa renda será mínimo.

Nos 10 anos de existência do programa de habitações populares foram entregues entregue mais de 4 milhões de casas, entretanto após o golpe contra Dilma nenhum projeto pela faixa 1, onde os subsídios da União chegam a cerca de 90% do valor do imóvel foram lançados, e já na faixa 2 de rendimentos familiares até R$2.600,00 também foram paulatinamente diminuídos, ou seja, a morte de milhares de brasileiros.

Esses centenas de milhares de brasileiros que por mais que escutem “Fiquem em casa” não poderão “obedecer” os sábios infectologistas, simplesmente porque não tem casas para ficar.

Redação

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