Por que o exército ainda não interveio?, por Rogério Maestri

Por que o exército ainda não interveio?, por Rogério Maestri

A grande incógnita que há no Brasil nos dias de hoje é por que o exército não interveio ao lado de Bolsonaro ao dar um autogolpe?
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Há diversas opiniões que colocam perigos tais como opinião internacional ou mesmo uma revolta popular que num futuro a médio prazo poderia simplesmente causar uma terra arrasada em todo o Estado Brasileiro, mas há outro problema que todos estão minimizando, mas é algo a curto prazo que pode levar a ruptura da cadeia de comando de toda as forças armadas.
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A base principal de apoio de Bolsonaro são as polícias militares e qualquer movimento de ruptura da ordem constitucional levará necessariamente ao empoderamento dessas polícias em relação ao próprio exército, ou seja, haveria uma inversão em que constitucionalmente as polícias militares estão em caso de necessidade subordinadas às forças armadas. Se há um autogolpe de Bolsonaro ele não tem confiança no exército, pois sabe que os militares poderão eventualmente o derrubá-lo, logo as polícias militares que são mais fragmentadas e tem maior lealdade a Bolsonaro do que ao exército, poderão posteriormente simplesmente reverterem as posições, ou seja, tornando o exército uma unidade de apoio às polícias militares e jogando o papel dessas a simples proteção das fronteiras, o seja, transformar às tropas do exército como uma patrulha de fronteiras.
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A única solução do exército para um autogolpe seria uma intervenção profunda nas polícias militares, valendo-se de dispositivos constitucionais e retirando todo o poder dos comandos inclusive dos comandos operacionais, ou seja, comandos como de tropas especiais e destacamentos com mais poder. Entretanto esse tipo de operação não pode ser feito com um mínimo de apoio em alguns elementos de cada tropa, pois se assim não for feito a possibilidade de motins é imensa.
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Outro problema que se deve levar em conta é que nos baixos escalões do exército a penetração da influência de Bolsonaro é muito grande e com isso também pode haver sublevação da tropa contra o comando.
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Em resumo, exceto a inação das forças do exército num autogolpe de Bolsonaro o caminho para o apoio dos comandos militares é altamente complexo e uma equação de difícil solução.
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Agora alguém pode perguntar. Pode as polícias militares agirem por conta própria?
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Certamente que não, pois as polícias militares tem um treinamento que não comporta esse tipo de ação e por serem forças estaduais sob o controle teórico dos governadores, essas para romper a ordem constitucional terão que ir contra os governadores e se algumas dessas forças, não precisa ser muitas, mantiverem a lealdade aos princípios constitucionais o autogolpe certamente falha.
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Também há a possibilidade de que uma pequena fração das forças armadas e polícias militares se mantenham dentro da ordem constitucional, não aderindo ao autogolpe e tiverem algum contato com outros países hegemônicos, como o próprio Estados Unidos e se tiverem esse contato poderão contar com apoio logístico que definiria a queda do autogolpe em questão de dias, mas isso com enfrentamentos reais. Porém temos que levar em conta que o exército brasileiro assim como as outras armas, não tem uma logística para enfrentar qualquer situação de combate por períodos mesmo que curtos, ou seja, uma secessão parcial pode ocorrer e poderá causar um dano muito maior do que os objetivos de um autogolpe, principalmente porque uma crise econômica internacional com características inéditas se avizinha, ou seja, a ocupação do poder por um governo não constitucional com a movimentação completamente imprevisível no cenário internacional coloca um enorme ponto de interrogação na sobrevivência de um governo que não seja reconhecido por parceiros importantes internacionais, por exemplo, se a comunidade europeia ou mesmo alguns países importantes dessa comunidade mostrar abertamente a sua oposição a um novo governo sem base constitucional o sistema econômico nacional se esvai, as contradições internas (econômicas) se agudizam e a sobrevivência de um Estado de Exceção não poderá ser mantida por mais do que menos de uma dezena de meses.

Redação

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