Por que os eleitores brasileiros escolheram o “mensalão”?, por Rogério Mattos

Por que os eleitores brasileiros escolheram o “mensalão”?

por Rogério Mattos

Por que os eleitores brasileiros, ao optarem pelo “novo”, colocaram o baixo clero, o “centrão”, no poder e assim elegeram os temas mais rejeitados como a mesada a políticos ou a formação de quadrilhas parlamentares?

Enquanto isso o alto clero continua com suas roubalheiras, com o Supremo, as Forças Armadas, com tudo…

É bem o caso comentado por Nietzsche (Genealogia da moral, § 146):“Quem deve enfrentar monstros deve permanecer atento para não se tornar também um monstro. Se olhares demasiado tempo dentro de um abismo, o abismo acabará por olhar dentro de ti.”

Como se formou o monstro? Na sequência de uma linha reta que demostra o mesmo motivo: o tema que relaciona as jornadas de junho de 2013 com as eleições de 2018 é a busca pelo “novo”. Mas, pelos motivos mais banais, de forma alguma se pode falar de “novo” com a eleição de Jair Bolsonaro: o de ser parlamentar por três décadas e por pertencer ao “centrão” ou ao baixo clero da Câmara como tantos outros personagens – a depender – apagados ou exóticos

O que as denúncias mais recentes contra a família do futuro presidente revelam é o modo de vida desse extrato de políticos profissionais. Desde a assessora vendedora de açaí, a doação da JBS, passando pelo motorista que anda no banco de carona até o fato de Bolsonaro figurar na lista de Furnas.

O episódio da Lista de Furnas circula há bastante tempo e, caso fosse investigado, seria um caso didático a respeito do funcionamento habitual do Congresso brasileiro. É fácil lembrar que nas barganhas para se votar a favor do impeachment de Dilma, Romário pediu e conseguiu uma diretoria em Furnas. A Lista de Furnas é uma espécie de corrente que liga o alto ao baixo clero. Silêncio na sala.

O problema do baixo clero é que ele é isso mesmo: inferior. As grandes jogadas, os acertos com o capital financeiro internacional, as contas CC5, a dilapidação do patrimônio público, o cúmulo de riqueza que pode ser entrevisto no caso, por exemplo, de José Serra, ou o misterioso apartamento tucano, uma casa de câmbio que trocava moedas estrangeiras em dinheiro vivo – nada disso “vem ao caso”. O que importa é o novo.

O fato de mais de uma centena de delatores estarem soltos enquanto Lula e Vaccari estarem presos não apavora ninguém. Muito menos estar intacta a fortuna dos beneméritos criminosos confessos. De outro lado, Geddel e Cunha estão presos: políticos a varejo do baixo clero para servir de exemplo da eficiência da justiça brasileira. Temer deve estar tremendo nas bases com a terceira denúncia que recebeu da PGR. Como mais um membro do “centrão”, sua prisão também servirá para amaciar a moralidade pública.

Aí você vê como ele foi burro achando que sua união com Cunha e o golpe contra Dilma iria lhe trazer as graças dos donos do poder. 

No mais, o PP, partido de Bolsonaro até ele criar o “novo”, gordo e esquisito PSL, é o partido que tem mais políticos investigados. Sua convivência nesse meio, além dos 100 mil reais confessadamente recebidos da JBS, não interessa à mesma moralidade pública. Onix Lorenzoni e seu divino perdão explicam em parte como são obtidas essas concessões feitas pela “sociedade” (high society).

No meio popular propriamente dito, acredito que vale o que disse em outra publicação: O descompasso entre economia e realidade no Brasil, acaba por produzir o efeito de não se vincular um significado político a uma realidade social (não seria um empenho doutrinador do PT que resolveria esse descompasso histórico na percepção do brasileiro). Como resultado, para a população de um modo geral, pouco importa a eleição entre um ou outro candidato. Passa a impressão de que tudo o que é imaginado acaba por apontar sempre para a mesma realidade. Supostamente vestir farda (porque nem isso o capitão talvez jamais foi visto) e dizer, como o pessoal de junho de 2013, que é “contra tudo o que está aí” já serve.

O dado concreto é que Roberto Jefferson não é exatamente um ficcionista: pressionado pela CPI dos Correios, levantou uma palavra de ordem, “mensalão”, mas atribuiu a políticos errados. O que se mostrou extremamente útil. Deu o nome popular para algo muito antigo e que Temer continuou a fazer à luz do dia soltando recursos para emendas parlamentares para sua base aliada.

A parte ficcional coube a justiça e a mídia inventarem, sacudindo as bandeiras do neomacartismo e colocando o PT como uma quadrilha ao estilo Al Capone. O desejo difuso pelo “novo” como expresso por parte da classe-média e das classes populares (por sua vez, impedidas de exercerem seu direito pleno de voto tanto pela tramoia da biometria, pela prisão do Lula, pela correria do TSE em apressar a escolha das chapas e no seu objetivo de criar uma eleição asséptica, sem bandeiras, panfletagens e que tais – muito parecido nesse caso com junho de 2013) acabou se materializando.

A política do baixo clero, do chamado “mensalão”, acabou por prevalecer e o alto clero continua roubando como nunca. Por exemplo, a isenção de impostos de Temer a petroleiras estrangeiras que retirarão mais de 1 trilhão de reais em arrecadação nos próximos anos é uma jogada de bispos e não de padres. Se foi um cônego ou padreco qualquer que assinou a medida foi obedecendo ordens superiores. E o governo Bolsonaro já arranja, também à luz do dia, roubalheiras cada vez mais hollywoodianas.

E isso não tem nada a ver com o “mensalão”, que continuará firme e forte depois que o povo “escolheu” essa opção, claramente limitado por toda sorte de manobras que fizeram dessa última eleição a mais artificial de toda a história, talvez até se comparada com as que ocorriam durante o Império. Algo a ser pesquisado.

A busca pelo “novo” ou até a busca por Ciro Gomes, por exemplo, mostra que a inovação não nasce a golpes de força ou na opção por supostos “carismas” (o Bozo também entra nessa história; parafraseando Jucá: com Ciro, com Barbosa, com tudo). O fim do governo Bolsonaro (daqui a um mês ou daqui a oito anos – tudo é possível atualmente) talvez seja o momento onde se revele não exatamente a novidade, mas o que de maduro, se tornará inovador. E Lula e o PT continuarão a não ser coisa do passado.

Já que iniciei falando do óbvio, terminarei do mesmo jeito: todos os que se apresentam ou optam pelo “novo” tem alguma da história brasileira. É bom lembrar o caso de durante o processo de impeachment quando pediram “diretas já” no meio da luta pela manutenção da legalidade. É uma contradição em termos e mostra a idiotice generalizada. Isso para ficar com o suposto setor mais esclarecido, a chamada “esquerda”.

Lula Livre! Fora Bolsonaro! Abaixo o STF e as Forças Armadas!

Redação

3 Comentários

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  1. País sem Forças Armadas não

    País sem Forças Armadas não tem soberania.

    Só que nossas forças armadas são uma força de ocupação Americana paga pelo contribuinte Brasileiro

    Como nos defenderemos sem Forças Armadas ??? E o pior, como nos defenderemos com essas forças armadas ?

    1. Perigo fardado
      No Brasil e ao longo de quase um século, a burguesia urdiu o fantasma do “perigo comunista” para preservar seus interesses inconfessáveis. Para tal, sempre contou com o apoio do estamento parasitário militar. Todos os golpes, todo vilipendio ao estado de direito, aos diretos humanos, ao republicanismo e sua irmã raquítica, a tal da democracia burguesa, enfim, todas as barbaridades que explicam o atraso do país e suas injustiças, foram perpetradas com o auxílio das forças armadas ou mesmo diretamente por elas.

      Resumindo, o perigo não é nem nunca foi o comunismo. O perigo é as forças armadas.

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