Quando o samba é refém da ignorância, por Augusto Diniz

D. Ivone Lara e Fabiana Cozza

Quando o samba é refém da ignorância

por Augusto Diniz

A negação da identidade nacional talvez seja uma das piores formas de preconceito. Ela tem a ver com a não aceitação da história em troca da ignorância do presente – cai na conversa mole quem quiser; ninguém é capaz de mudar a ciência da evolução de séculos.

Pode-se escrever de vários jeitos a formação do brasileiro, mas não se pode negar que a nossa cara é uma união de raças (não necessariamente só de caracteres hereditários, mas de comportamento), ora entre negros e índios, ora entre índios e brancos, ora entre brancos e negros – ou as três juntas.

Dessa convergência surgiu uma infinidade de expressões e valores. Na cultura, o samba é sua mais representativa gênese. Dessa criação há um sem número de personagens ao longo do tempo – alguns mais representativos outros menos ou com nenhuma caracterização.

Nesse tempo atual, diria que a cantora Fabiana Cozza se insere por completo na representação do samba pela sua raça, formação, significância, contribuição, capacidade e convivência com o gênero musical.

Mas que diacho leva movimentos a recusarem ela a representar D. Ivone Lara no teatro, como ocorreu esses dias – levando a cantora a renunciar o papel? D. Ivone, filha de pais negros, é uma afirmação efetiva da identidade cultural brasileira tanto quanto Fabiana Cozza, filha de branco com negro.

Mas que tribunal é esse que renegou a constituição cultural brasileira? É o mesmo que levou outro dia o músico dito sertanejo César Menotti, num programa de TV, a dizer em meio a gargalhadas que samba “é coisa de bandido”? Dessa gente não lhe faltam apenas conhecimento, mas algo muito mais sério: civilidade.

Redação

5 Comentários

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  1. Totalmente de acordo. Esse

    Totalmente de acordo. Esse episódio deplorável é uma evidência cabal do radicalismo extremado que costuma acometer os militantes das causas identitárias. Fabiana Cozza é simplesmente perfeita para o papel de Dona Ivone Lara, principalmente, pelo talento e a familiaridade com o repertório da grande sambista, com quem chegou a compartilhar o palco (sem falar na aprovação da família). Alegar que não é “suficientemente negra”, é demonstração de indigência mental e intolerância à toda prova, por parte desses radicais que só enxergam o mundo através das suas lunetas de estreito campo mental e manifestam níveis de intolerância e preconceito no mínimo iguais aos dos intolerantes e preconceituosos com menos melanina, que são alvos das suas críticas e militância.

    Desde quando a grande arte deve ser regida pela melanina? No Rio, está em cartaz uma montagem de “Romeu e Julieta” de Shakespeare, em que a protagonista é uma atriz (negra), Bárbara Sut, filha de mãe branca (Fabiana é filha de pai negro e mãe branca). Algum desses “patrulheiros” intolerantes reclamou ou, ao contrário, saudou a escolha como avanço na luta contra os preconceitos? Nos Estados Unidos, o musical “Hamilton”, sobre os Pais Fundadores do país (todos brancos e vários deles escravocratas), foi protagonizado por atores negros e de origem asiática, o que foi celebrado como avanço na afirmação da arte sobre o purismo e a intolerância. Por que, diabos, logo aqui no Brasil, onde a miscigenação étnica foi e continua sendo muito mais intensa que nos EUA, haveria de ser diferente? 

    De resto, é lamentável que Fabiana tenha desistido do papel por conta da intolerância desses radicais, cuja atitude em nada contribuem para a luta contra os preconceitos que, infelizmente, ainda infestam o nosso sofrido País.

     

  2. A benção a todos os sambista de meu Pais!

    Uma pena essa patrulha em cima da Fabiana Cozza. Acredito que a propria do Ivone Lara, se viva, não permitiria isso e mais, estaria honrada em ser interpretada por tão bela cantora.

    Quanto ao samba, o tal que falou isso fez uma demonstração cabal de sua profunda ignorância e o preconceito que vai sempre junto. 

    1. Eu aqui pegando o bonde

      Eu aqui pegando o bonde andando, estou por fora do assunto, fiz um busca e o que vi foi que:

      As duas eram como que irmãs, porque cargas d ´agua essa ignorância surgira exatamente agora, depois da morte de Ivone Lara…tenho a impressão de que Fabiana assumia suas origens…num video que perdi um link Fabiana é criticada por ter sido escolhida para o papel de Ivone Lara, isto por não se preta, talvez tenha sido este o motivo da sua recusa…abração….

      [video:https://www.youtube.com/watch?v=i1DW8HIpG80%5D

      [video:https://www.youtube.com/watch?v=j1D3wM299TA%5D

      [video:https://youtu.be/HM_VUyXX8Io%5D

      [video:https://www.youtube.com/watch?v=TCXgmrecFoE%5D

      [video:https://www.youtube.com/watch?v=jyQtLLkyyhw%5D

    2. Achei o video….talvez tenha

      Achei o video….talvez tenha sido este o motivo: a critica à escolha dela Fabianna Cozza em detrimento de pessoas de pele de cor negra…..parece ser impossivel omar tomar posição e ficar de um ou outro lado…….

      Neste fim de semana assisti ao filme Rogério Duarte, tropicalista, que teve idas e vindas na vida….num momento do filme ele diz que o Brasil não é um pais cartesiano, pelo contrário, é essa confusão mesmo….e isso é positivo..,.esse nosso traço pode ser fruto disso que o autor aponta no texto: essa mistura de raças….

      [video:https://www.youtube.com/watch?v=Fg5gizhLWiA%5D

      [video:https://www.youtube.com/watch?v=irVaytN_N34%5D

      [video:https://www.youtube.com/watch?v=5gaUUEnFV2s%5D

      [video:https://www.youtube.com/watch?v=T2zyAJemuew%5D

       

       

  3. Estava faltando o branco ”um

    Estava faltando o branco ”um banquinho e um violão” para analisar o índice civilizatório dos negros incultos que rejeitam ”blackface reverso” para satisfazer e tentar amenizar a rejeição os brancos pela raça negra. Parabéns…

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