Sobre a má alocação de recursos e outras bobagens, por Nelson Marconi

A depender apenas do mercado, os recursos continuarão se direcionando aos setores mais rentáveis, que não são, no caso brasileiro, os mais dinâmicos.

Sobre a má alocação de recursos e outras bobagens, por Nelson Marconi

A equipe econômica continua mostrando a que veio e desmontando todas as possibilidades de crescimento sustentado com a geração de bons empregos. Nas últimas semanas anunciou que vai liberar o uso de imóveis como garantia de crédito (medida essa que contribuiu para a crise dos subprimes nos EUA); ofendeu e desmotivou todos os servidores públicos; aceitou a perda da condição de país em desenvolvimento na OCDE, o que nos concedia uma série de vantagens tarifárias e negociações comerciais; disse que vai desmontar um dos principais instrumentos de política industrial utilizado no mundo inteiro, as compras governamentais de produtos locais; e, não satisfeito, disse que o país vai voltar a crescer por tudo isso e porque não haverá mais a “má alocação de recursos” que o governo promove. De novo, estão querendo jogar o bebê fora junto com a água do banho.

Vamos conferir então o que configura, realmente, uma má alocação de recursos. A tabela abaixo mostra a evolução da participação percentual de cada setor no total de ocupações (conceito mais amplo que emprego) no Brasil entre 2010 e 2017, e o valor da remuneração média anual em cada um destes setores em 2017 (como os dados são das Contas Nacionais, não é possível mostrar dados mais recentes). Nota-se claramente que praticamente metade das ocupações encontra-se nos setores de serviços de baixa intensidade tecnológica (seguindo a classificação da OCDE) e que praticam, por consequência, baixas remunerações. Além disso, a participação das ocupações nestes setores tem crescido. Em contrapartida, os setores mais dinâmicos da economia (indústria de transformação de média-alta e alta tecnologia e serviços modernos) exibem pequena participação na ocupação, e ainda por cima decrescente nos últimos anos.

Essa sim é a má alocação de recursos e, a depender apenas do mercado, os recursos continuarão se direcionando aos setores mais rentáveis, que não são, no caso brasileiro, os mais dinâmicos citados acima. O que se vê no mundo inteiro é a retomada de políticas industriais para estimulem os ganhos e a rentabilidade dos setores que são mais importantes para cada economia, seja em relação à geração de tecnologia ou de empregos de qualidade de modo a expandir a chamada classe média. O que o nosso governo do atraso está fazendo é o contrário do que está ocorrendo no mundo: eles estão abrindo mão, de forma simplória, de qualquer intervenção do Estado na economia, ou em outras palavras, de uma estratégia de desenvolvimento que associe ações públicas e privadas e se faz necessária para um país em nosso estágio de estrutura produtiva e renda per capita. E ainda tem gente que acha lindo crescer 1% ao ano, situação em que nos encontramos há 3 anos, caminhando para o quarto; não, não, já faz muito tempo que a crise passou, não dá para continuar responsabilizando-a. Assumam que vocês preferem um país crescendo pouco desde que a ideologia conservadora prevaleça.

Redação

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