Sobre as críticas ao Plano B como rendição ao Golpe, por Daniel Melo

Sobre as críticas ao Plano B como rendição ao Golpe, por Daniel Melo

O momento é de transição do regime político, situação na qual ocorre uma mistura do ontem, do hoje e do amanhã. O ontem foi o governo de conciliação do PT donde  parte da esquerda ainda não saiu, como a maioria da  máquina sindical e aqueles que ainda apostam numa possibilidade de retorno ao poder pelo processo eleitoral. A grande derrota se deu no ontem, antes mesmo do impeachment e da prisão de Lula, e foi a perda do espaço político pela desmobilização pelega dos movimentos sociais nos anos de governos PT, quando se acreditou que os problemas se resolveriam por cima.

O amanhã da política, apesar de ter uma componente de aleatoriedade, não é fruto de processos estocásticos, mas da ação das forças políticas e é uma construção em permanente transformação. Logo, na política o amanhã vai se materializando e se revelando aos poucos e se transforma na realidade, no hoje.

O analista político é um agente de vanguarda dessa transformação por conseguir enxergar as tendências e antecipar a realidade futura. Porém, saber onde devemos chegar não é suficiente para a imediata  transformação do processo de luta política, da substituição da luta pelas vias institucionais pela da mobilização popular.

Porém, a mudança só é imediata no mundo das idéias e desejos de alguns analistas políticos, os quais compreendem já a nova realidade política e sabem ser na luta popular a  única saída política para um golpe que é amplamente institucional. Ocorre que no hoje a retórica destes se assemelha a comandos de generais a seus comandados para que morram em uma batalha cujo sentido ainda lhes é incompreensível. Assim, não surpreende que não consigam arregimentar voluntários (ainda).

A compreensão, o sentido ou  consciência da necessidade do “novo”(sic) paradigma da luta política pela mobilização popular não decorre de  um exercício de raciocínio acadêmico e teórico, mas do efetivo desenvolvimento da degradação da legitimidade (ou aumento da ilegitimidade) da institucionalidade vigente.

No percurso até o amanhã, há pontos de passagem obrigatórios que são materializados em ações sucessivas e progressivas em sua radicalidade e que devem ser adotadas numa espiral crescente até que se chegue a uma “massa crítica” de revolta popular após a  desconstrução das aparências institucionais.

Nesse sentido, afirmar que a colocação do plano B é uma rendição ao golpe pode ser equivocado! Pois a possibilidade de uma candidatura vitoriosa, que venha a ser posteriormente bloqueada, pode servir melhor ao propósito de desconstrução da legitimidade do que a manutenção de uma não-candidatura Lula.

Aguardemos, pois a luta não acabou, ela apenas começou.

Redação

3 Comentários

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  1. O que diz Lênio Streck sobre o que vem antes do “mas”?

    O articulista apresenta um imenso ‘nariz de cera’ para esconder a fragilidade da tese que deseja defender, que aparece apenas nas 5 linhas do penúltimo parágrafo.

    No mais recente artigo publicado em sua coluna no portal jurídico Conjur, que pode ser lido acessando https://www.conjur.com.br/2018-set-13/senso-incomum-comum-casos-richa-haddad-advogada-algemada, o Professor Lenio Luiz Streck, lá pelo meio do texto, nos mostra o seguinte;

    “O “filósofo” Ben Stark, em Game of Thrones, já dizia: tudo que vem antes do “mas” não importa. Faça o teste, leitor: “Não sou racista… mas…”. “Não sou homofóbico… mas…”. “É claro que interferimos diretamente nas eleições ao prender um candidato em setembro de 2018 com base em investigações de um período entre 2012 e 2014… mas…”. Isso cai como uma luva para o caso Fernando Haddad também. Ah, esse “mas”! Pois é. Tenho muito medo disso tudo. Sem “mas”.”

    No texto in comento o autor, Daniel Melo, faz bela fundamentação e argumentação teórica nos 6 primeiros parágrafos, com o objetivo de seduzir o leitor. Só no 7º e penúltimo parágrafo ele apresenta a tímida e frágil tese que deseja defender e convencer o leitor a aceitar como verdadeira.

    Para não ser repetitivo nem contaminar o comentário com mais um link recomendo que leiam o artigo da Professora e Socióloga Thaís Moya. O título já resume e descontrói a tese de Daniel Melo. Lendo a íntegra fica muito difícil rebater a sólida argumenação dela.

    Não há o que comemorar: chapa substituta é uma derrota

  2. Duas apostas

    “Nesse sentido, afirmar que a colocação do plano B é uma rendição ao golpe pode ser equivocado! Pois a possibilidade de uma candidatura vitoriosa, que venha a ser posteriormente bloqueada, pode servir melhor ao propósito de desconstrução da legitimidade do que a manutenção de uma não-candidatura Lula.”

    Essa é uma aposta, e eu concordo com ela. Há outra, porém.

    O plano B tem grande probabilidade de ser derrotado eleitoralmente por vários meios: chantagens, manipulação de informações, meios fraudulentos travestidos de legais, etc. Isso seria possível devido ao grande poder na mão dos agentes que deram o golpe. E, nesse caso, participar com um candidato indicado por Lula seria um retrocesso em relação a posição atual, dado que, uma vez derrotado esse candidato, isso representaria a legitimação do processo golpista.

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