Sobre meritocracia, sucesso, Lula e STF, por Maria Luiza Quaresma Tonelli

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Sobre meritocracia, sucesso, Lula e STF

por Maria Luiza Quaresma Tonelli

Você quer explicar a alguém o que é meritocracia e o que é sucesso devido às oportunidades? Pois bem, comece dizendo que o mérito decorre do esforço pessoal, da luta que alguém empreende para chegar a alguma posição social, na luta pela sobrevivência para superar as dificuldades, enfim, o mérito é conquista individual, em primeiro lugar. Depende mais da pessoa do que das oportunidades que a vida lhe oferece.

Sucesso devido às oportunidades depende das chances que a pessoa tem na vida. Uma pessoa pode se esforçar muito, ter tido bons estudos, pode ter muitos méritos individuais, mas pode não ter tido oportunidades para exercer seus talentos. Uma pessoa também pode ter uma vida miserável, sair da extrema pobreza devido à oportunidade de entrar numa universidade através de uma bolsa de estudos e se tornar um médico, um engenheiro, por exemplo. Neste caso, de nada adiantaria o talento se não houvesse a oportunidade oferecida, seja pelo estado, seja por um benfeitor. 

Muita gente que fez universidade através do Prouni pensa que chegou onde chegou porque acredita que foi apenas mérito individual. Não reconhece a oportunidade que lhe foi dada. Sei de casos assim, principalmente entre os médicos. Talvez sejam casos de pessoas que queiram negar sua origem.

Diria que Lula se encaixa no caso das pessoas que tem mérito. Passou fome na infância, trabalhou como vendedor de laranjas em sinais de trânsito no bairro Vicente de Carvalho, no Guarujá, trabalhou como metalúrgico no ABC Paulista, presidiu o Sindicato dos Metalúrgicos, liderou as maiores greves em plena ditadura, fundou o partido dos Trabalhadores, foi o deputado federal mais votado, fez parte da constituinte de 1988, foi presidente da república durante dois mandatos consecutivos, conseguiu eleger e reeleger sua sucessora e se tornou um líder político mundialmente reconhecido. O menino que veio num pau de arara para São Paulo com sua família recebeu mais de 100 títulos de Doutor Honoris Causa das mais importantes universidades do mundo.

Diria que desembargadores de tribunais e ministros do STJ e STF se encaixam no caso do sucesso devido às oportunidades, não pelo mérito individual. Notório saber jurídico (mérito individual) de nada adiantaria se não tivessem sido indicados por um governador, no primeiro caso, ou pelo presidente da república, no caso de ministros do STJ e STF. São cargos por indicação política. Logo, uma oportunidade que lhes foi dada. Não estão lá por concurso.

Não é incrível que ministros que não foram nomeados por Lula e Dilma não negaram a ele o Habeas Corpus que impediria sua prisão após a condenação em segunda instância e justamente os que foram por eles indicados, exceto os ministros Dias Toffoli e Lewandowski, foram os que não impediram que Sérgio Moro o mandasse para o cárcere?

Não consta que Gilmar Mendes, Lewandowski, Marco Aurélio de Mello e o decano da corte sejam menos ciosos de seu papel de guardiões da Constituição do que os outros que negaram ao ex-presidente Lula o direito a uma garantia constitucional: o direito à presunção de inocência até o trânsito em julgado da ação que o condenou a 12 anos e um mês de prisão.

O menino que veio de pau de arara de Pernambuco para São Paulo e se tornou presidente da república, bem como sua sucessora deram a oportunidade para aqueles senhores e senhoras que vestem togas chegarem ao topo do poder judiciário. Foram eles que traíram Lula e Dilma, seus benfeitores? Não exatamente. Traíram acima de tudo a Constituição Federal. Traíram a carta política da nação.

Tudo isso me fez lembrar que o último círculo do Inferno da Divina Comédia de Dante Alighieri é destinado aos traidores. É na quarta zona, Judeca, onde penam aqueles que traíram seus benfeitores. É nesta zona onde se encontra Lúcifer, com três rostos e três asas. Das suas bocas pendem Judas, Brutus e Cássio.

Que os senhores da toga acordem a tempo de não transformar este país num inferno na Terra. Está por pouco.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

9 Comentários

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  1. O individuo e seus feitos

    A Data Popular e Jesse Souza haviam identificados que a classe C e a popular entendiam que a pequena prosperidade que tinham alcançados era resultado de seus meritos e esforço pessoal. Para eles não havia politica pública ou politica de governo, por isso tinham critica ao Bolsa Familia.

      

  2. Falsa dicotomia

    Meritocracia e oportunidade não são um Fla x Flu! Nenhum dos juízes do STF foi indicado apenas por questões políticas. Pelo contrário – muitos deles são reconhecidos pela produção acadêmica e/ou atuação profissional. Da mesma forma, certamente há casos de alunos do ProUni que não conseguiram concluir o curso, ou mesmo de outros que não tiveram a nota mínima para entrar na universidade, mesmo sendo elegíveis para o programa.

    Eu não estou discutindo a prisão de segunda instância, acho que a Constituição é bem clara e a mudança de posição do tribunal é problemática (embora suscite uma discussão importante). Só acho que misturar isso com meritocracia ou oportunidade é um exercício retórico que beira a futilidade.

    1. Claro!

      Você está coberto de razão.

      O caso da nomeação do Alexandre de Moraes é um bom exemplo édo que afirmas: É impressionante o saber jurídico e a comprovada reputação ilibada.

      Francamente…

    2. Falsa dicotomia

      Certamente há muitas maneiras de ver e interpretar o mundo, respeitar a opinião alheia faz parte do convívio civilizado. Porém, sem contraditório não existe avanço. No caso dos ministros do STF, trata-se sim de oportunidade, mesmo tendo eles o preparo intelectual, produção acadêmica etc., são apenas 11 vagas, todas por indicação. Negar que foi dada a eles a oportunidade de ascenderem ao topo da carreira, em detrimento de tantos outros profissionais, também muito bem preparados que não tiveram a mesma “sorte” (ou somente os onze que aí estão tem “mérito” para serem ministro do STF?). Fatos são fatos não se pode negar a realidade – não há mérito algum em ser ministro do STF.

  3. O inferno no Brasil começou
    O inferno no Brasil começou em 2013 com a arrogância do PT que não soube ouvir o recado legítimo das ruas e a ameaça de golpe. E se agravou muito com o apequenamento do STF diante do poder invisível comunicado pela Globo. Rosa Weber e Carmen Lúcia desmoralizaram a classe feminina, traíram o Brasil e se juntaram às ordas tenebrosas dos que querem um Brasil pequeno, Colônia e subalterno.

  4. Falta de educação

    Voltamos, assim, à doutrinação que as empresas privadas de dois ramos comerciais, as de comunicação em massa – ramo também chamado de mídia – e as de ensino no 3o. grau, impõem às pessoas, cidadãs de nosso país, sob o disfarce de educação.

    Segundo a cartilha dessas empresas, não há oportunidade que não a criada pela própria pessoa. Não há, por exemplo, o fato de ter nascido em família já poderosa como oportunidade. É a foto da filha do ex-presidente do país Estados Unidos, Barak Obama, vestindo uniforme de “pião” em firma privada do ramo de restaurante. Ou seja, o mais decisivo fator para o “sucesso” profissional das pessoas é, segundo essas firmas, absolutamente escondido, ignorado.

    Se doutrinação aprisiona, educação liberta.

  5. Alguém saberia explicar a

    Alguém saberia explicar a razão para o Lula estar preso-solitariamente em curitiba? O desMoronado vai da sentença à execução da sentença e ao sistema carcerário? É assim que funciona: um residente e domiciliado em São Bernardo-SP, é condenado por crime cometido Brasília e São Paulo (afinal, ou ele era presidente da república, ou nada haveria) e, como o stfezinho rasgou o juiz natural, fica sujeito aos maus humores-negocistas do desMoronado para ser condenado contra qualquer prova eou argumento e, ainda, vai preso para a cela-solitária de curitiba? O desMoronado é juiz da ação, da execução penal e da cela-solitária? É o divino-sem-espírito do “negócio” todo? Então, alguém explicaria? Alô, dona carmencita do cnjotazinho-de-araque: pelo menos a senhorinha bem que podia julgar as suspeições contra o desMoronado, não? Um mínimo de decência, plisi!

  6. Menino favelado.

    Meritocracia é você dizer pro menino favelado e pretinho, que o branquinho loirinho ganhou um drone de natal, que custa R$ 3000,00… mas que ele, favelado, não ganhou nada porque não foi um bom menino!!!

    Só ganha presente quem se comportar direitinho… parabéns, mauricinho branquinho e loirinho filho de riquinhos!!!

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