Sobre os prodígios em Roma e no Brasil, por Fábio de Oliveira Ribeiro

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Sobre os prodígios em Roma e no Brasil

por Fábio de Oliveira Ribeiro

Por volta de 2001 resolvi ler e fazer anotações sobre a obra Abe Urbe Condita Libri, Tito Lívio, que havia comprado alguns anos antes. Sempre que algo me chama a atenção retorno àquela monumento da historiografia antiga. Foi o que ocorreu hoje, quando vi o vídeo de uma cabra que nasceu com um olho só na India. Imediatamente lembrei-me dos prodígios relatados pelo escritor romano.

Ao longo de sua obra Tito Lívio narra vários prodígios (chuvas de terra, de carne e até de sangue, nascimentos de animais e crianças deformadas, fenômenos luminosos estranhos, estátuas que choram, ilhas que nascem, epidemias desconhecidas, fantasmas que aparecem vestidos de branco, altares que levitam,  raios que atingem templos, muralhas e monumentos públicos, etc…) de maneira burocrática. Muitas vezes ele credita os prodígios à credulidade popular. Mas ao final de sua obra ele faz uma curiosa preleção sobre seu trabalho sobre os registros destes episódios:

“Não ignoro que, em virtude da mesma indiferença que nos faz duvidar, hoje em dia, dos sinais enviados pelos deuses, não mais se anunciam prodígios oficialmente, nem são eles mencionados já nos anais. Quanto a mim – ao escrever ao escrever a história dos tempos antigos, fiz-me, não sei como uma alma antiga -, um certo escrúpulo impede que considere indignos de relato certos acontecimentos que homens cheios de sabedoria daquelas épocas não hesitaram em transformar em objeto de consultas oficiais.” (Abe Urbe Condita Libri, Tito Lívio, Palmape, 6o. volume, São Paulo, 1989, p. 143)

Abaixo uma amostra dos prodígios narrados por Tito Lívio. Procurei selecionar os episódios mais bizarros e interessantes. Não me darei ao trabalho de classificá-los ou de expor qualquer teoria sobre o que poderia ter ocorrido.

Por ocasião da discussão da Lei Terentilia, nos primórdios da república romana:

“Entre outros prodígios, caiu uma chuva de carne. Um bando de pássaros voejava apoderando-se dela. Os pedaços que caíam permaneciam vários dias no solo sem alterar o odor.”  

(Abe Urbe Condita Libri, Tito Lívio, Palmape, 1o. volume, São Paulo, 1989, p. 214)

No início da II Guerra Púnica vários prodígios ocorreram em Roma e nas imediações. Eis os mais estranhos:

“Algo parecido com navios riscara o céu, quais relâmpagos…”

“No território de Amiterno, avistaram-se em diversos locais fantasmas de aparência humana, velados de branco, que não falavam com ninguém.”

(Abe Urbe Condita Libri, Tito Lívio, Palmape, 2o. volume, São Paulo, 1989, p. 432, 433)

Durante o consulado de Fábio e Marcelo, durante a II Guerra Púnica:

“Em Adria viu-se um altar suspenso no céu, rodeado de figuras de branco. Mais grave ainda, na própria Roma, após o surgimento de um enxame de abelhas no Fórum – coisa de fato muito rara – , algumas pessoas, afirmando ver legiões armadas sobre o Janículo, fizeram com que a cidade tomasse armas, ao passo que quem estava no Janículo afirmava não ter pessoa alguma chegado até lá, com exceção dos moradores da colina.” (Abe Urbe Condita Libri, Tito Lívio, Palmape, 3o. volume, São Paulo, 1989, p. 170)

Após a eleição dos cônsules Caio Cláudio Nero e Marco Lívio, ainda durante a guerra contra Aníbal:

“… em Frusinão nascera uma criança tão grande quanto uma de quatro anos e mais espantoso ainda era o fato de não se saber se era menino ou menina, como a que nascera em Sinuessa dois anos antes. Desta feita, os arúspices enviados da Etrúria afirmaram tratar-se de prodígio funesto e vergonhoso: longe do território romano, longe de todo contato com a terra, cumpria afogar a criança no mar. Fecharam-na viva numa caixa e atiraram-na às ondas.” (Abe Urbe Condita Libri, Tito Lívio, Palmape, 3o. volume, São Paulo, 1989, p. 416)

Estando próximo  o fim da II Guerra Punica:

“… dois sóis foram avistados; à noite houvera momentos de claridade; em Sécia, percebera-se um carreiro de fogo indo de Oriente a Ocidente; em Terracina uma porta, em Anágnia uma porta e a muralha tinham sido golpeados pelo raio em diversos pontos;…” (Abe Urbe Condita Libri, Tito Lívio, Palmape, 4o. volume, São Paulo, 1989, p. 99)

Pouco antes do fim da II Guerra Punica os prodígios não cessaram:

“… em Anágnia, avistaram-se no céu, primeiro, fogos esparsos, depois, uma imensa tocha; em Frusinão, um halo rodeara o sol com uma fina linha, e em seguida esse mesmo círculo fora fechado por um disco solar maior que ele;…” (Abe Urbe Condita Libri, Tito Lívio, Palmape, 4o. volume, São Paulo, 1989, p. 139)

Após a derrota de Cartago, ocorreu a campanha romana na Grécia e a repressão aos mistérios de Baco em Roma. Nesta época foi:

“… descoberto na Úmbria um hermafrodita de cerca de doze anos de idade. Assustados com aquilo, decretaram os magistrados que o pequeno fosse levado para fora do território romano e imediatamente eliminado.” (Abe Urbe Condita Libri, Tito Lívio, Palmape, 5o. volume, São Paulo, 1989, p. 301)

No ano em que o procônsul Aulo Terêncio derrotou os celtiberos no Ebro, Espanha:

“Cria-se que durante dois dias chovera sangue na praça da Concórdia e soubera-se que, perto da Sicília, uma nova ilha brotara do mar.”  (Abe Urbe Condita Libri, Tito Lívio, Palmape, 5o. volume, São Paulo, 1989, p. 340)

O último prodígio narrado por Tito Lívio se refere ao feito de Caio Sulpício Galo. Tribuno militar da segunda legião, ele havia anunciado:

“…para que ninguém visse nisso um prodígio – que, na noite seguinte, da segunda à quarta hora, ocorreria um eclipse da lua. Uma vez que se tratava de um fenômeno dentro da ordem natural das coisas e repetido em certas datas fixas, era possível calcula-lo.”

“Durante a noite que precedeu a véspera das nonas de setembro, a lua efetivamente desapareceu na hora indicada e a ciência de Galo tornou-se quase divina aos olhos dos romanos; quanto aos macedônios , ficaram abalados pelo que consideravam um funesto presságio a anunciar a queda do reino e a perda da nação, sem que os adivinhos desmentissem essa interpretação. Gritos e gemidos ecoaram pelo acampamento macedônico até que o astro voltasse a se mostrar na plenitude de sua luz.” (Abe Urbe Condita Libri, Tito Lívio, Palmape, 6o. volume, São Paulo, 1989, p. 203/204)

Não é difícil imaginar que, como os outros povos da antiguidade, os romanos viviam sob intensa pressão psicológica. A escassez de alimentos era frequente, muitas doenças não eram conhecidas, as que eram conhecidas nem sempre podiam ser tratadas, a guerra era constante e o medo de perder um filho, esposo ou pai nela fazia parte do cotidiano e diversos fenômenos naturais eram desconhecidos. Sempre que os prodígios ocorriam, os sacerdotes romanos recorriam aos livros Sibilinos e realizavam cerimônias expiatórias para acalmar a população.

O Brasil já foi descrito como a última flor do Lácio. Por isso, após narrar os prodígios romanos resolvi citar alguns que ocorreram antes do golpe de 2016.

Em setembro de 2016 vários bueiros explodiram no Rio de Janeiro.

http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2016/09/bueiro-explode-e-deixa-feridos-no-rio.html

Em novembro de 2015 a barragem da Samarco se rompeu destruindo Mariana, Minas Gerais. http://g1.globo.com/minas-gerais/noticia/2015/11/barragem-de-rejeitos-se-rompe-em-distrito-de-mariana.html

Em outubro de 2015 uma explosão destruiu vários imóveis no Rio de Janeiro.

http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2015/10/explosao-ocorre-em-predio-da-zona-norte-do-rio.html

Em janeiro de 2014 o dedo do Cristo Redentor foi danificado por raios.

http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2014/01/dedo-do-cristo-redentor-e-danificado-por-raios-durante-temporal-no-rio.html

Em novembro de 2013 a Polícia Federal apreendeu 450 Kg de cocaína num helicóptero. A droga não tem dono, ninguém foi denunciado.

https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2013/11/25/pf-apreende-450-kg-de-cocaina-em-helicoptero-da-familia-perrella.htm

Em julho de 2012 um caça da Força Aérea deu uma rasante quebrando os vidros do STF.

http://g1.globo.com/distrito-federal/noticia/2012/07/caca-da-fab-em-voo-rasante-destroi-fachada-de-vidro-do-stf.html

Em março de 2011, apesar de estar conduzindo duas guerras, fomentando guerras civis sangrentas e preparando uma guerra contra o Irã, o sorridente imperador negronorte-americano visitou o Cristo Redentor.

http://g1.globo.com/obama-no-brasil/noticia/2011/03/obama-termina-compromissos-no-brasil-com-visita-ao-cristo-redentor.html

Em janeiro de 2010 a igreja de São Luiz de Paraitinga foi derrubada por uma enchente.

https://www.youtube.com/watch?v=NomsziH8ZcY

Em outubro de 2009, quando Dias Toffoli tomou posse no STF, a explosão de um transformador e uma nuvem de fumaça preta assustou as pessoas no Tribunal.

http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,toffoli-toma-posse-no-stf-com-lula-e-sarney-na-plateia,455501

Em 2003 o parlatório do quartel-general do Exército em Brasília desabou.

http://jornalnacional.globo.com/Telejornais/JN/0,,MUL550925-10406,00-PARLATORIO+DO+QUARTELGENERAL+DO+EXERCITO+EM+BRASILIA+DESABA.html

Após o usurpador chegar ao poder também ocorreram alguns prodígios: a morte acidental de Teori Zavascki, a absolvição do ladrão Michel Temer no TSE, o crescimento das chances de Jair Bolsonaro se tornar presidente, a condenação do inocente Lula por Sérgio Moro, a tolerância dos brasileiros diante da entrega do Pré-Sal e da Petrobras aos gringos, etc…

Todos estes prodígios devem ter alguma explicação científica, ideológica ou inventada pelos “canetas” do golpe de 2016. O que não se explica, porém, é o apoio da imprensa à política econômica que está enterrando o Brasil e sua economia, aumentando o desemprego, reduzindo a arrecadação tributária e destruindo as vidas e as esperanças de várias gerações de brasileiros. Este prodígio realmente miraculoso só pode ser explicado pelos livros Sibilinos que foram queimados pela Sibila de Cumas em virtude da avaritia de Tarquínio o soberbo  https://pt.wikipedia.org/wiki/Livros_Sibilinos.

Tito Lívio registrou como os romanos evoluíram da credulidade nos prodígios e cerimônias expiatórias para a metódica observação e estudo dos fenômenos naturais ao narrar o episódio da bem sucedida previsão de um eclipse lunar por Caio Sulpício Galo. Creio que chegou a hora dos brasileiros pararem de acreditar nos oráculos da imprensa. Eles não tem nada a nos dizer de proveitoso acerca do nosso futuro. Cabe a nós, aos brasileiros (ou pelo menos à maioria dos brasileiros), construir o país pujante, inclusivo, poderoso e rico que queremos, nem que seja atropelando os ladrões do PMDB, DEM, PSB e PSDB e os banqueiros, empresários, agentes da CIA e embaixadores que movem os cordões deles.

 

Fábio de Oliveira Ribeiro

5 Comentários

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  1. O Que não se explica é o apoio da imprensa à política econômica

    Prezado Fabio, muito interessante seu artigo. No entanto não entendi sua afirmação que nomeia esta postagem. O sr. fala sério? Realmente acredita ser inexplicável tal apoio?

    1. brilhante….

      Fenômeno fantástico tupiniquim é ver que céticos, extremistas e fundamentalistas acreditam que D. Sebatião retornou à Terra na forma de Sindicalista rodeado por uma horda de Apóstolos de Esquerda, com suas promessas AntiCapitalistas e Honestas, a boa nova ao povo das terras sulamericanas, e que a Justiça, Poder Judiciário e Constituição que eles criaram, agora querem perseguí-los. Como a Justiça quer combater nosso ‘Salvador”. O “Messias” que veio conforme as Escrituras e subirá aos Céus, no final do seu Mandato Glorioso. “Oh! Sindicalista, orai por nós”. Ainda mais agora que tem Religião, depoiis de 30 anos jurando serem ateus. Aleluia!!. Aleluia!! 

      1. Como todo nóia de direita

        Como todo nóia de direita você só acredita nas Pítias da Veja, Estadão, Folha e O Globo. Tenho certeza que o seu D. Sebastião é aquele traficante de cocaína mineiro vulgarmente conhecido como Aécio Neves, o chato.

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