Temer não tem condições de conduzir reformas, por Janio de Freitas

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Foto Pedro Ladeira/Folhapress

Jornal GGN – Janio de Freitas, em sua coluna de hoje, na Folha, aborda a cobrança feita pela ONU a um Brasil signatário de compromisso internacional de não permitir retrocesso em legislação de fins sociais e em direitos da pessoa. Para Janio, este curvar-se à nova desonra tem um fato peculiar, de que a transgressão vem sob a égide de um governo onde pululam acusações de delinquência que assola não só o ocupante da cadeira da Presidência, mas também grande parte do Congresso.

Temer se agarra ao poder contando com o apoio de outro poder, o empresarial, que conta com as reformas num doce retorno ao tempo escravagista. E este apoio não abala a cadeira da Presidência, que com tantas gravações e acusações ainda não cedeu. Até o PSDB participa da onda, como representante das elites que é, confirmando sua decisão de continuar apoiando o governo Temer.

Leia o artigo a seguir.

da Folha

Temer não tem condições de conduzir reformas nem “reformas”

por Janio de Freitas

O Brasil está sendo cobrado pela ONU por pretender, com “reformas” das leis trabalhistas e de aposentadoria, transgredir o compromisso internacional, do qual é signatário, de não fazer qualquer retrocesso em legislação de fins sociais e em direitos da pessoa. Já sob cobranças por violação de direitos humanos, o Brasil curva-se à nova desonra com uma peculiaridade: a transgressão vem de um governo sob acusações de delinquência que incluem, além de grande parte do Congresso, o próprio ocupante da Presidência da República. Tudo muito coerente.

Michel Temer conta com as duas “reformas” para receber do poder empresarial o apoio que o mantenha no Planalto até o fim de 2018. Até agora, nenhuma das gravações e acusações abalou esse apoio. É o que o PSDB, na condição de representante político das classes mais favorecidas, confirma com sua recente decisão de continuar aliado a Temer e integrante do governo.

Falada inúmeras vezes, a pressa governista de aprovar as “reformas” é falsa. O Planalto não se move para isso. E seus parlamentares, ou se referem a dificuldades na bancada governista, ou tapeiam com uma atividade inócua. Esticar no tempo é esticar o apoio do poder privado.

Quem pensar a sério na relação entre essas “reformas” e a situação atual do país, não pode fugir à obviedade simples e forte: Temer não tem condições de conduzir reformas nem “reformas”. Sejam condições intelectuais, políticas, morais, e quaisquer outras. É só um fantoche. À espera de que alguém conte os seus feitos ou os silencie por dinheiro.

O Congresso, com mais de uma centena de deputados e senadores pendurados na Lava Jato, não tem condições de examinar, discutir, aprimorar e votar projeto algum que tenha implicações mais do que superficiais. Está demonstrado na combinação do projeto do governo com as contribuições de parlamentares. Coisas assim: acordos entre o patronato e empregados poderiam desrespeitar e sobrepor-se às leis.

Isso é tão ilegal, obtuso e de tamanha sem-vergonhice, que dificulta imaginar-se sua origem em gente de governo e do Congresso. E não é um, não são dois, ou poucos, comprometidos com a criação delirante. Com cada uma delas. São muitos.

No plano da intenção desumana, mesmo a mais simplória das medidas propostas representa o conjunto numeroso. É a redução do tempo vago a título de almoço, de uma para meia hora. Ninguém leva uma hora comendo. O desatino dos proponentes da redução desconhece que a hora é também para descanso, ao fim de quatro horas de trabalho e antes de mais quatro. Não é preciso lembrar do trabalho operário: as quatro horas de pé dos vendedores de lojas fala de uma exaustão que centenas de deputados e senadores jamais sentiram. E se o expediente total não se altera, seja o das atuais oito horas ou das doze propostas, retirar meia hora de descanso não muda o tempo de atividade laboral. A redução do alegado almoço é só uma manifestação a mais da nostalgia escravocrata.

O projeto governamental de “reforma” da Previdência, por sua vez, estava tão carregado de arbitrariedades e desprezo por seres humanos, no original do ministro da Fazenda, que foi estraçalhado por cortes – sem, no entanto, tornar-se inteligente e com alguma sensatez.

Não é preciso acrescentar leviandade alguma às que mantêm a crise. E a agravam a cada dia. Os dois temas das “reformas” não interessam só ao governo e à visão patronal. Revolvem a vida de uns 150 milhões de brasileiros. Ou mais. E isso não é coisa para ser manipulada por Michel Temer e seu grupo de políticos, laranjas, intermediários, corruptores e corrompidos.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

5 Comentários

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  1. reforma?

    Até agora ninguém pretendeu fazer nenhuma reforma. Reforma presupõe atualização, melhora, evolução.

    O que a quadrilha almeja é o assalto puro e simples. Aos direitos, ao erário, ao voto, ao posicionamento do Brasil no mundo, à Petrobras e ao presal, à saude do povo, à educação, ao trabalho.

    A globo e seu exército de paneleiros tiraram a Dilma para pôr esse bando no lugar. Agora o Brasil definha.

    (e a kulpa é dos eleitores de Dilma que sufragaram treme por tabela!)

  2. Temer não tem condições

    A globo, a rede esgoto, da famiglia marinho, já está dando seu jeito.

    Vai colocar no lugar alguém mais competente, menos pulha e pusilânime, para terminar o trabalho sujo, para acabar de arrombar de vez esse País.

    Um arrombo com mais classe, mais categoria.

  3. perfeito

    Perfeito o que diz o Jânio sobre a proposta absurda de reduzir o tempo para almoço. Pura demagogia para sacanear o trabalhador. Não são alguns minutos descontados do horário do almoço para sair mais cedo que vão aumentar o tempo livre.

    Se eles estivessem mesmo preocupados em melhorar as condições de vida do trabalhador, era só olhar para as cansativas viagens no transporte público, que podem aumentar em até quatro ou cinco horas a jornada de trabalho – tempo não remunerado, o que pode ser considerado trabalho em condições de escravidão. Mas isso, é claro, os notáveis não vão fazer.

  4. FHC DÁ ULTIMATO À GLOBO? OU ACABA A LAVA JATO OU ELEGEMOS LULA?

    FHC DÁ ULTIMATO À GLOBO? OU ACABA A LAVA JATO OU ELEGEMOS LULA PRESIDENTE? (E COM LEY DE MEDIOS?)

    Por Romulus & Núcleo Duro

    Vamos para mais uma rodada de análise, pessoal?

    Destaques:

    Ouviram a última?

    – FHC “quer” (aspas!)… “Diretas Já”?!

    – Será que “quer” mesmo?

    Ou…

    – Apenas se utiliza do “fantasma” de Lula, favorito nas pesquisas ~hoje~, para dar um ultimato à Globo e aos juristocratas:

    – Ou param com a caçada e o abate da classe política (ou pelo menos dos meus amigos) ou…

    – Vem aí o governo “Lula 3”!

    – E, “depois de tudo o que vocês fizeram”, certamente desta vez com Ley de Medios (!)

    Mas…

    – O PT e Lula estão dentro ou fora do Acordão?

    – Aliás, nesse tocante (e em todos os demais…):

    – PT = Lula??

    – Blogosfera “progressista” e o “Fora Temer” ~da~ GLOBO: mais uma vez, a dificuldade/ falta de vontade de sair da pauta imposta pelo Cartel Midiático. Comem o “prato feito” – e sem reclamar muito!

     

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