Teto de Gastos, um prego no caixão da Fake Economics, por Fábio de Oliveira Ribeiro

“Morram que a economia continuará a crescer”. Ao que parece esse será o verdadeiro mantra dos candidatos da direita fascista e da direita fascista envergonhada.

Teto de Gastos, um prego no caixão da Fake Economics

por Fábio de Oliveira Ribeiro

No Brasil, a resposta neoliberal à crise amplificada pelo próprio neoliberalismo foi a adoção do Teto de Gastos. Em tese, o represamento artificial das despesas estimularia o setor privado a expandir investimentos produzindo um ciclo econômico virtuoso. Na prática, isso não ocorreu. O desemprego segue em alta e a retomada industrial não ocorreu. O único setor em expansão é o da produção de caixões’ por causa da gestão criminosa da pandemia.

“Morram que a economia continuará a crescer”. Ao que parece esse será o verdadeiro mantra dos candidatos da direita fascista e da direita fascista envergonhada.

A resposta da realidade brasileira à ficção da suposta virtude da financeirização econômica lastreada Teto de Gastos pelo foi a devastação ecológica. A mineração ilegal em territórios indígenas garante os lucros do mercado negro de metais preciosos. O aumento da extração ilegal de madeira financiará a incorporação de novos territórios à produção agrícola. Só faltou combinar com os norte-americanos e europeus que estão mais inclinados a impor sanções econômicas ao Brasil do que a importar excedentes agrícolas produzidos mediante o genocídio dos índios e um ecocídio filmado por satélites.

Como chegamos onde estamos? Tudo começou com a crise de 2008. E ela não foi produzida pelo aumento dos gastos governamentais e sim pela crença de que os lucros privados podem crescer indefinidamente sem que a bolha financeira exploda na cara daqueles que a assopraram. A solução econômica para a crise seria uma expansão dos gastos governamentais ou, quem sabe, um teto para conter a ambição de entesourar lucros privados.

Nem uma coisa nem outra aconteceu. Após serem salvos nos EUA e na Europa pelo Estado, que segundo o neoliberalismo que nunca deveria intervir na economia, os neoliberais continuaram defendendo suas teses como se elas não tivessem provocado a catástrofe. Entre nós o catastrofismo é maior, pois o Teto de Gastos é uma jabuticaba envenenada pelo complexo de vira-latas.

“A austeridade tem sido aplicada com excepcional vigor durante a presente crise financeira [o autor refere-se aqui a crise iniciada em 2008] e produziu exatamente os mesmos fracassos que seriam de esperar se sua história intelectual e natural tivesse sido investigada. Os custos dessa arrogância epistemológica e dessa insistência ideológica têm sido, e continuam a ser, horrendos. Se os formuladores de política econômica europeia, tal como os médicos, tivessem de jurar ‘não fazer mal’, seriam todos proibidos de ‘praticar’ economia. Se a austeridade se tornar em breve o mantra político dos Estados Unidos, apesar de todas provas até agora, é de se esperar que lá também seja igualmente destrutiva e, lembremo-nos, nós, estadunidenses, estamos mais bem armados.” (Austeridade – A história de uma ideia perigosa, Mark Blyth, editora Autonomia Literária, São Paulo, 2017, p. 322)

Luiz Gonzaga Belluzzo e Gabriel Galípolo são ainda mais específicos:

Na crise de 2008, assim como na pandemia, o Federal Reserve e o Banco Central Europeu trataram de prover liquidez para administrar o colapso das relações monetárias de mercado e conter a qualquer custo a contração do mercado interbancário e a evaporação dos money markets. Os Bancos  Centrais abriram as comportas d seus balanços para conter a ruptura dos fluxos de crédito, gastos e renda. Para tanto, bombearam trilhões de dólares para a compra de títulos privados e para a aquisição de títulos públicos mais longos, achatando a curva do juro, diga-se, já desinclinada.

Os Bancos Centrais cuidam de absorver ativos privados em seus balanços, enquanto os Tesouros se incumbem da emissão generosa de títulos públicos para sustentar a liquidez das carteiras de ativos dos bancos particulares. A experiência do enfrentamento das crises demonstra a articulação estrutural entre o sistema de crédito, a acumulação produtiva das empresas, o consumo privado e a gestão das finanças do Estado, particularmente da dívida pública. Nas crises financeiras, o caráter essencialmente ‘coletivista’ da economia monetária da produção, ou seja, co capitalismo, surge no naufrágio financeiro como a tábua de salvação dos mercados privados. As relações entre as finanças públicas, a gestão monetária e o setor financeiro privado não são ‘externas’, de mero intervencionismo. São orgânicas e constitutivas.” (Dinheiro – O Poder da Abstração Real, Luiz Gonzaga Belluzzo e Gabriel Galípolo, editora Contracorrente, São Paulo, 2021, p. 160/161)

Não é possível derrotar nenhuma crise adotando ou mantendo um Teto de Gastos. O mais provável é que esse limite exigido pelos teólogos do neoliberalismo tupiniquim aprofunde a crise transformando-a numa bomba atômica política e econômica. O problema, porém, é mais delicado do que parece.

A era da Fake News desembocou na Fake Politics, Fake Diplomacy, Fake Law, Fake Justice e no Fake Militarism https://jornalggn.com.br/destaque-secundario/fake-militarism-a-maior-e-mais-duradoura-obra-do-capitao-amalucado-por-fabio-de-oliveira-ribeiro/. Mas crença pueril no sucesso de um Teto de Gastos que é incapaz de entregar o que promete inaugurou entre nós a Fake Economics. Não por acaso os teóricos dela acusam seus adversários de fazerem o que eles supostamente não fazem https://www.focus.jor.br/fake-economics-por-henrique-lyra-maia/ .

Se o Brasil não pular fora do Teto de Gastos nós precisaremos de um milagre teológico-político, qual seja, a pacificação de um país em que a taxa de desemprego elevada se torna crônica e que pode ser desestabilizado pela fome. “Morram que a economia continuará a crescer” pode ser uma tese economicamente sustentável, mas ela certamente não introduzirá mais estabilidade num país politicamente instável.

A nova ministra das relações exteriores da Alemanha prometeu enfiar a Berliner Fernsehturm no rabo de Jair Bolsonaro. Portanto, o Teto de Gastos que incentivou a devastação ecológica já começou a produzir efeitos incontroláveis no exterior. Os defensores da Fake Economics não querem gastar dinheiro público para preservar os lucros privados de uma economia real internacionalizada? Essa pergunta é apenas retórica.

Tudo vai bem no pior dos mundos. A produção de caixões continuará a crescer indefinidamente, pois quem não morrer na pandemia morrerá de fome. A devastação ecológica que nos isola diplomática e economicamente é uma garantia de que não faltará madeira para fabricar caixões. O Brasil exportava esperança. Agora apenas importa teorias da conspiração e ciência duvidosa.

O Brasil nasceu medieval quando a Europa já estava abandonando a Idade Média. Se tornou keynesiano no momento em que o neoliberalismo começou a dominar o cenário mundial. Na atualidade, os chineses financiam e protegem suas Big Techs para competir com as Big Techs norte-americanas. Os EUA financia a exploração comercial no espaço. E nós mergulhamos numa síntese tipicamente brasileira: o neoliberalismo extrativista/obscurantista.

A corrida do ouro no Rio Madeira é uma prova de nosso atraso programático. A chegada de um fanático evangélico no STF também.

Qualquer intelectual que pensar que consegue definir o Brasil ficou louco ou quer enganar alguém. Nosso país é indefinível, pois não consegue mergulhar no oceano do futuro sem afundar por causa do peso da perpetuação de seu passado genocida e escravocrata. Nós somos todos passageiros de um pesadelo tropical. Quem sonhar ficará profundamente frustrado.

Fábio de Oliveira Ribeiro, 22/11/1964, advogado desde 1990. Inimigo do fascismo e do fundamentalismo religioso. Defensor das causas perdidas. Estudioso incansável de tudo aquilo que nos transforma em seres realmente humanos.

Este texto não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN

Fábio de Oliveira Ribeiro

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