Izaias Almada
Izaías Almada é romancista, dramaturgo e roteirista brasileiro nascido em BH. Em 1963 mudou-se para a cidade de São Paulo, onde trabalhou em teatro, jornalismo, publicidade na TV e roteiro. Entre os anos de 1969 e 1971, foi prisioneiro político do golpe militar no Brasil que ocorreu em 1964.
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Uma descida aos infernos?, por Izaías Almada

Uma descida aos infernos?

por Izaías Almada

Se pudéssemos colocar o Brasil no divã de um psicanalista ficaríamos chocados com os traumas e os distúrbios do país, nessa que é a sua fase adolescente, perante as nações mais antigas. Temos apenas 518 anos de existência, enquanto países como a India, China, França, Rússia e tantos outros já ultrapassaram há tempos a casa dos três ou cinco mil anos. Ou até mais.

Lembrar um pouquinho a História não faz mal a ninguém.

Após a derrota militar do nazi/fascismo em 1945 e o esfarelar do comunismo na década de 80, o capitalismo – vendo-se sozinho no meio do salão – começou a dançar para uma nova plateia formada por indiferentes, arrependidos, alienados, novos candidatos a substituir a antiga esquerda e, pelo visto, muitos saudosos das ideias de Hitler, Mussolini e companhia.

O novo cenário da geopolítica mundial configura-se ou, melhor dizendo, tenta se desenhar em meio a uma crise econômica, a uma falência ideológica de vários matizes e a uma revolução tecnológica, sobretudo na comunicação, ainda não de todo avaliada, com o mundo ajoelhado diante de smartfones, ipads, laptops e redes sociais.

A violência e o medo, salpicados de preconceitos e ódios, parecem renovar com vigor o seu sentido em um mundo que – mesmo que se diga o contrário – perdeu a sua identidade religiosa qualquer seja ela, substituindo muitos dos valores de união e congraçamento entre raças e povos, pelo fundamentalismo agressivo e intolerante que, em casos extremos, usa a força militar e o terrorismo. Tudo em nome das liberdades e de seus deuses.

Qual liberdade e quais deuses?

A grade de programação das redes abertas e fechadas de televisão, bem como os novos meios digitais de exibição cinematográfica, via computadores, está recheada de filmes e séries que exaltam do primeiro ao último segundo de suas imagens a violência – da mais bizarra à mais bestial – e o incentivo ao crime, bem como ao medo generalizado contra as máfias da droga, contra os psicopatas e assassinos em série.

E pior: a fazer apologia, ainda que de modo sutil, da já inegável e mal intencionada distinção em formas diferentes de corrupção, algumas delas supostamente aceitáveis quando são feitas em nome de algum tipo de segurança que se possa dar ao cidadão comum e à sua família, edulcorando até a tortura como forma de se fazer justiça. E há público para isso, se há…

A comunicação social, em sua maior parte sob o comando de grupos conservadores, em nível planetário, procura no dia a dia engessar mentes e corações através da monocórdica defesa da democracia representativa burguesa, de mão única, enaltecendo os valores de um capitalismo cada vez mais selvagem e usando a mentira e o boato como armas para, de um lado defender os seus interesses empresariais (ou de seus anunciantes, o que vem a dar no mesmo), e de outro desmoralizar e aniquilar as cada vez mais tênues arremetidas dos que ainda encontram forças para lutar contra a barbárie da hydra consumista e seus exércitos de banqueiros e rentistas espalhados pelos cinco continentes.

Crises, programadas ou não, atropelam a paz e criam o pânico diário nos vários cantos do mundo, sugerindo já sem qualquer sutileza, que as mazelas da sociedade contemporânea, quando não são provocadas pela violência dos subdesenvolvidos ou emergentes, se originam naqueles que ainda têm a ousadia de levantar dúvidas sobre as maravilhas de um sistema econômico apodrecido, cujos pilares são sustentados pela exploração do trabalho, pela repressão policial, pela mentira e pela corrupção. Sem esses quatro pilares, esses quatro cavaleiros do apocalipse, o capitalismo implode. A ganância não tem limites.

No Brasil, país abençoado por Deus, como se costuma dizer (se é que algum dia o foi), a massa “ignara e belicosa”, como dizia um amigo, com tantos meios e oportunidades de procurar alternativas para adquirir ou aumentar o conhecimento sobre sua própria história, sobre a caminhada política do seu país, ainda sucumbe aos encantos e charmes – perdoem-me a boa vontade – de programas televisivos de duvidosa qualidade, de extensos e saturantes campeonatos de futebol (com jogos quase que diários), das colunas jornalísticas de vaidades e – o que vem a ser mais grave – usando da mentira, agora chamado modernamente de “fake news” e do mais puro deboche contra a democracia, transformando o Congresso Nacional, por exemplo, num circo que ignora a plateia para os seus inúmeros malabarismos em causa própria.

Aberta a porta do manicômio institucional, começa a ficar difícil localizar e distinguir os cidadãos honrados dos sociopatas, os que querem um Brasil pujante, desenvolvido, menos injusto, daqueles que querem ver o circo pegar fogo.

Malabaristas, equilibristas, mágicos, palhaços, traidores e vendilhões da pátria, completam neste já final de 2018 um ano dos mais variados números para diversão de uma plateia que não sabe exatamente qual será o grande final da temporada, com os olhos postos nas jaulas dos animais.

Nada nos garante que um psicopata, passando-se por domador ou coisa parecida, não solte os leões sobre o público e um dos palhaços ponha fogo nas lonas, pois como diz o surrado adágio popular: a alegria do palhaço é ver o circo pegar fogo.

Domingo o Brasil dirá ao mundo se busca a paz e o clima para voltar a crescer e recuperar sua soberania ou se dará um mergulho de cabeça no inferno.

 
Izaias Almada

Izaías Almada é romancista, dramaturgo e roteirista brasileiro nascido em BH. Em 1963 mudou-se para a cidade de São Paulo, onde trabalhou em teatro, jornalismo, publicidade na TV e roteiro. Entre os anos de 1969 e 1971, foi prisioneiro político do golpe militar no Brasil que ocorreu em 1964.

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  1.   Considerando a psique e o

      Considerando a psique e o comportamento de grande parte da população – amplos setores das classes baixa, média e alta – principalmente nos dias de hoje, o Brasil seria um bebê: quer tudo, não ajuda em nada e, quando se cag* todo, ainda chora e faz birra. Desde 2013 isso está bem destacado.

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