Uma experiência no Globo dirigido por Roberto Marinho, por J. Carlos de Assis

Uma experiência no Globo dirigido por Roberto Marinho

por J. Carlos de Assis

Há quem pense que minhas críticas ao sistema Globo se devem ao fato de que trabalhei nele num posto de destaque – colunista de economia política na página 7, em 1990 – e, por algum motivo, fiquei ressentido com a empresa. Se pensam assim vou desapontá-los. Escrevi no Globo com total liberdade, sendo que em nenhuma ocasião Roberto Marinho, ainda vivo, interferiu ou tentou influenciar o meu trabalho. Para não dizer que nunca interferiu, lembro-me de uma vez que me aconselhou a escrever uma coluna mais curta. Sem censura.

A razão de minhas críticas tem fundamento político. Perdi o contato com outros colegas de redação depois que saí, e nunca tive maiores relações com o pessoal da televisão. A sensação que tenho, tomando por base a minha própria experiência, é que o sistema Globo é pior do que seus donos, assim como, na minha época, era pior que Roberto Marinho. Os jornalistas do sistema fazem questão de se revelarem pior do que o trio controlador para não dar margem a que se suspeite deles como de esquerda ou como progressistas.

Peguem as colunas de Sardenberg e de Miriam Leitão: não acredito que seguem instruções detalhadas para serem tão agressivamente neoliberais ou de direita. Eles inferem o que pensam os donos, e muito dessa inferência pode não ter nada a ver com o que realmente pensam esses últimos. Aparentemente não há muita preocupação com o leitor. Como a revista “Veja”, que sofreu uma indigestão de tanto alimentar os outros de escândalos, o sistema Globo não se preocupa em refletir o real, mas em enfiar sua realidade goela abaixo do povo.

A infinita liberdade de que gozam os jornalistas do sistema Globo aparece sobretudo na televisão e, especificamente, no  Jornal Nacional. Eles tem toda  a liberdade de dizer idiotices. Foram os principais responsáveis pela subida de Jair Bolsonaro nas pesquisas. Em busca de atacar o desempenho dele abriram seus flancos para um contra-ataque vigoroso que colocou milhões de telespectadores a favor do líder nazista. Hoje à noite teremos outro show eleitoral, e veremos como Boner e Renata vão se comportar, na medida em que seu desempenho tornou-se mais importante que o desempenho dos candidatos.

Desligado do sistema Globo, não sei como os irmãos Marinho estão encarando sua atividade:  um grande aparato de comunicação ou mais um grande negócio. Se for este o caso, e tendendo a fazer do negócio um excesso de manipulação, seu destino será o de “Veja”, já à beira da falência, e que teve que apelar para negociatas jornalísticas como a  que envolveu a ex-mulher de Bolsonaro para poder flutuar. Assim, estou de acordo com os  intelectuais e profissionais que propõem como questão de Estado uma discussão ampla sobre o sistema Globo. Há ali poder demais para ser desfrutado por apenas três pessoas, auxiliadas por um bando de alienados políticos que fingem sabedoria e erudição.

É importante assinalar que o Globo não destruiu Lula (em seu tempo) e “Veja” apenas valorizou extraordinariamente Bolsonaro com sua matéria extravagante e mentirosa de agora. Isso é uma boa demonstração de que o poder da comunicação tem limite. A forma de influência da mídia é  sutil e demanda muito mais tempo para ter efeito. O editorial, por exemplo, faz menos efeito do que se pensa. É o pensamento do jornal e a maioria dos leitores passa por cima. Com montanhas de editoriais o Globo, nos anos 60 e 70, jamais suplantou o Jornal do Brasil como formador de opinião. Matou o JB por outras razões, ou seja, tomando-lhe o mercado de pequenos anúncios fomentado pela televisão, o que é outra história.

               

 

Redação

3 Comentários

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  1. Vergonha Nacional

    O programa de ficção JN, formado por uma equipe de picaretas demotucanos, hipócritas, vagabundos, tornou-se propaganda política para o Boçal. Ontem, 01/09, fez o script completo de uma propaganda, atacou o adversário Haddad, colocou a justificativa do inominável a respeito de um assunto sem importância, não passou o grande ESCÂNDALO do momento, a acusação da ex-mulher sobre corrupções, “renda extra”, omissão de patrimônio do seu candidato do PSL e não mostrou as manifestações contra o idiota obtuso limitado. Cansamos de ser enganados! Bando de safados que prestam um desserviço à sociedade! Não deixam o país evoluir, representam o atraso!  

  2. bom post.

    Meu sentimento é que o poderio da Globo e irmãs está se esvasiando lentamente entre os jovens de todas as camadas sociais.

    Hoje mesmo, conversando com os funcionários de um pet shop que frequento, eles me diziam que mesmo assistindo o JN não acreditam nele e nem prestam tanta atenção assim… Estão muito mais ligados das redes sociais. 

    Nada isso é novidade. Se me permite um pitáco: o jornalismo das redes abertas está morrendo, junto com as velhas gerações…eles sabem disso.

    O futuro, melhor dizendo, o presente está na net:

    Eu vejo 5, 6 jornais diariamente. Passo da France24 para Skynews, depois para DW, em seguida Aljazida, Euronews, TVT, Brasil247, Nocaute e por ai vai. Sem esquecer a radio on line…

    Quem precisa da TV aberta?!

     

  3. Os três filhos do velho
    Os três filhos do velho Marinho são infinitamente piores do que o pai. O velho foi um personagem complexo, tinha camadas muito diferentes, o que fazia com que qualquer julgamento apressado fosse sempre muito limitado e impreciso. Os três filhos, ao contrário, são personagens unidimensionais, eles são tão ruins quanto parecem ser. Fazem uma caricatura do pai só no que ele tinha de pior.
    Para o velho, por exemplo, ganhar dinheiro não era a grande prioridade, ele gostava do negócio como um jogo, o lucro era um subproduto. Atitude muito diferente dos herdeiros.

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