Uma radiografia da foto emblemática da ocupação militar, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Foto Folha

Uma radiografia da foto emblemática da ocupação militar

por Fábio de Oliveira Ribeiro

A foto da Folha de São Paulo diz tudo sobre a intervenção militar no Rio de Janeiro. O cidadão foi obrigado a mostrar sua cédula identidade. Então ele foi fotografado pelo soldado, que tomou o cuidado de fotografar também o documento exibido. As forças militares de ocupação provavelmente criarão um banco de dados com as fotos que estão sendo feitas.

Com base nesse banco de dados os militares poderão comparar seu próprio cadastro ao do instituto de identificação da Polícia Civil do Rio de Janeiro para checar se as cédulas de identidade são ou não falsas. Caso elas tenham sido emitidas em outros Estados da federação as informações terão que ser requisitadas. O banco de dados do Exército também poderá ser cruzado com aquele que é efetuado pelo Judiciário para verificar se dentre os moradores “fichados” pelo Exército foram condenados à prisão.

Inteligência? Não. Apenas uma prova da falência do Estado.

Não compete ao Exército “fichar” cidadãos que já foram cadastrados pelas autoridades estaduais. Também não compete aos militares cumprir mandados de prisão que foram expedidos pelos juízes estaduais e federais. A coleta de informações dos cidadãos deve ser feita na forma da Lei e não existe qualquer Lei que permita aos militares “fichar” os cidadãos que moram numa determinada área.

O Exército age como se estivéssemos em guerra. Todavia, o inimigo “procurado” entre os civis ilegalmente “fichados” pelos militares não se encontra nem organizado nem mobilizado para um confronto aberto. Ao tratar toda a população daquele bairro como se fosse suspeita ou potencialmente inimiga apenas e tão somente a distanciará do Estado e fará nascer entre os soldados e os cidadãos uma animosidade que poderá resultar em violência. Os abusos cometidos pelos soldados (ofensas verbais, agressões reais ou simbólicas) reforçará na população brutalizada a impressão de que o Exército é um inimigo indesejado que deve ser expulso daquele bairro.

Enquanto a ocupação militar não for interrompida a animosidade irá crescer. Em algum momento o ódio poderá explodir em cenas de violência individual e coletiva contra os soldados. Quando isso ocorrer a causa será a ação dos militares, mas o uso da força bruta para repelir a agressão será descrita não como uma nova agressão e sim como uma reação à violência criminosa da população.

A desinteligência militar causada pela distância entre comandantes e comandados irá certamente facilitar a ocorrência de abusos. Mas os soldados que agredirem física e moralmente os moradores do bairro ocupado não serão punidos, pois os militares nunca empregam entre eles as mesmas regras que tentam impor ao conjunto de uma população tratada como hostil ou potencialmente hostil.

Se um soldado for morto, os comandantes da tropa de ocupação irão clamar por sangue inimigo. Pouco importa neste caso quem tenha cometido o crime, pois os militares não procuram suspeitos para submete-los ao devido processo legal. O que eles fazem é eliminar inimigos reais ou imaginários, pouco importando se eles são ou não culpados. Os inocentes que forem mutilados e mortos são depois chamados de “danos colaterais”, um eufemismo que todos os Exércitos modernos utilizam para designar os crimes militares que deverão ficar impunes.

Numa expedição punitiva para ‘revidar” a injusta agressão da população qualquer morador do bairro poderá ser preso, torturado e executado. Essa regra foi empregada pelas tropas nazistas nos países ocupados pelo III Reich. Ao fim da II Guerra Mundial, os manuais da Wehrmacht foram traduzidos para o inglês e passaram a ser empregados pelo US Army. Ninguém deve ficar surpreso se as mesmas normas forem empregadas pelas tropas do usurpador Michel Temer.

A foto da Folha de São Paulo diz tudo. Muito mais ainda diz o silêncio dos Juízes Federais acerca do que está ocorrendo no Rio de Janeiro.  Excetuados uns poucos, aqueles que correm o risco de ser punidos pelo CNJ por não se curvarem ao poder militar do usurpador, os juízes federais estão mais preocupados com o auxílio-moradia deles do que com a invasão das moradias dos pobres cidadãos que ajudam a pagar os privilégios que eles desfrutam.

Os filhos dos juízes certamente não serão revistados nas portas das belas Escolas pagas que eles frequentam. Os abusos cometidos contra os filhos dos “outros” brasileiros em frente às Escolas Públicas deterioradas não lhes interessa. Separação econômica, hierarquia social, desumanidade, violência programática e naturalizada levada ao paroxismo com o emprego de tanques de guerra para vigiar triciclos enferrujados. A bancada da toga é impiedosa e imperdoável. Ela usa os militares para esmagar ilegalmente os jurisdicionados e não é capaz de sentir qualquer piedade. Falta-lhe a necessária empatia.

 

Fábio de Oliveira Ribeiro

14 Comentários

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  1. dpi

    direito penal do inimigo.

    e o ‘inimigo’ é o pobre.

    existe um excedente populacional inconveniente aos interesses das 300 famílias mais ricas.

    a solução já foi decidida por elas: exterminar os mais pobres, começando pelo desmantelamento do assistencialismo estatal.

    esses ‘fichamentos’ pelos órgãos repressores fazem parte do processo.

    trabalhadores do mundo, armem-se!

  2. O Fábio é “das antigas”, só pensa nas sacanagens do passado.

    Os propósitos indicados do Fábio são reais, mas as coisas podem ir bem mais longe, com um arquivo de fotos rescentes é fácil colocar num programa de identificação de imagens e simplesmente rastrear via câmeras toda a entrada e saída de qualquer um na comunidade, quando entrar uma pessoa de fora eles serão acompanhados e barrados individualmente.

    É muito pior do que um cadastro de pessoas, é o controle das mesmas.

    1. Bem lembrado. Mas não creio

      Bem lembrado. Mas não creio que o Exército brasileiro seja tecnologicamente tão sofisticado para realizar essa tarefa. De fato os militares não conseguem nem mesmo controlar seus estoques de material bélico, pois os traficantes cariocas estão tendo acesso a armamentos exclusivos das forças armadas.

      1. Fábio, as tecnologias quando vulgarizadas caem muito de preço.

        Caro para eles é contratar analistas que estudem o problema, é mais fácil e barato matar o problema.

        Porém o que falei no meu comentário não é bem o que seguiram, a colocação de câmeras de video, um software de identificação e após um posto policial com soldadinhos a custo baixo não é caro, mas imobiliza e PRENDE todo um setor demonizado da população.

    2. É serviço para drone mesmo…

      É exatamente isso, estão testando tecnologia nova por aqui.  Aliás, essa tecnologia foi mutioo utilizada no Afeganistão para o rastreamento e identificação dos chamados “alvos”, através de drones que. além de serem armados, continham essa ferramenta digital de identificação. Não é preciso dizer o que aconteceu com os ditos “alvos” porque foi noticia no mundo todo. A precisão é do tipo : você consegue identificar o alvo o meio de multidao e atingi-lo com precisão. Drones desse tipo são arma militar usada contra população civil. Um escândalo ! e que está sendo exportada para todos os países!

      Quando a identificação digital de todos cidadão dos países tiver sido concluída (não atoa é  que as fotos para passaporte etc são de alta resolução ou cadastrro eleitoral estão indo nessa mesma direção etc) esses dados serão carregados e enviados para o satélite que, por sua vez. transmitirá diretamente aos drones na Terra para exercer o controle das massas. Estamos indo nesse caminho. Os dados de todos no mundo estão sendo compartilhados com esse fim..

  3. Esperam muito de quem não tem

    Esperam muito de quem não tem nada para oferecer……

     

    O que mi$$hell tem a oferecer é isso aí, incompetencia, uma súcia trepada no poder armando o pandemônio, acabo de ler que um ministro do stf disse que o judiciario é o poder mais transparente da republica, que o diga a sua presidente quando foi pesquisar o salário de seus membros, as “autoridades” do país vivem num mundo de fantasia, não devolvem nada à sociedade mas se acham o suprasumo da eficiencia, vivem nos anos 40/50 em que o povo era tratado como gado, daí certas atitudes, vestimentas e declarações patéticas………..um dia serão acordados pela realidade impiedosa.

  4. Falência do  Estado. Não há

    Falência do  Estado. Não há aqui subterfúgios.

    O país está à deriva e cada um faz o acha que deve fazer, tenha ou não para isso a necessária competência ou a devida autorização.

    O capital exige lucros e cada vez maiores, venham eles de onde vierem, seja do trabalho honesto ou do tráfico de drogas. Os bancos e os banqueiros agradecem. Se tiver que morrer gente, isso não vem ao caso.

    Da classe média alta para cima valem todos os benefícios. Daí para baixo vale o poder construído pelo andar de cima para acabar com qualquer tipo de resistência. A Casa Grande colonial não faria melhor.

    E assim vamos todos batendo cabeça, tentando encontrar alguma explicação para o que se passa com esse Brasil doente, já a caminho da UTI. 

    O sorriso debochado do mususrpador Michel Temer na imprensa chga a ser um escárnio para um país, cuja grande aspiração é se tornar um novo Estados Unidos. Argh, haja estômago para tamanha abjeção. 

  5. A unica coisa em que o

    A unica coisa em que o vampirão pensa nesse momento é na próxima pesquisa Ibope. Se ele conseguir sair dos 5% e ultrapassar a barreira dos dois dígitos, terá conseguido seu intuito imediato. Pode ser que a classe média e alta deem essa respirada para ele.

    Mas a médio e longo prazo ele não tem o que fazer. Mais do que isso as Forças Armadas não fará por ele. O desgaste delas já deve estar incomodando os oficiais sensatos.

    Tudo demonstra improviso e amadorismo. Em algum momento tentarão mostrar serviço além de humilhar os moradores das favelas. Parece que farão investidas contra a banda podre da polícia. Aí o buraco é mais embaixo, pois vai mexer com o crime realmente organizado, institucionalizado, investido de autoridade e que tem aliança estratégica com os traficantes.   

    O crime que veste farda, as mílicias e seus aliados estratégicos nos morros já estão se preparando, que eles não são burros.

  6. Alguém aqui já teve que

    Alguém aqui já teve que entrar em prédio comercial? Hotel ou Motel? Condomínio fechado  

    Pois é, parece que algumas pessoas problematizam as coisas antes de parar para pensar.

    Seria muito interessante se todas as polícias fizessem isso e tivessem um cadastro de pessoas de interesse 

  7. Falta investimento em

    Falta investimento em inteligência, ou seja, em educação…mas investir em inteligencia dá arrepio na nossa elite do atraso: basta ver a campanha da Globo contra os brizolões: como pode o favelado tomar o lugar do filho de rico

    ???????????

  8. Estão ressuscitando a

    Estão ressuscitando a paranóia do inimigo interno. Essa atitude é classista, é contra o cidadão. É a classe favorecida esnobando o poder da força contra o os pobres, contra as classes desfavorecidas. Onde está o judiciário brasileiro? Onde está a OAB? Onde estão os democratas para exigirem o fim dos atos de exceção? Cada vez mais nosso país mergulha na escuridão, na irracionalidade. 

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