Opinião

Uma vitória dos EUA no Afeganistão seria melhor para o Brasil?, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Uma vitória dos EUA no Afeganistão seria melhor para o Brasil?

por Fábio de Oliveira Ribeiro

Especialistas dentro e fora da antiga URSS chegaram à mesma conclusão: o custo da guerra no Afeganistão acarretou a bancarrota do império soviético.

“In the American encyclopedia “War in the middle East” States that to support the Kabul government of the USSR budget annually spend $ 800 million. Thus the content of the 40th army and the conduct of combat operations of the Soviet budget allocated annually from 3 to 8.2 billion dollars, – says the publication.

According to the testimony of Alexander Mayorov, who served in 1980-1981 as chief military adviser in Afghanistan, ‘the war cost the Soviet Union 1.5-2 million rubles a day.'”

https://www.ilawjournals.com/what-losses-were-suffered-by-the-ussr-from-the-war-in-afghanistan/

Se levarmos em conta uma média estimada de 5 bilhões de dólares anuais, podemos dizer que a URSS enterrou por volta 50 bilhões de dólares no Afeganistão entre 1979 e 1989.

“The dollar had an average inflation rate of 2.50% per year between 1989 and today, producing a cumulative price increase of 120.16%.”

https://www.in2013dollars.com/us/inflation/1989?amount=1

Esse valor atualizado para 2021 equivale a 110 bilhões de dólares. Em 20 anos, os EUA gastaram aproximadamente 1 trilhão de dólares naquele país.

According to the US Department of Defense,the total military expenditure in Afghanistan (from October 2001 until December 2020) was $825bn, with about another $130bn spent on reconstruction projects.

That brings the total cost, based on official data, to about $955bn between 2001 and 2020 – close to the lower $1tn estimate given by Mr Biden.”

https://www.bbc.com/news/world-47391821

Existe, porém, um dado que não foi revelado. Ninguém sabe exatamente quanto a CIA gastou no Afeganistão.

Levando em conta as cifras conhecidas, pode-se dizer grosso modo que os EUA gastou no Afeganistão aproximadamente 100 vezes mais do que a URSS. Todavia, ao contrário dos soviéticos os norte-americanos deixaram uma quantidade imensa de equipamento militar nas mãos dos milicianos do Talibã. A estimativa mais modesta afirma que esses equipamentos valem 10 bilhões de dólares.

“According to an expert interviewed by Politifact, the real monetary value of the abandoned equipment/weaponry is likely closer to $10 billion. That’s still an astounding amount to essentially give away to a hostile and oppressive regime.”

https://fee.org/articles/here-s-the-list-of-billions-in-military-equipment-the-us-left-behind-for-the-taliban/

Para se ter uma ideia mais clara do que esse valor representa basta lembrar que em 2021 o orçamento militar brasileiro foi estimado em R$ 8,32 bilhões https://www.poder360.com.br/governo/orcamento-da-a-militares-22-dos-recursos-para-investimentos-do-governo/ . Esse valor equivale a 1,5 bilhões de dólares. Portanto, os EUA deixaram no Afeganistão equipamentos militares equivalentes a quase 7 vezes o orçamento militar do Brasil.

Os soviéticos experimentaram um declínio no padrão de vida durante a guerra do Afeganistão. Algo semelhante ocorreu nos EUA. Todavia, não é possível dizer que o império norte-americano terá o mesmo destino que o império soviético. Em 2016 os EUA anexou o Brasil sem precisar disparar um único tiro. E ninguém em sã consciência seria capaz de dizer que nosso país será menos valioso para os norte-americanos do que o Afeganistão.

Assim como pode haver derrota na vitória pode existir vitória na derrota. Agora que saiu do Afeganistão, os EUA poderão dizer para si mesmos que existem outros problemas mais graves que merecem a atenção do país: o espaço, a China, a Rússia, Brasil… não necessariamente nessa ordem.

Desde a década de 1970 o capitalismo “made in USA” não é inclusivo. O governo do império neoliberal desvia a atenção dos pobres norte-americanos utilizando uma mistura tóxica de culto à superioridade moral/cultural/religiosa dos EUA com o sonho da construção de uma alternativa de recomeçar em outro lugar. E a presença dos EUA no Brasil está apenas recomeçando (para desgraça dos brasileiros devemos acrescentar).

Fábio de Oliveira Ribeiro, 22/11/1964, advogado desde 1990. Inimigo do fascismo e do fundamentalismo religioso. Defensor das causas perdidas. Estudioso incansável de tudo aquilo que nos transforma em seres realmente humanos.

Este texto não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN

Fábio de Oliveira Ribeiro

Fábio de Oliveira Ribeiro

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