Irmã Dorothy Stang, presente! Presente! Presente!

Foi assassinada por contrariar poderosos com interesses na devastação da floresta amazônica e expulsão dos povos tradicionais.

Jornal GGN – No dia 12 de fevereiro deste ano completaram-se 15 anos do assassinato da Irmã Dorothy Stang, da Comissão Pastoral da Terra em Anapu, no Pará. A missionária estadunidense, naturalizada brasileira, trabalhou incansavelmente, junto com a Pastoral da Terra, por um modo de vida em consonância com o bioma amazônico. Foi assassinada por contrariar poderosos com interesses na devastação da floresta e expulsão dos povos tradicionais.

A Comissão Pastoral da Terra divulgou nota pública sobre os 15 anos do assassinato de Dorothy Stang e o trabalho por ela realizado na região da Amazônia. Uma nota que é uma homenagem, mas também uma denúncia séria sobre o que acontece na região. Leia a seguir.

Da Comissão Pastoral da Terra – Secretaria Nacional

NOTA PÚBLICA

15 anos sem irmã Dorothy

No dia de hoje, há 15 anos, foi assassinada Ir. Dorothy Stang, da Comissão Pastoral da Terra (CPT) em Anapu, na Prelazia do Xingu, no Pará. Missionária estadunidense, da Congregação das Irmãs de Notre Dame de Namur, naturalizada brasileira, foi pioneira da Pastoral da Terra, nos anos 1970, dedicada de corpo e alma aos camponeses na luta por um modo de vida em convivência com o bioma amazônico. Por isso foi morta, por contrariar poderosos interesses na devastação da floresta e expulsão de suas gentes tradicionais.

Desde então, ainda que estejam presos mandante e executor do crime, a situação na região, como de resto em todo o campo brasileiro, muito se agravou. Fazer memória de Dorothy e sua luta só é possível denunciando esta situação e retomando seu ideal de vida e missão.

De 2015 a 2019, foram registrados 19 assassinatos em Anapu, sete apenas no ano de 2015, em conflitos nas terras sem lei do município de Anapu-PA, vítimas da sanha devastadora do Capital e da omissão do Estado. O acervo da CPT contém dezenas de documentos, cópias de denúncias encaminhadas aos órgãos públicos pelos camponeses e suas organizações, nesses 15 anos, de violências sofridas a mando de grileiros.

A partir dos anos 1980, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) tinha uma série de atribuições e desafios que dependiam da vontade política dos governantes e de que quem estava à frente do órgão para resolver os litígios existentes. Refém de retrocessos legislativos no Congresso, hegemonizado pela bancada ruralista, sem orçamento suficiente, o INCRA arrastou, por anos, processos capazes de resolver as tensões que resultaram nas mortes de camponeses em Anapu e outros municípios da região. O órgão não recuperou as terras da União alienadas a terceiros nos anos 1970-1980, via Contratos de Alienação de Terras Públicas (CATPs) descumpridos, para destiná-las à Reforma Agrária; não superou os empecilhos para a desapropriação de lotes nas Glebas Bacajá e Belo Monte, deixando acontecer a lei do mais forte. Assim, fica impedida a viabilidade dos Projetos de Desenvolvimento Sustentável idealizados por Dorothy e seus companheiros, que combinavam agricultura familiar com preservação ambiental. Trata-se de estratégia decisiva para salvar a floresta e sua gente que a salva.

Estratégia ainda mais prejudicada hoje, com as políticas do atual governo federal, apátrida e entreguista, de abertura da Amazônia à exploração sem freios das riquezas da floresta, inclusive em terras indígenas. O INCRA entregue à famigerada União Democrática Ruralista (UDR) significa o fim de qualquer programa viável de reforma agrária, como sonhava Dorothy.

Não é outra razão para que o Papa Francisco tenha escolhido o dia de hoje para lançar a sua Exortação Apostólica “Querida Amazônia” com as decisões pastorais do Sínodo da Amazônia, ocorrido em outubro de 2019, no Vaticano. O exemplo de Dorothy nos comove e nos incita à continuidade de sua luta, como tem feito o Pe. Amaro Lopes, seu sucessor, perseguido e acusado injustamente. Dizia Ir. Dorothy pouco antes de ser assassinada: “Não vou fugir nem abandonar a luta desses agricultores que estão desprotegidos no meio da floresta. Eles têm o sagrado direito a uma vida melhor numa terra onde possam viver e produzir com dignidade sem devastar”. Sejamos fiel a ela, como ela foi no Caminho de Jesus.

Ir. Dorothy Presente! Presente! Presente!

Redação

1 Comentário

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  1. Eterna reverência à memória de todas as pessoas perseguidas e massacradas por defenderem o direito à dignidade humana e ao equilíbrio ecológico. É tempo de lembrar aos poderosos, aos governantes e aos julgadores que o julgamento maior será feito pelas futuras gerações, à luz dos fatos e da História. O legado de amor e coragem da Irmã Dorothy vive nas pessoas que enfrentam o genocídio predatório.

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