No dia de hoje, 08 de março – Dona Elza Joana, presente!

Em nome da guerreira Dona Elza Joana, elevemos nossos corações e mentes em homenagem a todas as mulheres, mães, filhas, irmãs, amigas e companheiras, que foram tão torturadas pela ditadura militar

do Vozes do Silêncio

No dia de hoje, 08 de março – Dona Elza Joana, presente!

PARA QUE NÃO SE ESQUEÇA, PARA QUE NUNCA MAIS SE REPITA

Em um 08 de março nasceu a gigante Dona Elza Joana. Nasceu mulher no dia da mulher. Mulher que se tornou mãe de um jovem desaparecido e símbolo da luta pela anistia e da busca incansável dos corpos de tantos filhos e filhas desaparecidos.

Teve seis filhos. Joel era um dos mais velhos. A mãe e ele eram os festeiros da família. Adoravam uma roda de samba. Joel era aquele irmão querido que levava as irmãs mais novas nos ombros ao estádio de futebol e a mãe para passear. Não bebia, não fumava. Mas aos 21 anos, ele tinha dois graves defeitos: gostava em demasia de bananada (levava sempre uma mariola no bolso) e fazia resistência civil à ditadura. Foi preso quando distribuía panfletos e entradas para a peça Rei da Vela e nunca mais voltou.

Costureira de mão cheia, dona Elza era especializada em fazer roupas finas de seda pura, que ela mesma criava. Suas roupas eram feitas para as mulheres da alta sociedade carioca, mas ela se vestia do mesmo modo. Estava sempre impecável. E era assim impecável e altiva que ela passou a ir todos os dias na Cinelândia com um cartaz perguntando “onde está meu filho?”

Ela também escrevia cartas todos os dias às autoridades com a mesma pergunta: – onde está meu filho? Onde está meu filho? Onde está meu filho…

Em 1988, quando foi promulgada a nova Constituição brasileira, lá estava ela nas manifestações, com seu modelito moderno e cobrando respostas dos governos democráticos. Respostas que nunca foram dadas. Somente com a Comissão Nacional da Verdade é que veio a confirmação documental da morte de Joel e a notícia de que ele foi enterrado no cemitério de Ricardo Albuquerque, no Rio de Janeiro, mas seu corpo continua desaparecido. Até o momento, sequer foi colocada uma placa naquele cemitério para que a sua família possa ir lá honrar a memória de Joel. E há quem diga que o trabalho dos governos de reparação imaterial às famílias de desaparecidos políticos não precisa mais ser feito.

Em nome da guerreira Dona Elza Joana, elevemos nossos corações e mentes em homenagem a todas as mulheres, mães, filhas, irmãs, amigas e companheiras, que foram tão torturadas pela ditadura militar, que tiveram sua luta ignorada pelos vários governos democráticos em nome de um malfadado pacto. Pacto responsável por elas serem alvo, hoje em dia, de novos e vis ataques à sua honra, à memória de seus entes queridos e à esperança que nunca perderam de viver em um país digno.

  • Elza Joana Vasconcelos, presente!

Este texto faz parte da campanha de divulgação da II Caminhada do Silêncio pelas Vítimas de Violência do Estado e pela Democracia que será realizada em São Paulo/SP, no dia 29/03/2020, no Parque do Ibirapuera. É uma adaptação do texto utilizado por ocasião da divulgação do evento do dia 30 de agosto de 2019, do Movimento Vozes do Silêncio.
Autoria: Eugênia Augusta Gonzaga, procuradora regional da República, mestre em Direito Constitucional e coautora das primeiras iniciativas de responsabilização de agentes da ditadura
Colaboração: Altair Vasconcelos
Fonte: Relatório Final da Comissão Nacional da Verdade, Volume III, páginas 558 a 560.

Redação

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