E vem aí o PMDB sem o P, por Carlos Motta

E vem aí o PMDB sem o P, por Carlos Motta

Agora vai!

O PMDB convocou uma convenção nacional para o dia 27 de setembro visando voltar a adotar seu antigo nome: Movimento Democrático Brasileiro (MDB), sigla que usou de 1966 a 1979, ou seja, durante a ditadura militar.

O MDB e a Arena, a Aliança Renovadora Nacional, eram os dois únicos partidos políticos permitidos pelos ditadores.

Na cabeça deles, que deram o golpe – a “revolução”, como diziam e dizem seus apoiadores – para salvar o Brasil do totalitarismo comunista, democracia funcionava assim: existem os que apoiam incondicionalmente o regime, e os outros que são contra ele, mas contra de maneira educada, com tato, com jeito, para não ofender os salvadores da pátria.

O MDB, resumindo, era a oposição consentida, uma fachada para dar ao Brasil ares democráticos.

Mesmo assim o partido abrigou em seus quadros oposicionistas de verdade, que chegaram até a formar um grupo, os “autênticos”, na agremiação.

Lembro de meu pai, o saudoso capitão Accioly, na Jundiaí de minha juventude, me mostrar nomes que anotou num papel e dizer:

– Esses são os candidatos do PC [o Partido Comunista Brasileiro] para deputado estadual e federal…

Os nomes eram os de Alberto Goldman e Marcelo Gato.

O atual presidente do PMDB, senador Romero Jucá (RR), integrante da quadrilha que se apossou do Palácio do Planalto, há algum tempo defende a mudança de nome. Para ele tirar o “Partido” do nome da legenda vai modernizá-la, o que, é claro, pode resultar em dividendos eleitorais.

Com o seu habitual cinismo, Jucá justificou assim a mudança:

– Estamos resgatando a nossa memória histórica e estamos retirando o último resquício da ditadura dentro do PMDB [ele se refere à inclusão do “P” de partido, uma determinação do regime militar]. Movimento é algo muito mais consentâneo. A gente quer ganhar as ruas, vamos ter uma nova programação, novas bandeiras nacionais e bandeiras regionais.

Mudar de nome não é novidade entre os partidos políticos brasileiros. 

Eles costumam fazer isso quando seus dirigentes percebem que a sigla está desgastada – na cabeça deles partido político é como um produto qualquer a ser consumido pela população, e se as vendas vão mal, o negócio é mudar a embalagem.

A Arena, irmã do MDB, por exemplo, quando começou a ser rejeitada por todo mundo, foi rebatizada como PDS (Partido Democrático Social), que depois virou PFL (Partido da Frente Liberal), que finalmente se transformou no famigerado DEM.

Decisões desse tipo lembram a velha piada sobre o sujeito que não se conformava em se chamar João Bosta e finalmente mudou seu nome para José Bosta.

Mas falando sério: é triste ver no que se transformou, com P ou sem P, um partido que poderia ter sido o principal fiador de uma democracia saudável.

O Brasil precisa de um grande, forte e responsável partido de centro – que obviamente, por motivos mais que conhecidos, não é esse que tem em seus quadros o senador Jucá e tipos iguais ou piores que ele.

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Redação

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  1. Como tudo que se repete, se

    Como tudo que se repete, se repete como farsa: merda do brasil não deixa de ser bom nome para “acomodar” a quadrilha.

  2. Do tempo em que o PMDB tinha pudores e era republicano

    Do tempo em que o PMDB tinha pudores e era republicano

    Em 1982, o PMDB conquistou os principais governos estaduais: Montoro em SP, Tancredo em MG, José Richa no Paraná, e Iris Rezende, em Goiás. No Rio, Brizola levara pelo PDT. O PDS, sucedâneo da ARENA, tonava-se assim o partido dos grotões, conforme definiu Tancredo à época.  

    Além dos governadores, 9 senadores pelo PMDB e 1 pelo PDT; na Câmara, o PDS ficava com 50,27% dos deputados, enquanto que o PMDB com 42,66% e o PDT, com 3,80%. Em 1986, na esteira do “sucesso” do Plano Cruzado, viria nova vitória acachapante.

    No Mato Grosso do Sul, que realizava a primeira eleição pós-divisão do Estado, não foi diferente. A onda oposicionista elegeu pelo PMDB o simpático, bonachão, equilibrado e civilizado Wilson Barbosa Martins, removendo do poder um ícone da ditadura, Pedro Pedrossian, governador nomeado no período 1980-1982. Pedrossian já havia governado o então Mato Grosso, nomeado pela ARENA entre 1966-1971. Voltaria ao governo do Estado, pelo voto, entre 1991-1995.

    O Poder trocava de mãos após mais de 20 anos e o resultado foi o de sempre, o aparelhamento do Estado pelos novos ocupantes do Poder. Os diretórios municipais indicam nomes ao governador, e todo e qualquer cargo da administração pública passam pelas bênçãos do diretório local, do inspetor de alunos/diretor da escola, ao chefe do Detran. Preenchimento por concursos ainda era algo muito distante, a máquina pública era aparelhada, alinhada com o Poder.

    Naquela pequena cidade, que hoje conta com cerca de 25 mil habitantes,  a pouco mais de 200 Km da capital, o diretório local contava com dois presidentes, o de direito e o de fato. O de direito era um pecuarista de porte grande para a época, porém tosco, rude, mal assinava o nome, Xucro, e fora colocado lá pelo presidente de fato, o que mandava, o engenheiro e também pecuarista, o Vivo. O Vivo havia convencido o simplório Xucro a assumir o cargo de presidente do PMDB, provocando a vaidade pelo exercício de tão “importante” cargo, linha direta com o governador, etc. Além disso, o Xucro tinha uma boa capacidade financeira, num momento de precisão o Partido poderia contar com isso.

    E assim, no ano de 1984, o médico-chefe do posto de saúde local pediu demissão do cargo, voltou para a função de expediente de 4 horas, não compensava exercer a chefia e ter de cumprir 8 horas diárias. Incumbia ao diretório indicar um nome para o cargo. O problema: a cidade tinha apenas 3 ou 4 médicos, e nenhum deles se interessava, além disso, teria de ser um “filho da terra”, jamais um forasteiro.

    Não havia alternativa, o Vivo, o que mandava, bateu à porta da então jovem médica gineco-obstetra, que havia chegado há pouco mais de 1 ano, explicou a situação e fez o convite, sem qualquer espécie de contrapartida partidário-ideológica, tratava-se de solucionar um problema emergente, para o qual o governador devotava grande atenção.

    Não havia porque recusar, o convite foi aceito, e após os trâmites burocráticos, deveria apresentar-se ao Secretário de Saúde Estadual, o médico André Puccinelli, posteriormente prefeito de Campo Grande e governador do MS, para receber o cargo.  

     Naqueles precários anos 80, ainda sob ditadura, havia um simulacro de programa social, um dos raríssimos da época, cuja sigla deveria ser algo como INAM, sendo as duas últimas letras “Aleitamento Materno”, e consistia em suplementar a alimentação de gestantes em situação de vulnerabilidade, de fome mesmo. Naquele Brasil dos 80, gestantes desnutridas davam à luz a crianças esquálidas, com poucas chances de sobreviver, devido à precária situação alimentar da mãe, e consequentemente ao aleitamento comprometido.

    Para isso, o Posto de Saúde recebia periodicamente mantimentos (arroz, feijão, fubá, farinha, etc), destinados exclusivamente à suplementação dessas gestantes, para atender ao programa. A seleção era feita pela chefia que atendia pessoalmente todos os casos de pré-natal, juntamente com a assistente social.

    Até que, um dia, um vereador do PMDB começou a rondar o posto. Primeiro, começou com perguntas aos funcionários, e após vários dias de cerco, entrou e foi até a médica e comunicou que “iria assumir a distribuição dos mantimentos, que dali em diante ele passaria a controlar aquilo”, assim na mão grande.

    Aquilo era assunto para o Vivo, a gravidade do caso impunha apelar para quem mandava. Pediu a alguém para ir avisar urgente o presidente de fato do PMDB e chamá-lo para uma conversa (não havia telefone na cidade).

    O Vivo chegou na casa da médica em seguida, com cara de quem já imaginava o que seria. A chefe do posto foi objetiva, duramente objetiva, relatou o caso e deu um ultimato: se aquele vereador continuasse a rondar o posto, ele teria de arrumar um novo médico, largaria o cargo imediatamente.

    O Vivo respirou fundo, passou a mão na cara, e falou:

    — Olha, considere esse problema resolvido, claro que é um absurdo, vou falar com ele, e pedir para nunca mais ir lá, eu resolvo isso, deixa comigo.

    Tirou o chapéu, coçou a cabeça e desabafou:

    — Não estou dando conta de apagar os incêndios, cada dia é uma. E relatou a última, muito constrangido. O chefe do Detran tinha ido até a sua casa aflitíssimo, o Xucro, presidente de direito do PMDB, tinha ido até o Detran, lá jogou o certificado de propriedade da caminhote no balcão e pediu para emitir um novo certificado. Por hipótese, a caminhote era Ano 1981/Modelo 1982, ele queria um certificado novo com uma “ligeira” alteração em que dizia ano e modelo 1982, para ganhar um ano na venda. O chefe do Detran gelou e refugou o pedido, mesmo sabendo das consequências, daí o Xucro, investido das prerrogativas do cargo, passou a exigir aos berros que o Detran fizesse a maracutaia.

    A bronca foi desaguar na casa do Vivo, que atendeu o chefe do Detran aflito e nervoso, que disse: “Seu Vivo, isso é fraude, e depois, se eu fizer essa, qual vai ser a próxima, depois de arrombada a porteira”?

    O Vivo ouviu tudo e pediu um prazo para resolver, pois envolvia muita diplomacia. Foi até a casa do Xucro, e depois de tomar uns dois tererés entrou no assunto. Com muito jeito e habilidade, começou explicando que o rapaz do Detran estava certo, que tinha razão, que eles tinham o dever e a obrigação do exemplo para com o governo que estava começando, que aquele procedimento poderia comprometer o governo do qual eles eram parte, e foi conduzindo a conversa sempre apelando para a moralidade, da coisa certa, sabedor da baixa condição cognitiva do Xucro para não melindrá-lo.

    E contou o desfecho, com uma risadinha muito amarela e constrangida:

    — Depois de eu explicar longamente que o Detran estava com a razão, ele retrucou:

    — Mas então não dá para fazer nada mesmo, Vivo?

    — Então, Xucro, infelizmente não dá mesmo, não tem jeito não.

    E o Xucro, lapidar:

    — Mas então Vivo, então…de que adiantou ganhar a eleição?

    Vivo, finalizando a conversa: “Os companheiros não entendem que a gente pode muito, mas não pode tudo.”

    Moral da história:  1) quando o Haddad referiu-se ao patrimonialismo brasileiro no artigo da Piauí, era sobre isso que estava falando (indistinção entre o público e o privado); 2) Naquele tempo, o PMDB tinha pudor e era republicano, e o André Puccinelli, que hoje ostenta uma copiosa capivara e que em 2009 ameaçou estuprar o Ministro do Meio-ambiente Carlos Minc se voltasse a pisar no “seu” Estado, era uma pessoa civilizada; 3) Como classificar a inocente demanda do Xucro junto ao Detran frente ao que acontece nas madrugadas no salão de festas do lupanar Jaburu’s drink and dancing Privê Club?

  3. Juízo

    Se o PT tivesse juízo, teria mudado de nome e mantido a sua estrutura. Esfriaria o fervor dos ataques e dissociaria as acusações ao partido, relegando-as apenas ao campo pessoal do acusado.

    É uma tática de cunho psicológico até.  Entre um jornalista noticiar que o Fulano de tal do PT, acusado de corrupção e Fulano de tal, do Novo Partido Social (por exemplo) ex-PT,  o público já terá se desinteressado pela notícia e dissociado PT da nova sigla que o representa. Enfraquece o tempo da notícia e a virulência do ataque.

    Já o PMDB está tirando o P do partido, pelas razões óbvias e  em consonância com tudo o que ele  enquanto governo representa.

    O PMDB está tirando os pobres, os pretos, as putas  e  todo   “peso morto” possa atrapalhar o governo.

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