Nildo Ouriques falou sobre a “necessária Revolução Brasileira” na UERJ, por Roberto Bitencourt da Silva

Da esquerda para a direita: Aurélio Fernandes, Nildo Ouriques e Bicalho.
Foto: Roberto Bitencourt da Silva.

Nildo Ouriques falou sobre a “necessária Revolução Brasileira” na UERJ

por Roberto Bitencourt da Silva

O professor da Universidade Federal de Santa Catarina, economista e pré-candidato à Presidência da República pelo PSOL, Nildo Domingos Ouriques, esteve nesta quarta-feira no Rio de Janeiro, para atender compromissos de sua campanha à indicação partidária.

Na agenda, ocorreu evento na UERJ, que foi marcado por uma instigante conferência proferida pelo professor, assim como por um diálogo profícuo com estudantes, professores e ativistas do PSOL e de demais círculos políticos não partidários de esquerda.

Aproveitando o ensejo político-partidário, o evento também correspondeu ao lançamento do livro “Crítica à razão acadêmica – reflexão sobre a universidade contemporânea”, volume 2, da Editora Insular, organizado por Nildo Ouriques e pelo também professor Waldir Rampinelli.

A universidade pública que acolheu a Nildo e aos interessados em sua palestra é um retrato do Brasil e, sobretudo, do Rio de Janeiro. Professores e técnico-administrativos com salários atrasados (4 salários), livrarias fechadas, por motivo de falência, pouca circulação de estudantes, em função de uma greve dos servidores (greve que não merece esse nome, já que não há salários para sequer satisfazer o deslocamento dos funcionários ao trabalho. É mais oportuno chamar de locaute promovido pelo governo estadual).

Um quadro desolador. No banheiro, que apresenta condições lastimáveis de abandono, um rabisco na parede dizia assim: “Estamos em guerra”. Alguém deixou essa resposta: “Foda-se, ninguém liga”. A UERJ absolutamente sucateada pela irresponsabilidade dos governos estadual e federal, pelos projetos deliberados destes governos em destruir a universidade.

Nesse triste cenário, a avaliação do pré-candidato Nildo Ouriques é de que a UERJ “expressa, de maneira mais aguda, o drama da universidade brasileira”, devido às “políticas de austeridade e à guerra de classes imprimida pela burguesia contra o povo”.

Em função dessas medidas adotadas pelo governo Michel Temer (PMDB) e por muitos governadores de estado, como Pezão (PMDB) no Rio, “a única coisa que funciona no Brasil de hoje são os portos para escoar as nossas riquezas para fora”. No mais, segundo Ouriques, “está tudo sendo destruído: segurança, saúde, educação etc.”

Especificamente em relação ao papel a ser desempenhado pela universidade, em consonância com o programa da “necessária Revolução Brasileira”, preconizada pelo psolista, “é decisivo acabar com o academicismo bocó e eurocêntrico da universidade” e orientá-la no sentido de um compromisso em “superar o subdesenvolvimento e a dependência”, tal “como defendia Darcy Ribeiro”, afirmou Ouriques.

A respeito do cenário político nacional mais abrangente, Nildo Ouriques teceu críticas ao perfil de atuação do Poder Judiciário: “É claro que o juiz Sérgio Moro persegue os petistas. Tem alguma coisa nele aí que não gosta de pegar tucano”. Ademais, em sua percepção, trata-se de um “absurdo que a justiça não atue sobre o PSDB, sobre José Serra, um agente do imperialismo dos Estados Unidos”.

Considerando que Moro “é o queridinho das classes médias”, que assinalam “uma crise moral no País”, Ouriques argumentou que tais setores da sociedade brasileira “não entendem que essa crise é fruto das relações sociais do capitalismo”. Na ótica do professor, “vivemos sob o domínio imperialista dos EUA” e a “crise política e econômica traduz uma guerra de classes movida pela burguesia”: com a “supressão da CLT, possivelmente dos direitos previdenciários, o regime da superexploração do trabalho está funcionando a pleno vapor”.

Para Ouriques, o Brasil encontra-se em franco processo de desindustrialização, “aprofundando a dependência e o subdesenvolvimento em níveis nunca vistos”. Nesse sentido, o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, “um sem indústria”, é retrato daquele processo.

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Saiba mais:

– Vídeo da palestra de Nildo Ouriques na Uerj (29/11/2017. Fonte: webpágina no Facebook Nildo Ouriques): https://www.facebook.com/nildopsol/videos/1925097324407397/

– Entrevista com Nildo Ouriques: A “Revolução Brasileira” de Nildo Ouriques.

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Ainda em relação a questões de natureza mais propriamente econômica, Ouriques sublinhou que, desde o Plano Real, o Brasil tem se tornado “uma república rentista”, dotado “de altíssimas taxas de juros”, que têm elevado o endividamento do Estado, estrangulado o orçamento público e a “capacidade de investimento estatal”.

Em sua percepção, o cenário de curto prazo promete a promoção de “um verdadeiro abismo social, com explosões sociais que ocorrerão de maneira inexorável”. Dessa forma, na avaliação do psolista, “o descrédito do sistema político é amplo, envolve a todos os partidos, inclusive o meu partido, que não tem relação direta com isso. Mas, é um descrédito saudável, tá tudo em disputa”.

Ainda de acordo com o pré-candidato, encontramo-nos em “uma hora de alta responsabilidade”: ou a “esquerda ocupa esse espaço ou será a direita. As massas querem preto no branco. A esquerda não pode continuar vacilante. A gente tem que dizer claramente que esse sistema não presta, dizer a verdade, romper com esse sistema”. O petismo, em sua interpretação, sendo “sistêmico, não oferece quaisquer alternativas”.

Sobre eventuais acusações de que a sua bandeira da “Revolução Brasileira” pretende transformar o Brasil em uma Venezuela, Nildo Ouriques destacou que “Revolução não se exporta. É feita pelas massas, atendendo às suas necessidades e particularidades”.

Entre outras propostas que levaria a cabo na hipótese de alcançar a eleição à Presidência, Ouriques afirmou que “precisamos fazer a reforma agrária, a auditoria da dívida, limitar as remessas de lucros do capital estrangeiro, adotar uma política externa efetivamente independente, acabar com a lei de responsabilidade fiscal e promover a integração latino-americana”.

Nildo Ouriques destacou ainda que a “movimentação militante no interior do PSOL”, em torno da sua pré-candidatura à Presidência, “está crescendo pelo País”. A indicação pelo partido será decidida em congresso a ser realizado em dezembro. O pré-candidato Nildo Ouriques concorre com a ex-deputada federal Luciana Genro. Há ainda apelos entre setores do partido pela escolha do líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, Guilherme Boulos.

Roberto Bitencourt da Silva – historiador e cientista político.

 

Redação

8 Comentários

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  1. Nildo Ouriques falou sobre a “necessária Revolução Brasileira”

    salve Brizola da Rede da Legalidade! salve Lula das greves do ABCD! salve a Revolução Brasileira! salve a loucura da lucidez!

    “quando as pessoas perderam completamente a esperança, é o momento em que começam a acreditar nelas mesmas.”

    video: Nildo Ouriques fala sobre a revolução brasileira

    [video: https://www.youtube.com/watch?v=eQOXlLLWj2Y%5D

    1. Doença Infantil

      Aos 18 minutos, Nildo afirma: “O lulismo é uma catástrofe histórica de megadimensões…”

      Esta é uma secção do PSol… a esquerda que a direita adora !

      Alguém já disse que o esquerdismo é uma doença infantil… O pior é que essa doença é contaminante, desagregadora…

      1. Nildo Ouriques falou sobre a “necessária Revolução Brasileira”

        -> a esquerda que a direita adora !

        ->”O lulismo é uma catástrofe histórica de megadimensões…”

        tenho lido intervenções interessantes suas aqui no Nassif. muito além de posições simplórias e reducionistas.

        nos próximos meses vamos entrar num período de intensa discussão política no Brasil. neste sentido, muito parecido com os anos de 1979/1983, quando do nascimento do PT e da CUT.

        vc tem duas opções:

        1. permanecer fechado em sua bolha. será inútil. pois todas as bolhas irão estourar. não restará bolha sobre bolha;

        2. estabelecer um diálogo com quem tem opiniões diferentes. neste caso, com quem considera o Lulismo como uma catástrofe. e sem abdicar de sua própria opinião, ao menos tentar compreender a opinião alheia.

        aos 18’10” do vídeo que postei, Nildo Ouriques afirma categoricamente: “Lula e o petismo, é preciso deixar claro, são forças do sistema.”

        aos 19′ : “políticas públicas como o Minha Casa, Minha Vida que alimentava as empreiteiras, em vez de alimentar as cooperativas de trabalhadores que poderiam fazer aquelas casas por 1/3 do custo.”

        portanto, o Lulismo tem sido a Esquerda que a Direita adora.

        .

         

  2. Discurso forte e muito

    Discurso forte e muito realista do Professor Nildo, colocou o dedo na ferida do PT, e como eu que votei sempre no PT, temos que refletir muito a respeito da política conciliatória que Lula praticou nos seus governos, seus avanços e principalmente seus erros.

    Discordo quando coloca sua posição sobre as acusações a Lula, o sítio e o duplex, tem consciência de que são fabricadas. Fica um pouco obscura a sua posição porque entende que Moro está a serviço da burguesia para a destruição de um líder popular, mas mesmo assim credita a Lula a culpa, por ter sido “conivente” quanto aos escândalos da Petrobras e empreiteiras na Lava a jato. Como ele mesmo, Professor Nildo, colocou é preciso que se diga sempre a verdade, é obrigação de um revolucionário de esquerda dizer a verdade, mesmo que a verdade seja dura, então entendo que culpar Lula se trata de uma posição revanchista, que fortalece a “justiça” da elite dominante.

    Quanto a sua análise histórica dos governos petistas, para mim parece perfeita. Compreende-se que nosso sistema político é de coalização, que é preciso negociar, mas a negociação não significa que se tenha que abrir a mão de princípios fundamentais, como o PT fez.

    E essa política conciliatória praticada por Lula permitiu que as forças sinistras, capitaneadas pelo PMDB, tomassem conta e praticassem a destruição do país.

    Não se pode iludir com as forças da burguesia, são destruidoras e que permitem algum avanço popular apenas quando lhes convêm, na medida em que ou esses avanços se tornam incômodos ou não ganham mais com eles, imediatamente sua máquina entra em cena para devastar as “conquistas”.

    Parece que o PSOL vai ter um embate interessante quanto à questão do candidato à presidência, entre o Prof. Nildo e Guilherme Boulos que está se aproximando do partido e alguns setores o querem, Boulos, como candidato do PSOL.

  3. Esse professor é um fanfarrão

    quando coloca a culpa no Lula pela a corrupção na Petrobras, por exemplo. Esse professor é cego para não ver que a perseguição é só para o PT em nome do combate à corrupção? 

  4. Dúvidas existenciais…

    O PSol continua atacando o PT ?

    Penso que deveria consumir suas energias combatendo Temer, Aécio, STF, Moro, Globo, Itaú etc…

    O PSol está organizando “as massas” para a “revolução” ?

  5. A expressão é do Darcy
    Não sei se o Nildo Ouriques fala isso, mas a expressão “necessária revolução” ou “revolução necessária”, com a qual eu concordo muito, é do Darcy Ribeiro, que a usou diversas vezes, como no livro Os brasileiros Livro I – Teoria do Brasil, Petrópolis: Vozes, 1978, p. 165. Ela inicia o parágrafo abaixo transcrito:
    “A revolução necessária, colocada como tarefa histórica para o povo brasileiro, situa-se, no plano ideológico, como o desafio de amadurecer uma consciência crítica capacitada a compreender a conjuntura em que ela se desencadeará; a formular um projeto nacional realista e motivador de um desenvolvimento pleno, autônomo e auto-sustentado; e apta, ademais, para encontrar a estratégia que permita mobilizar as forças populares para enfrentar a conjura de interesses minoritários que mantêm a nação atada ao subdesenvolvimento. Esta consciência crítica revolucionária que não poderia jamais surgir como um mero produto da criatividade intelectual, está surgindo, forçada pela conjuntura presente que, calando todo pensamento livre como subversivo e reprimindo toda manifestação revolucionária, tornando-a necessária, a está fazendo possível. A melhor demonstração deste fato é a difusão, nos últimos anos, de uma postura crítica virtualmente revolucionária, em amplos setores antes hostis a qualquer mudança. Apesar das prodigiosas máquinas de doutrinação, de suborno e de repressão ideológica montadas para erradicar todo questionamento e qualquer contestação; apesar do domínio estrangeiro, da imprensa, do rádio, do cinema e da televisão, utilizados intensamente para impor ao Brasil uma nova incorporação histórica; apesar também da copiosa produção paracientífica das instituições oficiais de pesquisa.”
    Só espero que o Nildo Ouriques não reincida no erro tantas vezes repetido pelo intelectualidade brasileira: o de querer começar do zero, desprezando as conquistas alcançadas pelos que o precederam, como Lula e Dilma.
    Não faz o menor sentido atacar Lula e o PT.
    Darcy vive, e a realidade parece não ter mudado muito de 1978 para cá.

  6. À Revolução

    Uma “barbeiragem” involuntária da minha cabeleireira acabou deixando meu cabelo liso, ao invés de só baixar o volume dos meus crespos, que eu adoro. Logo os cachos voltam, mas enquanto isso, fica aí uma fotinho de perfil com o novo visual temporário.

    06:15 – 28 de nov de 2017

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