A Petrobrás sendo aniquilada com venda de refinarias

Enviado por Implacável

Por Marcelo Gauto
 
Venda das refinarias Petrobras: decisão boa ou ruim para a empresa e o país?
 
No SINDIPETRO-RS

 

A Petrobras anunciou no início de abril de 2018 que colocou a venda 60 % de participação em quatro das suas refinarias: Refinaria Alberto Pasqualini (REFAP), Refinaria Presidente Getúlio Vargas (REPAR), Refinaria Lundolpho Alves Mataripe (RLAM) e Refinaria Abreu e Lima (RNEST). Essas unidades compõem dois importantes blocos regionais de refino, com REFAP (RS) e REPAR (PR) fornecendo derivados de petróleo para a região sul do país, enquanto RLAM (BA) e RNEST (PE) atendem a região nordeste do Brasil. Com intuito de buscar informações econômicas sobre os ativos a venda, resolvi analisar alguns números dessas refinarias, os quais apresento a seguir.

Reuni dados estatísticos de 2017 divulgados pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), contemplando a carga de petróleo processada, o custo FOB médio do petróleo importado (US$ 344,98/m³), a produção de derivados por refinaria e o valor destes derivados quando importados (considerei que os preços praticados pela Petrobras estão paritários com o produto importado). Utilizei ainda o valor do custo médio de refino, informado pela Petrobras no seu site de relacionamentos com o investidor, que é de US$ 3,00 por barril refinado (US$ 18,87/m³). Assim, cruzando estas informações, montei as tabelas abaixo apresentadas.

A partir das tabelas, observa-se:

– Primeiramente, é importante ressalvar que adotei preços médios, que devem ser ligeiramente distintos em cada um dos mercados atendidos por estas refinarias, mas ainda assim são bastante próximos da realidade;

– Essas quatro refinarias processaram pouco mais de 30 milhões de m³ de petróleo nas suas instalações, o que correspondeu a 30 % do refino nacional de petróleo em 2017;

– Chama a atenção o baixo fator de utilização (FUT) da REFAP e RLAM, o que certamente impacta no faturamento bruto anual; normalmente refinarias do mesmo porte operam a 90 % de utilização da sua capacidade de refino;

– A RNEST é a menor das refinarias do conjunto analisado, razão pela qual apresenta o menor faturamento dentre elas, possui um esquema de refino voltado à produção de diesel e tem potencial para dobrar de tamanho se o 2º trem de refino for concluído (cujas obras foram paralisadas no auge da Operação Lava-Jato);

– Juntas, essas refinarias representam um faturamento anual bruto de R$ 47,5 bilhões (sem impostos, já que utilizei o valor de importação FOB para os produtos); considerei o dólar a 3,30 reais na conversão;

– O faturamento líquido estimado dessas unidades é de pouco mais de R$ 6,0 bilhões, o que está em linha com as principais margens de refino mundiais. O valor é coerente com o apresentado pela Petrobras no seu balanço financeiro anual, cujo lucro líquido do segmento de refino foi de R$ 18,05 bilhões para todo conjunto de suas refinarias.

Se estas unidades já estivessem vendidas em 2017, a Petrobras teria perdido próximo de R$ 3,6 bilhões por conta dos 60 % que não mais estariam com ela. Caso a venda se suceda, a empresa estará abrindo mão de receita futura por conta de dinheiro recebido a curto prazo na alienação de parte dessas unidades. Reduzindo sua receita, porém, como a Petrobras pretende reduzir sua dívida a longo prazo?

Considerando que as referidas refinarias têm mercado cativo e apresentam bons resultados operacionais e financeiros, é um equívoco por parte da Petrobras se desfazer de qualquer percentual delas. A empresa perderá receita e a venda não é justificável financeiramente para a petroleira.

Há que se considerar ainda que o negócio envolve ativos da Transpetro (rede de dutos e terminais) associados às atividades dessas refinarias, o que tornam o negócio ainda pior do ponto de vista financeiro, pois a Transpetro também perderá receita, além de criar regiões com monopólios privados de toda a infraestrutura de refino e escoamento de petróleo e derivados.

Se já é um negócio ruim para a estatal, é igualmente para o Brasil. Hoje, o lucro das atividades da Petrobras e da Transpetro fica no país e é reinvestido pelas estatais majoritariamente aqui. Considerando que a chance de que uma multinacional do ramo seja a provável compradora destes ativos, o lucro acabará, como na maioria dos casos, remetido ao exterior. O Brasil, grande produtor de óleo e gás, está abrindo mão do refino genuinamente brasileiro, de algo que agrega valor e traz recursos ao país.

O Brasil precisa de mais refinarias e infraestrutura logística, segundo a própria ANP sinaliza, e o investimento privado é bem-vindo, necessário e aliviaria o caixa da Petrobras dessa obrigação face seu alto endividamento. Porém, a entrega de refinarias, dutos e terminais estatais que já produzem e operam com lucro é, sem dúvidas, um negócio ruim para a Petrobras e para o país. Para atrair investimento privado no setor bastam regras claras e liberdade de preços para todos os atores envolvidos, inclusive para a Petrobras.

Marcelo Gauto é Químico Industrial, Especialista em Petróleo, Gás e Energia.

Redação

6 Comentários

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  1. A Petrobras é estatal para

    A Petrobras é estatal para prevenir a competencia da justiça federal para julgar os crimes dos possa ter sido vítima mas é empresa privada para não se aplicar a lei de licitações? Alguém pode me explicar?

    1. Alguém pode me explicar?

       Vamos lá:

      A Petrobrás é uma invenção do Getúlio Dorneles Vargas.

      O Brasil virou a “Casa da Mãe Joana”.

      Isto, com o congresso, com os militares, com os paneleiros, com o STF, com tudo.

    2. estatais, Justiça Federal e licitações

        Não sei se ainda vale, mas

       “Súmula 517

      As sociedades de economia mista só têm foro na Justiça Federal, quando a União intervém como assistente ou opoente.”

       http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumarioSumulas.asp?sumula=2054

       Como sabemos, a Petrobras é uma sociedade de economia mista. Quanto à aplicação da lei de licitações nas estatais, é um assunto complicado:

       https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/coluna-do-justen/inaplicabilidade-de-licitacao-nas-empresas-estatais-18082017

       

  2. A Petrobras é estatal para

    A Petrobras é estatal para prevenir a competencia da justiça federal para julgar os crimes dos possa ter sido vítima mas é empresa privada para não se aplicar a lei de licitações? Alguém pode me explicar?

  3. O rapaz que opina às 15:47 é

    O rapaz que opina às 15:47 é desinformado, certamente, suas razões são ideológicas.  A venda de ativos da Petrobras nada tem a ver com a estrutura da empresa., que é uma empresa verticalmente integrada, como poucas na indústria do petróleo. Essa venda na realidade irá desequilibrar esta integração, que certamente não beneficia a empresa. É uma decisão política, que pelas evidências tenta enfraquecer a Petrobras para, por fatias, ir privatizando suas atividades. Não é à toa que está à frente dos negócios da Companhia um homem do mercado, não de petróleo. Um movimento próximo ao que acontece com seus empregados, cujo fundo de pensão PETROS, gerido pela Petrobras, através de seus prepostos, os quais ao longo dos anos produziram déficits técnicos no plano,PÉTROS, mesmo sendo a Petrobras meeira nas contribuições para formação de fundo para prover as aposentadorias ao longo do tempo, e sem nenhum aporte da Petrobras para cobrir o rombo que produziu, está sendo todo cobrado apenas dos empregados  (da ativa e aposentados) cerca de 40% do líquido que recebem mensalmente. Tem sentido? Alguém pode suportar tamanha tunga, verdadeiro confisco, de renda, que se estenderá por dezoito longos anos. Poucos sabem. As federações dos petroleiros, ou não se interessam pelo que acontece com os companheiros, ou não têm forças para denunciar e impedir esse absurdo. Não é incomum numa relação entre desiguais o mais forte, no caso muito mais forte, responder com a maior parte. Esse movimento é no sentido de, com dizem os entreguistas lesa-pátria do Governo, enxugar os ativos da Petrobras, isto às custas também dos empregados.

  4. A Petrobrás….

    Caro sr. Marcelo Gauto, quanto ganha em média um Químico Especialista em Petróleo, Gàs e Energia?  Já é argumento muito mais que suficiente para a manutenção de Indústria e Refinarias sob o dominio nacional. E todas as possibilidades e potencial produzidos por elas. Ainda mais sabendo que no Brasil 93% da população ganha menos que os 4.500 reais de auxilio-moradia de juízes e promotores de justiça. Não dá para acreditar que ainda estamos tendo este ti´po de discussão, e que Especialistas do Setor, tenham que provar por a mais b, a completa imbecilidade e aberração que estamos fazendo, entregando tamanho potencial e soberania nacionais. abs. 

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