Venda do controle da BR é início da privatização da Petrobras, diz AEPET

 
Jornal GGN – A Associação dos Engenheiros da Petrobras afirmou que a venda do controle da BR Distribuidora é “o início do desmonte e privatização da Petrobras”. Em nota oficial, a AEPET disse que as justificativas apresentadas pelo Conselho de Administração da estatal, que seria uma forma de reduzir a dívida de R$ 450 bilhões da estatal, “não se sustentam”.
 
Os engenheiros explicam que o problema da dívida já está sendo resolvido, com extensão de prazos e empréstimos com contrapartida na produção de petróleo. “A Petrobrás tem reservas e novas plataformas entrando em operação, vantagem estratégica na relação com credores e países dependentes de petróleo importado. A recente desvalorização do dólar, com a recuperação do preço do barril de petróleo e a valorização do real já fez mais para a solução da dívida do que a venda de ativos”, publicaram.
 
Além de denunciar o desmonte da estatal brasileira, com o início da venda do controle da BR, a Associação afirma que o “Brasil corre o risco de entrar em novo ciclo do tipo colonial”, diante do cenário de desintegração e a entrega do pré-sal. “O fim do regime de partilha, maximizando a riqueza do petróleo para o Estado brasileiro, completará o quadro, transferindo a propriedade do petróleo para o consórcio das empresas produtoras. Nenhum país se desenvolveu exportando petróleo por multinacionais”, completou.
 
Leia a nota completa:
 
Nota da Diretoria da Associação dos Engenheiros da Petrobras
 

Sugestão de Roberto Bitencourt da Silva

Da AEPET

1. A decisão de venda do controle da Petrobrás Distribuidora (BR), anunciada pelo Conselho de Administração da estatal, é o início do desmonte e privatização da Petrobrás. O motivo alegado é a venda de ativos para redução da dívida da empresa de cerca de R$ 450 bilhões, acumulada por decisões de seu acionista majoritário e controlador, a União Federal, para exportar o petróleo do pré-sal no prazo o mais rápido possível, além de subsidiar o preço dos derivados para controlar a inflação.

2. Dirigentes da companhia afirmam que vender o controle acionário da BR não é privatização. Alegam que a Petrobrás manterá a maior fatia do capital total e que a medida visa maximizar o valor da transação, enquanto os objetivos estratégicos estariam assegurados. É evidente que esses argumentos não se sustentam considerando que é o controlador quem determina a estratégia e a gestão da companhia. Entregar o controle da BR Distribuidora é privatizá-la, não há como garantir que os interesses estratégicos da Petrobrás serão preservados.  O fluxo de caixa futuro será comprometido e a imagem da Petrobras para os consumidores dependerá da gestão de terceiros. O abastecimento de todo o território nacional pode ficar comprometido diante do interesse privado e de curto prazo do acionista controlador.

3. A valorização internacional do dólar, com a consequente queda do preço do petróleo e desvalorização do real, a meta de produção inadequada, a construção simultânea de duas refinarias (RNEST e COMPRJ, sem contar as refinarias Premium do Maranhão e Ceará para exportação de diesel, abortadas na terraplenagem, somadas à ação criminosa de políticos, empreiteiros e executivos de aluguel, além do prejuízo de 80 bilhões de reais pelos subsídios aos combustíveis para controle inflacionário, construíram a dívida atual. 

4. Os seguidos balanços com absurdos valores de “impairment” (reavaliação do valor de ativos), inclusive dos campos de produção, que não estavam à venda, construíram a imagem dos prejuízos contábeis. As grandes empresas internacionais, apesar da queda do preço do barril de petróleo, não fizeram desvalorizações de seus ativos nos níveis praticados pela Petrobrás. Até porquê sabem que este preço oscila. Em 2015 a Petrobrás registrou lucro bruto de R$ 98,5 bilhões e tem mais de R$ 100 bilhões em caixa. No entanto, estes resultados foram transformados em um prejuízo contábil de R$ 34,8 bilhões pela reavaliação de ativos. 

Aliás, é o que os compradores esperam que seja feito – vender ativos em período de baixa – para que os repassem mais à frente com grandes lucros privados e prejuízos da Petrobrás, seus acionistas e o país.

5. O problema da dívida está sendo resolvido com o alongamento de prazos e empréstimos com contrapartida em petróleo a ser produzido. A Petrobrás tem reservas e novas plataformas entrando em operação, vantagem estratégica na relação com credores e países dependentes de petróleo importado. 

A recente desvalorização do dólar, com a recuperação do preço do barril de petróleo e a valorização do real já fez mais para a solução da dívida do que a venda de ativos. A alienação dos ativos fragiliza a integração corporativa, compromete o fluxo de caixa futuro e submete a companhia a riscos desnecessários.

6. Que sentido faz vender a BR, líder no segmento de distribuição, abastecendo o mercado nacional e imagem da Petrobrás diante do consumidor? O mercado interno de distribuição é altamente competitivo com mais de 200 empresas de diferentes portes buscando apenas o filé dos grandes centros urbanos. 

O que dizer da geração de energia elétrica, abastecimento de hospitais, aeroportos e das Forças armadas nos lutares mais distantes? Seriam deixados à própria sorte se não fosse a Petrobrás Distribuidora.

7. A Petrobrás só é forte devido ao Brasil e seu mercado interno e por sua integração do poço ao posto. Do petróleo do pré-sal, passando pelos terminais, dutos, refinarias, distribuidora e postos, há uma rede integrada altamente complexa, cheia de riscos, imprevistos e problemas operacionais que o consumidor não vê ao abastecer seu carro, pegar seu ônibus, ligar seu fogão ou ar condicionado, e ter seu alimento à disposição nos supermercados. 

Imagine-se sem esta energia da gasolina, diesel, gás de cozinha abastecendo com segurança e regularidade o país.

8. Estão vendendo os dutos que distribuem os derivados por todos o Brasil, construídos e utilizados pela Petrobrás. Agora, é a vez da distribuidora e seus postos. 

Com a empresa desintegrada, sua força – fonte de geração de caixa para seus investimentos, descoberta de petróleo e gás, manutenção de suas reservas e produção, de sua tecnologia em águas profundas respeitada internacionalmente – se esvairá rapidamente.

9. Enquanto o preço do barril de petróleo esteve elevado, a principal fonte de lucros era o segmento de produção, com a queda de seu preço, o lucro transferiu-se para o Abastecimento – as refinarias, o transporte e a comercialização – que em 2015 responderam por R$ 46 bi do lucro bruto. Isto significa integração. 

Desintegrada, produtora apenas de petróleo, estaria com sérios problemas de sobrevivência. Durante alguns anos, as refinarias operavam com reduzida margem de lucro, hoje são as principais responsáveis pelo fluxo de caixa da companhia.

10. É o cenário que se desenha para a empresa ao desintegrá-la, vendendo-a em partes e entregando o pré-sal, última grande descoberta disponível para as grandes empresas internacionais e países desenvolvidos para garantirem seu abastecimento. O fim do regime de partilha, maximizando a riqueza do petróleo para o Estado brasileiro, completará o quadro, transferindo a propriedade do petróleo para o consórcio das empresas produtoras. Nenhum país se desenvolveu exportando petróleo por multinacionais. O Brasil corre o risco de entrar em novo ciclo do tipo colonial.

11. Passaremos a importar os equipamentos e serviços, técnicos especializados, plataformas alugadas, gerando no exterior os empregos que faltam aos brasileiros desempregados e frustrados. 

Com o real valorizado pela exportação do petróleo do pré-sal alguns poderão consumir produtos importados a baixo custo produzidos na Índia, China, Taiwan, Cingapura, com mão-de-obra análoga a escrava, sem direitos sociais. Os mais afortunados frequentando Miami e Paris para as compras, drenando os dólares recebidos.

Em seguida, o consequente desemprego, especialmente para o trabalho especializado e qualificado, pela falta de competitividade das empresas brasileiras com a valorização da moeda nacional.

Sepultaremos mais uma vez a chance de ter um país desenvolvido, sem desemprego e menos desigual.

12. Enquanto países como a Noruega constroem seu futuro, usando o petróleo como fonte de recursos para fortalecerem suas empresas, gerando empregos de alto nível no país e depositando os recursos em um fundo para garantir as gerações futuras de seus filhos e netos – afinal a riqueza de hoje não pertencem apenas a eles – nossos políticos, governos e homens públicos preferem torrá-lo em uma festa inconsequente e em viagens ao exterior, garantindo o apoio de seus pares.

A sociedade brasileira não pode permitir que este crime contra o país e a Petrobrás seja levado adiante.

Rio de Janeiro, 25 de julho de 2016

Diretoria da AEPET.
 

Redação

8 Comentários

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  1. “A sociedade brasileira não

    “A sociedade brasileira não pode permitir que este crime contra o país e a Petrobrás seja levado adiante.”

    Os boizinhos com camisa da CBF já deram o aval. E o povo não se manifestou. Vai ser levado adiante !!!

  2. É nesse ponto que a

    É nesse ponto que a “esquerda” converge com o regime militar. Aqueles nacionalistas adoravam estatais que não funcionavam mas rendiam excelentes cabides para apaniguadois. Besteira. Pode vender a BR, pode dar fim na Liquigás, pode privatizar a Transpetro. A ativifdade da Petrobras é produzir gaz. Essa sede de mercado, essa verticalização só beneficia a ineficiência e a corrupçãp. Esses sindicalistas não falaram nada qdo a empresa estava sendo saqueada. Foi roubada porque diretores incompetentes permitiram. Eram cegos; como o Conselho de Administração. No futuro terá que ser privatizada.

    1. Ser nacionalista é ruim?
      Para mim ser nacionalista é antes de tudo um dever e um direito.
      A BR distribuidora de sem paga um papel equalizador em um mercado abocanhado por gigantes multinacionais nenhum compromisso têm com o Brasil e os brasileiros.
      Deve ter memória curta, pois quando a BR era pequena, as gigantes como Shell, Esso, Texaco, faziam cartel e sufocava os distribuidores e exploração os consumidores. A BR veio equilibrar esta relação.
      Petróleo e combustíveis é parte da Geopolítica das grandes potências e só inocentes ou idiotizados podem comparar com simples produtos de consumo, como um lapis, uma bolsa.
      Os EUA podem vender a ideia privatista a vontade, pois as grandes empresas são em sua maioria de lá e eles exercem um rígido controle estratégico sobre estes produtos, não na distribuição, mas nas ações Geopolíticas, inclusive militares.
      Veja o estudo disponível na Escola de Guerra Naval -Defesa do Ouro Negro da Amazônia Azul. http://www.defesaaereanaval.com.br/literatura-a-defesa-do-ouro-negro-da-amazonia-azul/

      1. Não necessariamente

        Falo do nacionalismo exacerbado e fundamentalista. Aquele que não reconhece que o Estado é um péssimo gestor da empresa pública. É por isso que a Petrobrás vem se esfarelando ao longo dos ultimos 30 anos. O Governo não vê, não enxerga. E ainda por cima cima põe uma Dilma no Conselho e uma Dona Maria das Graças Foster na Presidencia. Ao inves de diversificar tinha é que ter refinarias para processar nosso petroleo pesado. O que faz? Importa.

        1. não necessariamente…

          O Estado é pessimo gestor da empresa pública? Não!!! O Estado é péssimo gestor e só. Mudemos o “Estado”, expurguemos os incompeentes. 

    2. E nesse…

      Somente um imbecil pode ter a “galinha dos ovos de ouro” na mão e querer vendê-la para comprar um “rango”, porque ovo de ouro não se frita. Ou pior querer fazer uma canja. Não é possível que tehamos uma sociedade tão rasa, discussões tão medíocres e inúteis. De um lado uma face da esquerda tão incompetente, que quer vender patrimônio, soberania e o futuro do país garantindo-se em associações com interesses estrangeiros e estranhos à nossa terra, escondendo suas fortunas em futuras ações ao portador de estatais que já se tornaram S/A’s. Na outra face desta esquerda incompetente, o uso politico de tamanha empresa, gasto em ações ridiculas que deturparam a função de tamanho patrimônio, dilapidaram, destruiram sua base profissional e competente tornando-a cabide de parasitas politicos. Era só usar tamanho potencial, permitir que gerasse hecatombes de dinheiro e capital, gerir rios de impostos das suas atividades, utilizar o seu enorme potencial industrial na criação de milhares de empregos, profissões e tecnologias. Impulsionar outras milhares de empresas satélites atreladas à poderosa gravdade gerada pelo seu gigantismo.  Manter preços estáveis e baixos de combustíveis no mercado nacional, que reduziria o custo de vida e as despesas de todo setor economico. Um circulo virtuoso em toda cadeia produtiva através de fontes, produtos e empresas genuinamente nacionais, gerenciadas a partir de nossos interesses. Por que sendo donos da maior petroleira do planeta, a gasolina não podia custar R$1,50/ l.  Por que o alcool, subproduto da garapa fermentada, processo que pode se feito até em fundo de quintal, em alambiques caseiros, não poderia na pátria da cana, custar R$1,00/ l? Pobre país limitado. Um mendigo sentado num baú de ouro.  

  3. Por qual razão a AEPET e

    Por qual razão a AEPET e outras com conhecimento não lançam um vídeo explicando via tv? 

    Enviem aos partidos para colocarem o material explicativo para que postem, e que os partidos abram mão antes, no video, de seu horário para postar matéria relevante. Nada impede.

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