Planos de saúde de baixo custo. O pior de dois mundos, por Rogério Maestri

Proposta do governo interino pode aumentar judiscialização do sistema de saúde dando origem a sérios problemas para pacientes, operadoras e judiciário

por Rogério Maestri

Dentro da lógica do governo interino o ministro de saúde escolhido por Temer é o Sr. Ricardo Barros, que devido a sua vinculação com as companhias que operam planos de saúde propõe da criação de convênios com preços mais acessíveis, que segundo este iria desafogar o Sistema Único de Saúde sem que o governo Federal precisasse desembolsar mais dinheiro que é utilizado na sua maior parte para pagar os rentistas do país com as mais altas taxas de juros do mundo, o Brasil.

Pois bem, pretende o senhor é criar o pior de dois mundos, o mundo da medicina totalmente privada e o outro da pública. Os planos de saúde, segundo o senhor ministro, teriam reduzidas as suas obrigações com os pacientes que tiverem procedimentos mais caros, ou seja, estes continuariam ainda com o SUS não desafogando em nada o custo do sistema.

Porém, além de não desafogar o SUS e só dar dinheiro as operadoras, estes planos serão certamente focos de uma judicialização incrível do sistema de saúde dando origem a sérios problemas tanto para os pacientes como para as operadoras e o judiciário.

Imaginem os senhores o seguinte cenário, na hora da venda do plano o vendedor, que não é um médico assim como o comprador, entregará o primeiro ao segundo um contrato em que aparecerão em letras pequenas o que o plano atinge ou o que o plano deve atingir.

Lá no contrato, com o nome médico específico, constará que o plano não cobre alguma doença grave e que exige intervenções e tratamentos caros, não estará no contrato que não cobre ou cobre “nó nas tripas”, assim como várias denominações de doenças comuns, porém de tratamento caro, que estamos sujeitos nas nossas vidas.

Agora o que certamente acontecerá quando o paciente com o seu plano econômico chegar a uma unidade de saúde particular. Primeiro, várias delas não aceitarão este plano, pois com os problemas causados por estes será melhor perder algum dinheiro do que arrumar um grande problema. Mas vamos dizer que o paciente chegou numa que ainda aceitasse, ele entra o médico examina e pede uma série de exames, no setor de marcação o cliente terá a informação que parte destes exames não cobertos pelo plano e que deverá deixar na marcação um mês de seu salário para pagá-los.

Fazendo uma vaquinha junto a família o paciente consegue realizar os exames, e pode haver uma conclusão, é necessário uma intervenção cirúrgica que o plano não cobre! Segundo problema desta vez sem solução, o hospital exige uma calção que nem com vaquinha familiar atinge o custo da intervenção. Na melhor das hipóteses o paciente entra numa fila do SUS, voltando a etapa zero, consulta, marcação de exames, diagnóstico e realização do procedimento. Como o SUS será esvaziado, o prazo para isto será postergado uns dois ou três meses (na melhor das hipóteses) e o paciente ou vira defunto neste tempo, ou será depois de seis meses atendido pelo Sistema.

Agora vamos a outro cenário com maior possibilidade do tumulto, o médico que teve o primeiro contato, por qualquer motivo, faz um primeiro diagnóstico que o plano cobre, ele baixa no hospital, fazem o exame e dizem para o mesmo:

– Infelizmente teu plano não cobre esta doença, solicitamos que abandone nossas dependências no dia de hoje!

Ou ainda pior, mandam o paciente para a sala de operações, e como os exames para diagnóstico foram diminuídos abre-se a barriga do vivente e descobrem que o quadro era muito pior. Que farão os médicos? Fecham a barriga e transferem para o SUS? Ou continuam com o procedimento que não será pago para a operadora de baixo custo.

Daí por diante teremos variações sobre o mesmo tema, mais e menos trágicas, porém o foco para conflito será permanente, e provavelmente assim como existem os famigerados advogados de porta de cadeia haverá os advogados de porta de hospital.

A situação será um conflito diário e interminável, conflitos bem mais sérios que temos atualmente com as famosas telefônicas privatizadas. Com desdobramentos bem mais trágicos, pois não se trata de perder uma linha telefônica, mas sim de uma vida.

Alguém pode dizer que este sistema funciona nos Estados Unidos, entretanto a justiça norte-americana, bem menos patriarcal que a brasileira, vive artolada de ações contra estes planos e o consumidor norte-americano sabe que quando está contratando um plano barato está contratando uma porcaria que não servirá a nada.

Ou seja, criar-se-á um foco de conflitos que somente advogados e apresentadores de TV popular sairão ganhando judicializando ou mediatizando a desgraça alheia.

Redação

6 Comentários

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  1. excelente colocação…

    e para os grande hospitiais também será um caos

    já existem alguns muito baratos, onde tascam lá no contrato a tal picaretagem da “emergência 24 hs” sem mais detalhes

    E EM LETRAS MIÚDAS “só vale, ou só cobrimos, atendimentos em salas de emergência”

    maioria está sob investigação por conluio entre donos de planos e hospitais

    ( atende e manda internar imediatamente sem deixar de informar que não cobrirão mais nada com a saída da emergência )

  2. detalhe…

    as emergências dos Estados Unidos são bem diferentes das nossas, são excelentes, não são só para triagem

    e já temos triagem por aqui em grandes hospitais particulares

    tudo e todos realimentando o caos

  3. O post descreve com algo que

    O post descreve com algo que é comum nos EUA. Além dos problemas descritos o que ocorre frequentemente é que os hospitais acabam prestando os serviços aos pacientes mesmo qdo a cobertura é negada pelos planos de saúde, mas declaram os serviços prestados ao paciente como “serviços de caridade” ao imposto de renda americano, e tem parte desse valor descontado dos impostos devidos ao governo federal.
    As diárias e despesas de um hospital nos EUA sao altíssimas e pouco controladas; há denúncias de que os hospitais aumentam artificialmente os custos dos serviços prestados para recuperar o dinheiro atraves de descontos nos impostos federais.

    No final, os custos são arcados pelo Estado e pela cidadania. Os únicos que lucram nessa história sao os planos de saúde.

    Os brasileiros fariam melhor mantendo um sistema publico e universal de saude como o SUS.

     

  4. O  + Médico que tudo que

    O  + Médico que tudo que oferece é uns dois médicos para consultar e  bloco de receita, é um dos maiores sucessos do mundo. Portanto, um plano que oferecesse apenas consulta uma vez por ano, aos custo de R$ 10 mês, já salavaria milhões

    1. Isto não é caro para o Sistema de Saúde, agora um transplante de

      Isto não é caro para o Sistema de Saúde, agora um transplante de qualquer coisa (salvo córnea) é uma fortuna.

      E por que transferir o dinheiro da saúde para pagamento de juros?

  5. Alguem sabe por que os planos

    Alguem sabe por que os planos de saúde não oferecem um plano que só cobrisse as despesas de internação ?

     

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