Uma saída para o custo dos planos de saúde, por Luis Nassif

Um dos grandes vícios do modelo privado de planos de saúde já tinha sido antecipado há décadas pelo grande Adib Jatene. Há muitos avanços tecnológicos no setor de saúde. Desenvolvem-se máquinas sofisticadas e o usuário tende a se tornar um consumidor ávido de todas as geringonças, mesmo que não sejam essenciais para diagnósticos.

Criou-se uma dinâmica perversa. Os médicos são induzidos a exagerar nos exames de diagnósticos. Se você vai a dois médicos, em curto espaço de tempo, é possível que cada um peça exames similares aos que já foram pedidos.

Esse modelo consumista gerou dois vícios recorrentes.

Do lado dos usuários de planos privados, o exagero nos exames de diagnósticos, com encarecimento brutal dos planos de saúde. Do lado dos usuários do SUS, a ideia de que são submetidos a um atendimento de segunda linha.

Aliás, é interessante ouvir a opinião dos grandes médicos do Sírio Libanês sobre o tratamento prestado a Bolsonaro, pela Santa Casa de Juiz de Fora, assim como o tratamento prestado décadas atrás a Osmar Santos pela Santa Casa de Lins. Em ambos os casos, tratamento irrepreensível. No caso de Osmar Santos, houve uma jogada oportunista do neurocirurgião José Roberto Pagura, desqualificando o atendimento em Lins, para poder se apresentar como o salvador milagroso de Osmar.

Agora – segundo reportagem de O Valor – o plano de saúde Amil fechou com o Hospital Sírio Libanês um contrato nos moldes do modelo inglês de “capitação”. Em vez de pagar por cada paciente, a Amil e o Sirio acertaram um valor fixo. Caberá ao Sírio administrar seus custos. Para evitar sub-tratamentos, foram definidos 15 indicadores de eficácia a serem respeitados.

Nos anos 90, com a ajuda de leitores, e explorando as facilidades dos e-mails, propus um desafio sobre modelos de saúde, recebi várias contribuições que se transformaram em uma série na Folha. Série, aliás, que serviu para informar Serra do básico, quando se tornou Ministro da Saúde.

Uma das propostas mais inteligentes era o modelo inglês de saúde – que nem Margareth Thatcher ousou mudar. Criou-se a figura do médico de família, que administrava um fixo, de acordo com o número de pessoas assistidas. Cabia a ele negociar com os planos de saúde e laboratórios, operando como controlador de custos.

Por aqui, consolidou-se a figura do médico de família para atendimento dos pacientes pobres. Mas o universo atendido pelos planos de saúde ficou ao relento. Com o acordo Amil-Sirio é possível que o setor caminhe para uma racionalização maior.

 

Luis Nassif

6 Comentários

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  1. Logo se ve que nao usa plano de saude
    Convido a visitar o hospital da unimed em Joao Pessoa, no pronto atendimento. Parece o SUS

    Alias nao parece, eu diria que é pior. Tive a infelicidade de apendicite e o plantonista não estava, não foi, fiquei 12h lá até chegar o outro plantão, fiz cirurgia supurada devido a demora.

    Veio a crise e perdi o plano. Minha esposa teve uma crise de rins, fomos a um hospital público, em menos de 1h fomos atendidos sem maiores problemas

    Nao sei se chegaria a uma cirurgia de emergência nem se prestaria. Espero não precisar

  2. Existe um problema nessa

    Existe um problema nessa logica: talvez aqui deixem de fazer os exames que seriam necessários em alguns casos para manter a meta de lucro e dai receber bonus dos planos de saude… nao sei o que é pior…

     

    o problema nao esta no modelo mas sim em quem o executa

  3. Esse sistema só resolve o

    Esse sistema só resolve o problema da Amil, ao transferir o risco que seria dela para o prestador direto (no caso o hospital). Com isso, o lucro da Amil fica garantido o hospital que se vire para bancar os custos, e ainda tem a responsabilidade civil/criminal no meio. Esse discursinho dos planos de saúde é velho conhecido nosso, e vem levando a um progressivo sucateamento de toda a rede hospitalar privada no brasil, enquanto os planos de saúde aumentaram os lucros em 60% de 2015 para 2016. Seria bom se aplicar aqui o raciocínio da Mariana Mazucatto (The value of everything). Dentro da cadeia da saúde, a indústria e os hospitais produzem valor, mas os seguros saúde meramente transferem valor de um lado para outro (preferencialmente o lado deles). Não achoq que haja uma saída fácil dentro de qualquer sistema onde a saúde seja tratada como mercadoria (e mesmo o setor púbico está subordinado ao mercado, uma vez que é deste que veêm todos os insumos).

     

  4. Tem muito plano de saúde que

    Tem muito plano de saúde que é uma suprema enganação. Eu tenho orgulho de trabalhar no SUS. Levo minha esposa

     num plano privado e digo a ela que é um SUS de fresco. É igual ao SUS, só que o povo que usa é um pouco mais educado,no resto é igual , filas ,  demora, burocracia,

    O SUS atende ambulatorialmente 2,8 bilhões de pessoas por ano. Significa que se apenas 1% dos atendimentos gerar  uma reclamação serão 28 milhoes de reclamações/ano .Estou falando apenas de atendimento ambulatorial.

    Que empresa que atua nesta escala não tem reclamaçoes ? 

     Eu não estou falando que o SUS não tem problemas. É evidente que tem, mas ainda assim o SUS é uma mãe carinhosa que procura atender as demandas de todos os seus filhos que são muitos.,

    O SUS tem problemas de gestão, politicos, corrupção mas o maior defeito é o tipo de medicina que é praticado.

    A medicina implementada no SUS é curativa, por isso é cara. Só para refrescar a memória , a Hillary Clinton  teve a função de diminuir os custos de saúde nos EUA. Parece que teve algum sucesso, mas se os EUA que tem um  pib 18,57 trilhões dez vezes maior que o nosso tem problemas com os custos de saude imagina a nossa situação.

    Na China a medicina é preventiva . No primeiro nivel, os Chás e o Tai chi Chuan, no segundo nivel tem a Acupuntura e o Moxabustão e  no terceiro nível a nossa medicina  curativa que eles chamam de medicina invasiva.

    No livro  de medicina do Imtperador Amarelo está escrito:

    ¨O Médico tem que se preocupar com os pacientes sãos porque os pacientes que estão doentes não tem disciplina e quem não tem disciplia, não merece viver¨.

    Claro, custo e grosso

    Se eu falar isto para um paciente , no hospital ,no mímino vou receber uma série advertência por falta de humamanidade. 

    Mas qem quer discutir modelo de saúde?

    Políticos ? Mécicos ? Farmacêucicos Bioquímicos? Laboratórios farmacêuticos ? Fabricantes de equipamentos hospitalares?l

    Deixa pra lá, é utopia e não dá dinheiro

  5. Proposta

    Proposta: continuar a construção de uma estrutura pública de saúde, integral, eficiênte e universal. Cortar os subsídios governamentais para o sistema de saúde privado, suprimindo as deduções, no imposto de renda, de despesas médicas e de planos de saúde. Destinar o valor obtido, com o corte destes subsídios, ao sistema público de saúde. 

  6. Médico de família.
    O médico de família é uma solução, mas há outras que dependem dos usuários, como exemplo ir às consultas agendadas; ir buscar os exames solicitados; não emprestar a carteirinha para terceiros.
    Mas o principal é a má intenção, a premeditação em se ter cobertura para algo que sabe que tem carência, contudo o beneficiário assina contrato e logo depois aciona a justiça querendo determinado procedimento que sabe ter carência.
    Sei disso porque negócio planos de saúde, e como exemplo uma senhora veio me pedir informações sobre os preços, e como é de praxe informei sobre as carências de preexistencias, pois ela me disse que queria uma cirurgia bariátrica, e ao informá-la que são 720 dias ela disse não se importar, pois depois de assinar entraria na justiça, e segundo ela o juíz que atendesse sua liminar aprovaria a cirurgia. E é verdade!
    Todos os pedidos de luminares são aprovados pela justiça, mesmo havendo na ANS a informação de que há carências.
    Ela saiu da sala sem deixar o número de contato e deve ter fechado com outro sem informar sua intenção.
    Resultado disso?
    Os novos contratados pagarão a mais para terem seus planos e os reajustes serão altos.
    Não estou defendendo as operadoras, mas estas são empresas que tem funcionários e querem lucros, assim como a de muitos que leram está matéria.
    Creio que deve ter um meio termo para que as operadoras melhorem seus atendimentos e com preços menores, mas os beneficiários também tem que terem participação.

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